quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Edifício Verde do Museu Marítimo

O "Edifício Verde", no Largo do Pagode da Barra, onde foi inaugurado, em 1987, o Museu Marítimo de Macau (fotografia de Maio de 2010)


Data de 1919 a primeira iniciativa de criação de um museu dedicado às actividades relacionadas com o mar. Artur Leonel Barbosa, que na época desempenhava funções de Adjunto do Capitão dos Portos de Macau, organizou o acervo inicial do Museu Marítimo e de Pescarias, que "constava de diferentes tipos de redes de pesca, alguns modelos de pangaios de Timor existentes no Museu Luís de Camões, e diversos modelos de embarcações chinesas, que tinham estado na Exposição de Paris, em 1900, e se encontravam então depositados no Liceu"*. 
Inicialmente instalado numa sala do edifício da Capitania, o espólio do Museu Marítimo e de Pescarias foi transferido, em 1934, para um hangar da aviação naval situado no Porto exterior. Todo este espólio seria destruído durante o bombardeamento de 16 de Janeiro de 1945.

O Museu e Centro de Estudos Marítimos de Macau é criado em Março de 1987. Iniciativa do Comandante António Martins Soares, o Museu foi inaugurado no dia 7 de Novembro de 1987, no "edifício verde" situado no Largo do Pagode da Barra. Em 1990 foi inaugurado o novo edifício, localizado no mesmo largo e o "edifício verde" transformado em Edifício Administrativo do Museu Marítimo.


* Manuel Bairrão Oleiro e Rui Brito Peixoto, Museu Marítimo de Macau. Edição do Museu Marítimo de Macau, 1992

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Espírito Protector da Cidade

Kun Iam Ku Miu ou Kun Iam Chai (Pequeno templo da Deusa Kun Iam).
Macau, Agosto de 2009


"A pequena capela de Seng Wong foi construída num terreno da Família Sam, originária de Fok Kin, uma das famílias fundadoras daquela aldeia, que a história sempre deixou apagada.  Porém, foi nesse pequeno aldeamento que se desenrolaram factos da maior relevância e se urdiram várias conspirações, que o seu isolamento favorecia.
Não se procure, porém, Seng Wong, o Espírito Protector da Cidade de Macau, no templo de Kun Iam anexo à Bonzaria, um dos cartazes turísticos locais. Procure-se, sim, mais adiante, na capela anexa ao Kun Iam Ku Miu, o mais antigo dos templos chineses daquela velha aldeia, segundo consta dos velhos chôk pou das famílias de alguns dos seus fundadores. O Kun Iam Ku Miu, conhecido também por Kun Iam Chai, pela sua modéstia em relação ao Kun Iam Tong, foi erigido antes da chegada dos portugueses, segundo é tradição popular, sobre três tijolos que abrigaram primeiro uma imagem de Pou Sat toda Misericordiosa, a que ouve todas as preces - Kun Iam, a Nossa Senhora dos chineses budistas. Esta imagem foi encontrada a boiar nas águas do rio nos fins da dinastia Song ou nos fins da dinastia Un por crianças que guardavam cabras, perto do local onde hoje se ergue o Lin Fong Miu. A lenda, que a tradição oral e os chôk pou fizeram perdurar, assim o conta.
E Seng Wong? Sen Wong foi entronizado mais tarde. Segundo alguns informadores, a sua capela apenas foi construída nos fins do século XVIII, quando Macau, reconhecida cidade pelas entidades chinesas, passou a ter um mandarim que se instalou em Mong Há, embora sejam muito mais recentes as lápidas com os nomes dos beneméritos que promoveram a sua beneficiação, se não reconstrução, na segunda metade do século XIX.
Nessa altura, como era habitual em todas as cidades chinesas, a estátua de Seng Wong tornou-se indispensável à harmonia, ao bem estar e... à consciência dos magistrados locais.
Seng Wong não é uma divindade como Kun Iam ou como Kuan Tong, por exemplo. Seng Wong, tal como Tou Tei - o guardião tutelar do solo, de cada localidade, de cada sítio -, é uma entidade abstracta e plural. Cada cidade tem o seu espírito protector, só dela, a quem, dantes, todos os anos, se prestava homenagem, com mais ou menos luzida procissão, acompanhada de ruidoso estralejar de panchões.
O nome desta entidade tutelar significa, aliás, literalmente, Rei da cidade muralhada, sendo o muro ou o fosso os limites impostos às grandes cidades chinesas para sua defesa contra as frequentes incursões de exércitos inimigos ou simplesmente de piratas.
O Imperador de Jade, entidade criada pelo tauísmo popular e equivalente ao Soberano Celestial da velha teologia da China Arcaica, que se perde na aurora da sua civilização, teria criado magistrados seus para protegerem as diferentes cidades, servindo como juízes imparciais dos seus moradores." 
Capela de Seng Wong no Kun Iam Chai (Agosto de 2009)
(...)
"Em meados do século XX havia, ainda, na pequena capela de Seng Wong, um belíssimo ábaco em pau-preto, que é um dos emblemas das capelas que são dedicadas a esta divindade, pois pertence à imaginação popular a crença de que é com este instrumento que o magistrado celeste contabiliza as boas e más acções dos moradores seus súbditos."
Capela de Seng Wong no Kun Iam Chai (Agosto de 2009)
(...)
"Com a retirada do Mandarim de Macau, em meados do século XIX, e com o passar do tempo, o papel de Seng Wong como magistrado celeste foi-se apagando e já nos anos 60-70 era, apenas, uma divindade como tantas outras com que os tauistas povoaram os templos da cidade e a quem os devotos budistas iam  pedir principalmente paz, saúde, riqueza e êxito no negócio.
A capela estava, naquela altura, relativamente abandonada e Seng Wong bastante esquecido. No entanto, havia sempre alguém que ia pedir-lhe justiça e acender pivetes em sua honra, quando acabava por perder a crença na integridade dos juízes terrenos. E Seng Wong parecia sorrir ironicamente do alto do seu nicho de talha, onde o ouro perdera já o brilho, como bom conhecedor dos homens e... da cidade."
Ana Maria Amaro. "O Espírito Protector da Cidade". Revista MacaU, nº 16 de Agosto de 1993

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Long Mou, a Mãe do Dragão

Long Mou, a Mãe Dragão (à esquerda) e Choi Pak, o deus da prosperidade e riqueza, no  Fôk Tak Chi ou Tou Tei Miu (Templo da Felicidade e da Virtude), na Rua da Barca de Lenha.


Long Mou, a Mãe Dragão, a deusa que todos ouve e todas as preces concede, excepto os pedidos de riqueza. A seu lado, Choi Pak, o deus da prosperidade e distribuidor da riqueza. Prosperidade e Riqueza. A este propósito, comenta o Padre Teixeira*: "Quem dirá que os chineses não são espertos? Estes dois deuses completam-se um ao outro (...)".

A deusa Long Mou ou Mãe do Dragão, adorada pelos pescadores e padroeira do Rio das Pérolas, ganhava a vida a pescar no rio da sua terra natal, Yuet Shing. Um dia encontrou um grande ovo, que decidiu chocar. Nasceu um dragão, e Lou Mou foi chamada à corte imperial para relatar o acontecimento. Mas, a viagem era longa e cansativa e Long Mou saudosa da sua terra resolveu regressar. Surge-lhe, então, o seu dragão alado que a transportou no seu dorso até à corte.

O templo que acolhe a Mãe Dragão fica situado na Rua da Barca da Lenha. Dedicado a Tou Tei, o Deus da Terra, é constituído apenas por uma pequena capela, com um mesa sobre a qual se encontram os perfumadores de pedra e as jarras de flores. 


* Padre Manuel Teixeira. Pagodes de Macau, 1982.