sábado, 29 de janeiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os primitivos Bombeiros de Macau

(1) Pá de vime e balde de areia 
(2) Chapéu de bombeiro, em bambu, do século XIX 
(3) Bomba manual de fabrico chinês pertencente à população da vila de Coloane, que se encontrava colocada no templo de Tin Hau (em Coloane) e cedida à corporação pela Associação de Beneficência "Quatro Pagodes".



Os Primitivos Bombeiros de Macau 
"Há umas poucas dezenas de anos, esta cidade ainda não possuía um serviço de incêndios mantido pelo Estado e, por esse motivo, os predecessores dos actuais bombeiros não faziam parte duma organização centralizada.
(...)
Nessa época, cada rua tinha de concorrer para a manutenção dum grupo de bombeiros, que aguardavam em suas casas uns metrozinhos de mangueira, uma agulheta e uma bomba de incêndio, que consistia em uma caixa que se deslocava sobre duas rodas, tendo, num dos lados, um rudimentar maquinismo que servia para comprimir a água.
Quando fosse preciso fazer trabalhar esse precioso engenho ia-se buscar água, aos baldes, nos poços ou no mar e, uma vez lançado para dentro da caixa-reservatório, o líquido extintor era comprimido pelo maquinismo, que era, por sua vez, accionado à força dos músculos de vigorosos mocetões.
(...)
Nesse tempo, existia uma combinação táctica entre os bombeiros e a população da cidade. E assim, logo que fosse dado o rebate, saíam todos os bombeiros dos seus alojamentos e o grupo que chegasse primeiro, através do dédalo das ruelas da velha cidade, recebia, como recompensa dos seus esforços, um magnífico leitão assado e dois almudes da melhor aguardente chinesa, custeados entre os moradores da rua vitimada pelo sinistro.
Ora, o grupo mais afamado era o da fábrica de tabaco Tchu Tch'éong Kei, que mantinha um grupo  privativo com o seu respectivo equipamento, o mais completo possível, pois necessitava de se prevenir contra qualquer incêndio dentro da fábrica, cujo negócio era enorme.
(...)
Assim que fosse dado o sinal de alarme, quer de noite ou de dia, esses valorosos mocetões saltavam imediatamente das suas camas e, num abrir e fechar de olhos, fazendo repercutir com estrépito nas pedras das vielas os seus sapatorros, chegavam ao local do desastre, no meio dum ensurdecedor estrupido de rodados e de brutais imprecações, pondo toda a rua alvoraçada numa convulsão de actividade e, em alguns minutos, dominavam, com presteza sem igual, qualquer abrasamento por mais violento que fosse.
Por esse motivo, quando acontecia uma calamidade desta natureza, os ânimos pusilânimes dos moradores da rua, onde se manifestava o sinistro, só se asserenavam com a chegada do grupo da fábrica Tchu Tch'éong Kei. Então, alijados do receio de o fogo se alastrar, devastando as suas casas, exclamavam jubilosos: - "Já não há receio! Já chegou o grupo de Tchu Tch'éong Kei!".
E assim, não consta que nesse tempo algum outro grupo tivesse conseguido conquistar mais porcos assados e almudes de aguardente chinesa do que esse famigerado punhado de bravos, cujos componentes caprichavam em se excederem uns aos outros, em denodadas dedicações e nobres lances.
(...)".
Luís Gonzaga Gomes. "Os Primitivos Bombeiros de Macau". Macau, Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau, 1994

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chunambeiro

O antigo passeio marginal na área do Chunambeiro. Macau, 2011

Chunambeiro

Área do Chunambeiro. Macau, década de 1890.
Colecção Fotografias Antigas de Macau, Edição do Museu de Macau e Instituto Cultural de Macau, 2009

Chunambeiro: área onde se situou a fundição de canhões de Manuel Tavares Bocarro. 

"(...) a fundição de artilharia portuguesa parece ter-se iniciado em 1623, com a chegada à povoação luso-chinesa de D. Francisco de Mascarenhas, primeiro governador nomeado pela Coroa portuguesa para aquelas partes, pois em Outubro desse ano era celebrado um contracto com fundidores chineses para o fabrico de artilharia  de ferro. Manuel Bocarro terá chegado a Macau nesta conjuntura, em 1625, com o propósito explícito de re-organizar a fundição local de de canhões, situada no chamado Chunambeiro, que até então fora dirigida por fundidores espanhóis oriundos de Manila. (...) Bocarro começou desde logo a fabricar grandes canhões de bronze, que rapidamente se impuseram pela sua elevada qualidade técnica e pela sua temível eficácia. Algumas dessas peças ainda hoje se conservam, nomeadamente em museus portugueses e britânicos, ostentando as armas de Portugal e a inscrição "Manuel Tavares Bocarro a fez" (...)".
Rui Manuel Loureiro. "Bocarro, Manuel Tavares (1588-?)", in Ditema. Dicionário Temático de Macau.Vol 1, Universidade de Macau, 2010

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Boa Vista

 Rua da Boa Vista
 Rua do Comendador Kou Hó Neng, 
outrora designada Rua do Tanque do Mainato
Calçada do Bom Parto

A Rua da Boa Vista, que começa no entroncamento da Rua da Penha, Travessa do Colégio e Calçada da Penha, termina ao cimo da Calçada do Bom Parto, junto ao edifício do antigo Hotel Boa Vista / Bela Vista, actual residência do cônsul de Portugal. Este edifício situa-se na actual Rua do Comendador Kou Hó Neng, que, durante séculos, era conhecida por Rua do Tanque do Mainato, pois havia aí um tanque onde os mainatos lavavam a roupa. Aliás, o bairro de Santa Sancha designava-se, outrora, por Tanque do Mainato.

Tanto a Rua da Boa Vista como a Calçada das Chácaras - que começa na Rua do Comendador Kou Hó Neng, junto à Estrada de Santa Sancha - são conhecidas, em chinês, respectivamente, por Rua Principal dos Bambus - Chak Sat Cheng Kai - e Rampa dos Pequenos Bambus - Chak Sai Ch'e Hong


Fonte: P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, Vol.1, ICM, 1997

domingo, 16 de janeiro de 2011

Aeroporto de Macau

"Aeroporto Internacional de Macau". Fotografia de Jean Doat.
Edição do Museu Marítimo de Macau, 1997


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Fotografias de Macau por Ou Ping

Monte da Guia. Década de 1960
 Construção da Ponte Nobre de Carvalho. 1973
Lançando a rede. Taipa (junto ao pequeno templo de Kun Iam), 1971
Pesca. Pontão nº 1 no Porto Exterior. Década de 1970

Fotografias da exposição "Uma Viagem no Tempo - Fotografias de Macau por Ou Ping", 2005. 
Catálogo editado pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e pelo Museu de Arte de Macau, Julho de 2005.

Ou Ping foi, durante mais de 40 anos, jornalista e director do Departamento de Assuntos Financeiros do jornal chinês Diário de Macau (Macao Daily News)澳門日報
Vice-presidente da direcção da Associação Fotográfica de Macau e membro honorário da Hong Kong International Vision Association, Ou Ping iniciou a sua actividade e estudo da fotografia no início da década de 1960, cujo trabalho foi expondo ao longo dos anos em diversas exposições, quer em Macau, quer no exterior.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Praça Ferreira do Amaral e Hotel Lisboa

Praça Ferreira do Amaral e Hotel Lisboa. Janeiro de 2009

Hotel Lisboa: "Possuía, isso sim, a forma de uma gaiola"

"(...)
O Hotel Lisboa, dir-nos-ia, o que, aliás, seria, posteriormente, corrigido pelo Dr. Miguel Venâncio, fora, de acordo com as determinações rigorosamente respeitadas da geomancia (em chinês, fong-sôi), construído à imagem de um dragão, símbolo da força, da supremacia, da virilidade masculina.
Se, conforme o director da Editora, o hotel, seguindo a orientação fornecida por um daqueles especialistas, geralmente provectos cidadãos disfrutando de elevado prestígio e consultando as entranhas da terra através de complicada aparelhagem, possuía, isso sim, a forma de uma gaiola onde os jogadores ficariam provisoriamente retidos, mas com várias possibilidades de evasão, metaforicamente concedidas por determinadas estruturas ornamentais não completamente intransponíveis, poderia, outrossim, como revelariam várias fotos de Maria Virgínia, adquirir a forma de resplandecente fortaleza ou de um desses bolos rodeados de palitos La Reine (...)".
António Rebordão Navarro. As Portas do Cerco. Livros do Oriente, Macau, 1992

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Casino e Hotel Lisboa

Hotel e Casino Lisboa. 
Fotografia de Franck Regourd.
Bilhete Postal da Colecção "a magia do lilau". 
Edição de Franck Regourd, Novembro de 1999

domingo, 9 de janeiro de 2011

"O jogo tem também os seus templos"

Legenda: O Hotel Lisboa / The Lisboa Hotel
Fotografia de Jean Doat. 
Colecção: Images of Macau, 1997. JD Productions. Macau


"Além das igrejas, das suas ruínas, dos pagodes impregnados de aroma do incenso exalado pelos pivetes que, às portas, uns funcionários obscuros, fumado displicentemente os seus cigarros, vendem juntamente com esculturas, postais, o jogo tem também os seus templos. E à sua beira, nas ruas adjacentes, uma série desses estabelecimentos de apoio que são, sem subterfúgios ou eufemismos, denominados "Casas de Penhor", todos eles ostentando nas tabuletas pintadas a vermelho, cor da felicidade e da alegria, um estilizado morcego considerado animal propiciador de fortuna.
Daí que a grande catedral do jogo que é o Hotel Lisboa, edifício com estrutura de dourada gaiola, tenha, no alpendre da porta principal, o desenho da boca de um morcego."
António Rebordão Navarro. Estados Gerais (1992). in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. vol 4. ICM, 1996



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pedra esculpida com o escudo e a coroa real na Rampa dos Cavaleiros

Pedra com o escudo português e coroa real, tendo por baixo a data de 1847, num pátio à margem da Rampa do Cavaleiros


"(...) 
Este toponímico (Rampa dos Cavaleiros), hoje dentro do Campo Desportivo de Mong-Há, recorda-nos o tempo em que os mandarins davam ordens em Macau, domínio esse que acabou no Governo de João Maria Ferreira do Amaral (1846-1849).
Uma dessas ordens referia-se precisamente aos cavaleiros, que deram origem ao nome da rampa, segundo regista Marques Pereira nas suas Efemérides: "8 de Março de 1828 - Ofício do mandarim de Heong-Sán ao procurador da cidade de Macau, intimando-lhe que proibisse aos residentes ingleses renovarem à sua custa, como intentavam, a estrada do Campo de Mong-Há; e passearem nela a cavalo, pois com tais consertos e passeios afrontavam as sepulturas dos chinas e as barracas dos pescadores".
(...)
A 28 de Abril de 1829, publicou um edital dizendo que, tendo ido a Macau, "vira os Estrangeiros fazerem carreiras de cavallos na Praia da Porta do Cerco, lugar onde costuma passar gente, q. vai e vem; e receando-se, por isso, que acontecesse algum desastre a algum viandante de que redundassem desordens entre os Europeus, e Chinas; pelo Lingoa tinha advertido ao Procurador para a mandar prohibir. Porém lhe consta que os Estrangeiros tornarão a fazer carreiras, o que na verdade não hé coisa boa. Portanto, pondo em esquecimento o passado, manda elle Mandarim publicar este Edital para que os Estrangeiros saibão e daqui por diante obedeção os Estatutos do Império, e não tornem a fazer carreiras de cavallos na praia da Porta do Cerco  (...)"
(...)
Este edital ficou letra morta e as corridas continuaram. Harriet Low, que tanto gostava de assistir, informa no seu Diário que elas se realizavam em Hác-Sá (Areia Preta), junto das Portas do Cerco (...)
(...)
Ferreira do Amaral mandou remover as sepulturas desse Campo, colocando ali o escudo das Quinas e a data de 1847. 
Dois anos depois, a sua cabeça era decepada precisamente por ter mexido nessas sepulturas". 
P. Manuel Teixeira. A Voz das Pedras de Macau. Macau, Imprensa Nacional, 1980

Pedra com a coroa real e o escudo português junto do Templo de Lin Fong

Escudo português encimado pela coroa real junto ao templo de Lin Fong.

Fica na Estrada do Arco, junto à entrada lateral do templo de Lin Fong. Segundo o P. Manuel Teixeira, coroa real e escudo, tendo por baixo a data de 1848, foram mandados esculpir pelo Governador Ferreira do Amaral. A data, que não se encontra visível, estará provavelmente escondida pelo relvado que circunda a rocha.
O Padre Teixeira refere, ainda, uma outra pedra, que existiu também na Estrada do Arco, com a seguinte inscrição: "1872. Estrada do Arco". Removida desta estrada para as ruínas de S. Paulo, foi, depois, "desfeita pelo camartelo dos assalariados do Leal Senado" (P. Manuel Teixeira, A Voz das Pedras de Macau, 1980). 

Vicente Nicolau de Mesquita

Busto de Vicente Nicolau Mesquita (1818-1880) no Cemitério de S. Miguel. 
Macau, 2010


Encontra-se logo à entrada, à esquerda de quem entra no Cemitério de S. Miguel.  No mausoléu de mármore com o busto do Coronel Mesquita, lê-se: 

"Vicente Nicolau de Mesquita, 
heróico defensor de Macau em 
25 de Agosto de 1849".

Do lado ocidental do mausoléu, a seguinte inscrição:

"Erecto por subscripção pública 
com o concurso da primeira  subscripção 
promovida pela Comunidade Portugueza 
de Hong Kong em 1884"

E, do lado oposto : 

"Tomou Passaleão em 25-8-1849
Faleceu em 20-3-1880
 Foi transladado em 28-8-1910
Teve nesse dia honras militares e eclesiásticas"

Em 25 de Agosto de 1849, comandou o assalto ao forte chinês de Passaleão - Pac-Seac-Liam - "transformando-se numa figura heróica, prestigiada, da sociedade macaense"*.

Sobre o assalto ao forte chinês de Passaleão, lê-se na Cronologia da História de Macau:
"Tomada do Passaleão. É o único confronto significativo entre a China do Sul e Macau, durante os mais de quatro séculos de vizinhança. Tem ocasião após o assassinato do Governador Ferreira do Amaral, e consta da tomada de um forte chinês que atacava Macau com a força dos seus obuses a cerca de meia milha das Portas do Cerco. O protagonista da tomada do forte de Passaleão foi um macaense até aí desconhecido, Tenente de Infantaria, mas que viria a ser, por circunstâncias adversas, elevado a herói e promovido a tenente. Vicente Nicolau de Mesquita: avançou pelo território inimigo, sem ordem superior e apenas com o pelotão de 32 homens sob seu comando, neutralizando com uma carga de explosivo o forte que oprimia Macau. Quanto a armas, foi apoiado por 2 peças de artilharia de campanha, 1 obuz de montanha e 2 canhões da barca canhoeira e da lorcha de António Ferreira Batalha".

Suicidou-se, num acesso de loucura, depois de assassinar a esposa, Carolina, e a filha, Iluminada, na noite de 19 para 20 de Março de 1880, sendo o seu corpo encontrado no poço da sua residência no nº 1 da Rua do Lilau. Foi-lhe recusada sepultura cristã, determinando o Leal Senado  que "a sepultura para o coronel deve ser em lugar não bento". Seria reabilitado em 1910 e transladado para o Cemitério de S.Miguel, no lugar onde hoje se encontra.


Fontes:
*Amadeu Gomes de Araújo. Diálogos de Bronze. Memórias de Macau. Livros do Oriente, 2001
Beatriz Basto da Silva. Cronologia da História de Macau. Século XIX, volume 3. DSEJ, Macau, 1995
P. Manuel Teixeira. A Voz das Pedras de Macau. Macau, Imprensa Nacional, 1980