terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Na sossegada e frondosa Ilha Verde

Ilha Verde / Green Island. Cerca de 1930.
(in João Loureiro. Postais Antigos de Macau
)

«Aos sábados ou aos domingos, costumava ir pescar. Era um passatempo a que A-Tai não se opunha, pois, em dias de sorte, reforçava as refeições simples e monótonas, com peixe fresco. Já não havia dinheiro para alugar um tancá ou uma sampana. Nem procurava os rochedos do Bom Parto e da falésia da Santa Sancha. Eram lugares em que encontrava certa gente conhecida. Ou mesmo, os morros da Boca do Inferno e os pedregulhos mais suaves da Praia de Cacilhas. Na sua humildade actual, preferia os cantinhos entre os penedos da Fortaleza de S. Tiago da Barra ou, então, na sossegada e frondosa Ilha Verde, quando ia tentar os peixes de água doce. Utilizava uma velha cana e anzóis provectos e camarões mais baratos. Mas era bem sucedido, com aqueles apetrechos que sabiam atrair os peixes.
Havia uma praiazita que era o seu lugar favorito, não só porque ali reinava uma aragem de sonho, e se lavava, compensando-se da pocilga em que vivia. E havia sempre peixe abundante.»
Henrique de Senna Fernandes. Amor e Dedinhos de Pé. Instituto Cultural de Macau,1986

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

George Chinnery: «Sampana»

George Chinnery. «Sampana». C. 1834. Sépia e aguarela sobre papel.
(in Oriente, nº 5. Abril de 2003)

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Nelas vicejavam gigantescas baneanas

«A maior e mais antiga árvore do pagode de Macau», no Seminário de S. José, c. de 1928.
(Macau, II série, nº 54, Outubro de 1996)

«Para recreio dos alunos havia e há duas grandes hortas. Nelas vicejavam gigantescas baneanas, cujas ramadas se tocavam umas às outras, abrigando os jovens do sol tropical.
Eram árvores bicentenárias, as mais antigas e maiores de Macau.
Sentaram-se à sua sombra, durante dois séculos, gerações e gerações de estudantes.
Um dia, passou um pé de vento e tombou esses gigantes, que não mais se ergueram.
E tudo o vento levou!»
Padre Manuel Teixeira. «O Seminário do Meu Tempo», in Macau, nº54 de Outubro de 1996.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Passeio Público

O jardim de São Francisco no início do século XX.
(in Macau, II série, nº 76 de Agosto de 1998)

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Tchong Ieong, o Culto dos Antepassados

O Tchong Ieong ou festividade do «duplo nove» - porque se realiza no nono dia da nona Lua - é mais um ritual fúnebre, mais uma festividade que, tal como o Ching Ming, está ligada ao culto dos finados, mais precisamente o culto dos antepassados. É, também, um ritual de purificação, designado por «subida às alturas», já que nesta festividade as famílias, após a visita às sepulturas dos seus antepassados, sobem ao cume dos montes e das colinas.
Diz uma lenda que, em tempos antigos, um homem letrado e de grande virtude recebeu uma advertência divina para se dirigir de imediato, com a sua família, para um determinado local nas montanhas. Assim o fez, acompanhado de toda a família. E, dias depois, quando regressou à sua casa, percebeu que tinha sido eleito, pois apenas encontrou morte e destruição.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Cores do Oriente

Taipa, 2006

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

A festa da Lua

Realiza-se no 15º dia do 8º mês lunar e designa-se por Chong Chao Chit ou festa do bolo lunar. É a festa da lua, velha tradição chinesa (1), também conhecida por festa das lanternas, já que a noite não é apenas iluminada pela lua cheia, mas também por inúmeras lanternas de papel. Na China, a festa da lua toma a particularidade de estar associada ao Bolo Lunar, que em Macau é também conhecido por «bolo bate-pau» - por serem metidos à paulada em formas de madeira - e que se oferece, neste dia, a amigos e familiares. Fabricados com farinha acinzentada - da cor da Lua - estes «bolos de bate-pau» são recheados ou com carnes e toucinho, ou com cascas de tangerina, ou, ainda, com diversas variedades de sementes, como as de lótus, de pevides, amêndoas ou pinhões.
Luís Gonzaga Gomes conta-nos a origem do bolo lunar, que «(...) teve lugar numa das maiores cidades da China Central, onde jurisdicionava, desenfreadamente, um cruel e avarento sátrapa, que se escudava na força de uma bem equipada guarnição, para tiranizar os pacíficos habitantes com a sua despótica administração.
(...)
Ora, num belo dia de Outuno, chegara à cidade um homem de meia idade, que foi albergar-se numa hospedaria. Era bem apresentado, e, nas poucas noites em que pernoitara ali, mostrou ser indivíduo culto, pelas conversas com que se entretinha com outros hóspedes.
O desconhecido costumava passar o dia, perambulando pelo centro da cidade, a fim de se informar das condições de vida do proletariado e, dias depois, estabelecia numa rua, perto do mercado, uma casa de chá, que passou, em breve, a ser frequentada pelos principais negociantes da terra. O dono da casa atendia, pessoalmente, os fregueses e, nas conversas que com eles trocava, não deixava nunca de fazer a apologia da coragem e de menosprezar a covardia, citando, com muito propósito, referências dos clássicos.Um dia, quando se encontrava à porta, esperando a chegada dos usuais frequentadores do seu estabelecimento, viu aproximarem-se dois indivíduos que discutiam, excitadamente mas em voz baixa, e que, ao entrarem, passaram por ele, sem o saudarem, olhando-o com torvos olhares de surda hostilidade.Muitos outros fregueses foram vindo e abancaram-se todos, em volta da mesma mesa, falando, acaloradamente, mas de forma inaudível, como se desconfiassem ser escutados.O dono da pastelaria, intrigado com o caso, aproximou-se do grupo e todos se calaram imediatamente.Tendo instado muito para que o informassem do que tinha acontecido, contaram-lhe, então, que um dos seu companheiros que tomara chá naquela casa, na véspera, e que criticara a acção do déspota, tinha sido levado para o centro do mercado, nessa manhã, com toda a sua família. As suas ensanguentadas cabeças espetadas em diversos postes, revelavam que alguém, que se encontrava no estabelecimento nessa ocasião, o tinha delatado aos esbirros governamentais.O dono aquietou-os, então, recomendando-lhes que voltassem sossegados para os seus afazeres e que não cometessem nenhum acto imprudente que pudesse comprometer as suas famílias e os seus amigos, asseverando-lhes que grandes acontecimentos iriam ter lugar dentro de alguns dias.No dia seguinte, fez constar por todo o burgo que iria introduzir no mercado um novo bolo, de admirável preparação, cujos secretos ingredientes só podiam ser buscados em longínquas terras.Tal bolo seria distribuído gratuitamente, devendo, no entanto, ser comido só à meia-noite do dia 15.Chegado a véspera desse dia, recebiam todos, em sua casa, um bolo de atraente aspecto e, à meia-noite, quando o partiram para o saborearem, descobriram, no interior, um papelinho, convidando a população a juntar-se com as suas armas, no mercado, por ter enfim soado a verdadeira hora da sua liberdade.Como por encanto, em pouco tempo, a praça principal encheu-se de gentio que, imediatamente, marchou atrás do pasteleiro, para a residência do detestado mandarim, onde facilmente, desarmaram os soldados tomados de surpresa, e prenderam o tirano.Completado o golpe de estado, os habitantes do burgo quiseram que o pasteleiro ficasse dirigindo os negócios do governo mas, como este tivesse desaparecido, formou-se um conselho, para actuar durante a sua ausência.Nunca mais se soube do paredeiro do incógnito caudilho, porém, o povo jamais esqueceu o seu feito» (2).
_____________
(1) O festival da lua festeja-se, igualmente, em outras regiões da Ásia, nomeadamente no Japão onde se designa por Ó-Tsukimi.(2) Luís Gonzaga Gomes. «A festividade do Outono», in Macau Factos e Lendas, Instituto Cultural de Macau, 1994, p. 146-150.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Casarám antigo

Bairro de S. Lázaro. Macau, 2006
Casarám antigo
Macau di janéla vérde,veneziána di tabique;
Macau di chám sobradado,
co enténa chuchú parede
pa co-côi sobrado;
Saguám pa lavá rópa,
Terraço di chám di ladrilho,
lugá pa sugá rópa.
Macau di casaám antigonostre
Cubrido co télia vemêlo,
parede caiado,
varánda empolado...
Únde têm vôs?
Macau di quintal co pôço,
corda mará báldi,
báldi elá águ vêm riva.
Horta co árvre di frutázi
semeado aqui-ali;
Porta-trás pa sai "lap-sap",
pa áma comprá som,
apô di cartá águ-fónti,
intrá-sai di casa.
Únde têm vôs?
Macau antigo di gudám
co dispénsa pa guardá catá-cutí;
Quarto di quiada na "lau-chai",
Quartinho di bánho na vánda-trás
co bacia di lóiça pa lavá rosto,
balsa di pau pa lavá corpo...
Casa-casa antigo
di Macau tamêm antigo...
Seléa Macau, únde têm vôs?
José dos Santos Ferreira (Adé). Poema na Língu Maquista.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Tabuletas

«Associação de Empregaclos de Barbea-rias de Macau». Macau, Travessa dos Fatiões. 2006

Tabuletas

«Agência de Sapatos Kit Ou», também designada por «Fomento Predial Kit Ou». Macau, Rua das Estalagens. 2006

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Travessa da Assunção

Travessa da Assunção. Macau, Abril de 2006

Um gigantesco caranguejo

«Assim, a Praia Grande que, antes do aterro descrevia uma bela curva, desde o sítio de S. Francisco até à Avenida República era considerada pelos geomantes como um gigantesco caranguejo, cujos olhos eram representados pelas duas saliências semi-circulares - os antigos fortins de S. Pedro e S. João - que ficavam situados, um, em frente ao actual Palácio das Repartições que foi o primitivo Palácio do Governo, e o outro, em frente da Travessa de S. João.
Foi ao longo da Praia grande que se edificaram as residências dos mais abastados moradores desta terra, moradias essas que, com a decadência do comércio português no Extremo Oriente, passaram, a pouco e pouco, para as mãos dos argentários chineses, que nunca deixavam caiar as suas casas de encarnado nem de cinzento, pois, longe vá o agouro, estas eram as cores com que se apresentavam os caranguejos cozidos ou mortos. As cores preferidas eram a verde ou a amarelada por corresponderem à cor da carapaça de tais decápodes vivos.
Há anos, este suposto crustáceo foi destruído com as obras do aterro da Praia Grande e um bonzo, pressagiando iminentes desgraças para os ricaços chineses moradores neste local, aconselhou-os a mudar de residência. Tal mudança acarretaria, porém, enormes despesas, por isso os moradores da Praia Grande deixaram-se ficar, comodamente, nas suas casas, a aguardar os acontecimentos e não consta que lhes tivesse sobrevindo qualquer mal, pois continuam até agora, a viver prosperamente». Luís Gonzaga Gomes. «O Fong Sôi de Macau», in Macau Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau. 1994

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Macau di Tempo Antigo: «Tancás e Marinheiros»

«Entre os usos curiosos da vida de bordo em Macau, figura o tancá. Nas outras estações, para o serviço com a terra, há naturalmente os escaleres do navio: escaler dos oficiais, bote do estado-menor, bote das compras, escaler de licenças aos domingos; largando, recolhendo a horas determinadas, obrigando todos a uma fastidiosa dependência. Em Macau, mercê dos pequenos barcos indígenas, que formigam no rio aos cardumes, aquelas carreiras dispensam-se; o próprio comandante, oficiais, marujada, todos têm o seu tancá privativo, a troco de magras pratas; e os escaleres, com grande gáudio dos imediatos, permanecem ordinariamente içados nos turcos, asseados e pintadinhos, que é um regalo vê-los. De modo que é observação que sempre impressiona novatos, o enxame de barquinhos que a toda a hora rodeiam os navios de guerra fundeados no porto, como vermes parasitas. E a circunstância mais exótica deste uso é que, sendo os tancás tripulados por mulheres, estabelece-se assim uma contínua relação entre os dois sexos, gente de bordo e tancareiras, caso realmente único em vida de convés.
Nada mais curioso, mais inesperado, do que estes rostos de sereia de nova espécie, assomando às vigias dos camarotes e das câmaras, falando para dentro, interrogando, perguntando-nos a que horas vamos para terra, ou pedindo-nos uma laranja da nossa sobremesa: rostos sem beleza nem frescura, curtidos aos rigores do tempo, mas onde apesar disso brilha por vezes um olhar doce de fêmea, carinhoso e suplicante. Pobres tancareiras, agarradas desde a infância ao remo que as sustenta, regeladas no Inverno pela brisa da monção, tisnando ao sol ardente do Estio, ensopando as cabaias na onda dos chuvascos! Pobres párias do mundo! Queremos-lhes todos. Que são elas afinal, senão as nossas companheiras de trabalhos, uma parte integrante das guarnições dos nossos navios?
Vivendo longos dias nos tancás amarrados à popa da nossa canhoneira, fazem-nos assistir à sua íntima labuta, cuidando da pobre casa flutuante, remendando andrajos, lavando as crianças, preparando a cozinha. Vemo-las pentear as negras tranças, comer o seu arroz, implorar aos deuses. De quando em quando levantam-se azedas disputas, resolvidas a murro, e não é raro ter de intervir a autoridade, admoestando o femeaço como se tratasse de grumetes balhões.
(...)
É aos domingos que o bando de tancás moureja mais. Vinte ou trinta soi-sau-quai, diabos com as mãos na água (é esta a picaresca denominação chinesa), vestem a melhor farpela, escovam-se, engraxam-se, alisam as melenas, dispondo-se a ir afogar em oito horas de folia o mau humor de uma semana inteira de trabalho. Os tancás aguardam a curta distância. Soa a hora de embarcarem as licenças. Aí vão eles, chape, chape, pompejantes de alegria; ao largo, soltam-se de dentro expansões em grande berra, natural desforço de quem a bordo só pode falar baixinho; ri-se, canta-se; e lá de quando em quando um gritinho agudo vem acusar melindres ofendidos por algum galanteio mais pesado daquelas mãos alcatroadas, que palpam, e beliscam, sem cerimónias». [Março de 1892].
Wenceslau de Moraes. «Tancás e Marinheiros», in Traços do Extremo Oriente. Parceria A.M.Pereira. 2ª edição, 1971

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Macau di Tempo Antigo: Porto Interior

«Rua das Lorchas - Interior Port - Porto Interior». Macau Post Card, publicado por Kong Iat Cheong e Ho Weng Hong, não datado (cerca de 1900).

domingo, 27 de agosto de 2006

Macau di Tempo Antigo: Rua Nova do Comércio

«Rua Nova do Comércio - Pig Market - Mercado de Porco». Macau Post Card, publicado por Hong Iat Cheong e Ho Weng Hong, não datado (cerca de 1900).

«Da rua, subiam todos os rumores duma cidade chinesa, os pregões dos vendilhões ambulantes, o estalar de tamancos nas pedras da calçada, o estralejar de panchões votivos, a plangência do alaúde do ceguinho, oferecendo-se para "cantar" a sina». Henrique de Senna Fernandes. Amor e Dedinhos de Pé. Romance de Macau. Instituto Cultural de Macau. 1986, p. 210

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Barbearia Shanghai

Macau, 1985

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Cores do Oriente

Templo de A-Ma (Ma Kok Miu). Macau, Junho de 2006

Farmácia chinesa Tong Sin Tong

Farmácia chinesa Tong Sin Tong, Rua de Camilo Pessanha. Macau, Junho de 2006

São simplesmente "casas de penhor"

Casa de Penhor Tak Seng On. Macau, Junho de 2006

«Não há visitante estrangeiro, primeira vez chegado a qualquer cidade chinesa, que não fique surpreendido com umas estranhas e sombrias construções com aspecto de torres de vigia, que surgem espalhadas em óptimas situações estratégicas, dominando com a sua rígida altura o confuso e baixo casario de diversos bairros.
As sua janelinhas, muito pequenas e estreitas, gradeadas de ferro e reminiscentes das barbacãs de velhos castelos, evocarão decerto no seu espírito, as tumultuosas épocas de desordenados fossados, acaudilhados por ambiciosos barões feudais, sempre impetuosos e sempre irrequietos, épocas essas em que os habitantes dos velhos burgos se viam forçados a encerrar-se dentro das suas fortalezas, para defenderem as suas vidas e as dos seus.
Ora esses edifícios maciçamente construídos de tijolo cinzento, embora fossem capazes de sustentar um assalto, não se integravam contudo no sistema de fortificações das cidades chinesas, pois são simplesmente "casas de penhor", uma das instituições das mais importantes, na curiosa e complexa sociedade chinesa.»
Luís Gonzaga Gomes. «Casas de Penhor», in Chinesices. Instituto Cultural de Macau, 1994

Casa de Penhor Tak Seng On

Casa de Penhor Tak Seng On, Macau, Junho de 2006

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Cores do Oriente

Macau, 1983

Latoeiro

Latoeiro. Macau, 1984

domingo, 11 de junho de 2006

Cores do Oriente

Vila Cultural de A-Má. Coloane, 2006

Peixe seco

"Estabelecimento de Comidas Tai Un", Avenida de Almeida Ribeiro. Macau, 2006

Cores do Oriente

Rua da Felicidade. Macau, Janeiro de 2006

Taipa

Taipa, Rua de Fernão Mendes Pinto. Inverno de 2006


Coloane

Coloane. Inverno de 2006

sábado, 10 de junho de 2006

A Rua das Mariazinhas

Rua de S. Domingos (Mariazinhas). Macau, Maio de 2006

«Primitivamente, as Mariazinhas limitavam-se ao troço da Rua de S. Domingos, dum e doutro lado da artéria, que vai da embocadura da Travessa da Sé até à subida para a Calçada das Verdades, em frente ao Cinema Capitol. Hoje, o conceito alargou-se, estende-se dum lado à Rua Pedro Nolasco da Silva, a antiga Rua do Hospital, até à Travessa do P. Soares, e doutro lado até ao Largo de S. Domingos. Pode-se ainda incluir nele o conjunto de lojas e lojecas da Rua da Palha até à linda Praceta que ali existe.
As minhas recordações da Rua de S. Domingos remontam à infancia. O cenário mais antigo que se me fixou na memória é provavelmente o de estar parado diante da loja de antiguidades chinesas que se anunciava, em letras brancas num fundo azul-claro, com o nome de "Pessanha-Curious". O estabelecimento ficava onde hoje se encontra a Livraria Portuguesa, ocupando talvez uma área mais pequena.
Na porta estava um homem magro, pálido, meão de altura, feições macaenses fortemente orientais e pouco cabelo. Cumprimentou os meus pais sorridente, trocaram umas palavras e seguimos adiante. Perguntei quem era. O meu pai respondeu:
- É o filho de Camilo Pessanha.»
Henrique de Senna Fernandes. «Rua das Mariazinhas», in Mong-Há, Instituto Cultural de Macau, 1998

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Sai Van

Lago Sai Van. Macau, Junho de 2006

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Casa de penhor

Torre prestamista (Casa de Penhores Tak Sang), na Rua 5 de Outubro. Macau, Maio de 2006

Um morcego voa
e apanha uma moeda de cobre
conduz os miseráveis para dentro da porta
O condutor é cego

Logo que um miserável entra
esconde-se por detrás do biombo
Até os seus objectos
embrulhados em folhas de um jornal já lido
são de vergonha

Entre o biombo de madeira e o balcão
entre os objectos e o recibo de penhor
os miseráveis ficam mais miseráveis

A quem interessa
outro biombo que oculte a sociedade?

Han Mu. «Casa de Penhor», in Antologia de Poetas de Macau.

Macau Património Mundial: Casa do Mandarim

«Construída em 1881, foi a residência de Zheng Guanying, importante fugura literária chinesa. Trata-se de um complexo residencial chinês tradicional, composto por várias casas com pátios interiores, revelando uma mistura de pormenores de influência chinesa e ocidental, como sejam os tijolos cinzentos, as decorações em estuque sobre as portas e as janelas com portadas cobertas com finas placas de madrepérola, de origem indiana». in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho de 2005.
Encerrada temporariamente.
O Centro Histórico de Macau

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Macau di Tempo Antigo: no Bazar

Uma rua de Macau. Illustração Portugueza de 28 de Dezembro de 1908

«Tudo é alegria no Bazar, uma alegria que nos mergulha na calma tranquilidade chinesa, que nos invadem e conquista, insensivelmente, como um filtro que se absorvesse ao respirar.
A policromia das lojas; o vaivém constante duma população activa mas que desconhece precipitações; vasos de flores; os leitões assados e os patos salgados pendurados às portas, como uma tentação à voracidade dos chineses, para quem a comida é um dos maiores prazeres; as lâmpadas que começam a acender-se, como que soltando um hino à luz que os chineses adoram com verdadeira devoção pagã; a fugidias Pi-pa-t'chai que passam a caminho dos Cou-laus; todos aqueles sons do ambiente e da vida do Bazar, na atmosfera festiva do Ano Novo, vão-nos narcotizando, à mistura com o cheiro, enjoativo e doce, do ópio que anda pelo ar». Jaime do Inso, Cenas da Vida de Macau.

Bazar Grande e Bazarinho

O Bazar «era a retinta cidade chinesa de Macau», que, «partindo da raia traçada pelos Bairros do Lilau, S. Lourenço, Stº Agostinho, Largo do Senado, Monte e Stº António (...) ia desaguar, em leque, no Porto Interior»(1). Chamavam-lhe, também, Bazar Grande, para melhor se diferenciar do Bazarinho, ou Soi-Sau-Sai-Kai, como designam os chineses a Rua do Bazarinho (e que significa Rua do Marinheiro, a oeste, por forma a distinguir-se da Rua do Marinheiro, situada a sul). Esta começa junto ao Pátio da Ilusão, na Travessa do Mata-Tigre, e termina na Calçada de Eugénio Gonçalves, quase em frente à Rua das Alabardas.
No Bazar se concentrava todo o comércio, desde as lojas de quinquilharias, aos algibebes, aos ferros velhos; nele ficavam as casas de pasto ou cou-laus, as estalagens, as lojas de lotarias, as casas de fantan e as de penhor, os lupanares. «A sua população não era só constituída pelos autóctones de Macau. Havia gente oriunda das mais diversas partes da terra-china fronteiriça à cidade que ali chegava para os seus ócios e negócios (...). E não esqueçamos ainda de acrescentar que havia toda uma população flutuante e piscatória, ancorada no rio que punha pé em terra para os seus lazeres»(2).

(1) e (2) Henrique de Senna Fernandes. «Chá com Essência de Cereja», Nam Van.

«Pátio do Poeta. Só dele»

Pátio do Poeta. Macau, Maio de 2006

O sal das vozes
usurárias as palavras-pautas-palmas
Rastos de expressão os rostos
daquelas bocas de restos
Góticos os esgares
flamejantes quando esfaqueam o ar
Os dedos dados
de mãos nunca dadas
como se compassos vazios
de músicas abortadas


o cavalo alado
com a crina dos mistérios
plana
montado por omissões descodificadas
em tiras de papel qualquer
como se vozes outras
do poeta
a rasgar o tempo

João Rui Azeredo. in Antologia de Poetas de Macau.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Fragmentos

Macau, Abril de 2006

Fragmentos

Kun Iam Tchai. Macau, Abril de 2006

O Pequeno Kun Iam

Kun Iam Tchai. Macau, Abril de 2006

O Antigo Templo de Kun Iam, o Kun Iam Ku Miu, também designado por Pequeno Ku Iam ou Kun Iam Tchai, situado a pouca distância do Kum Iam Tong, na Avenida Coronel Mesquita, foi o primitivo templo edificado em Mong-Há em honra da Deusa da Misericórdia. Conta-se que um dia, na aldeia de Mong-Há-Tch', dois pastorinhos encontraram, a boiar nas águas do rio (que então banhava a colina de Mong-Há), uma estatueta de madeira da deusa Kun Iam. De imediato construíram-lhe um nicho, que os habitantes da aldeia transformaram depois num templo. Anexo e interligado a este, um outro templo ou capela, construído em 1908, é dedicado a Seng Vong, um deus local.
Ao invés de vasos com plantas ou flores, ou de tanques com lótus, dois enormes jamboleiros preenchem por completo o pequeno pátio do Kun Iam Ku Miu.

«Macau em Maio»

Tens a alma cheia de ipomeas
e de acácias rubras
e de chagas de melancolia nos muros velhos.

Teus longos braços novos de betão e vidro
rompem a bruma matinal
por sobre os restos da antiga beleza.

Fernanda Dias. in Antologia de Poetas de Macau.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Estória di Maria co Alféris Juám

«Intrementes, Maria têm na jardim Sám Francisco, sentado na bánco sabroso conversá co su chistoso Juám. Di sabroso qui ta isquecê ora di vai casa comê.
Juám sã unga alféris di Bataliám (vinte cinco áno na-más), arto, ôlo grandi, cabelo marêlo-ôro, co unga bigode grosso tamêm aloraça. Já vêm di Portugal, têm na Macau dôs áno fora, não sabe falá china, nunca intendê nôsso língu maquista. Sorte qui Maria já vai escola na Convento Santa Clara, já prendê torá portuguêz pa podê papiá co su quirubim di bigode grosso.
(...)
Maria já conhecê estunga Juám têm perto cinco mês, unga domingo na adro di Sé, quelora cavá missa-tropa. Na dentro di greza, Juám olá Maria, nom-pôde largar ôlo; Maria virá cara sã ta olá acunga dôs ôlo lustro ta contemplá êle, raganhado.Tudo dôs nom-pôde uví missa bêm-fêto».
José dos Santos Ferreira (Adé)
. «Estória di Maria co Alféris Juám», Macau di Tempo Antigo (Poesia e Prosa) - Dialecto Macaense -, Edição do Autor, Macau, 1985

Vocabulário:
acunga - esse, essa, aquele, aquela.
quelora - quando; no momento em que.
cavá - depois; em seguida (Cavá vem de «acabar»)
estunga - este ou esta
greza - igreja
lustro - que tem brilho; luzidio
Olá - ver, olhar. Olá bem-fêto! - vejam bem!
Ôlo - olho
quelora - quando; no momento em que.
raganhado - arreganhado
- do verbo ser.
- do verbo estar
torá portuguêz - à letra seria «torrar o português»; diz-se da pessoa que se esforça em falar correctamente o portugês, com pronúncia afectada.

domingo, 28 de maio de 2006

Hong Kung, o deus guerreiro

Templo de Hong Kung. Macau, Maio de 2006

O sexto dia da sétima lua é o dia das festividades em honra do deus guerreiro Marechal Hong Gong (ou Hong Kung). Destemido guerreiro, viu-se certo dia em grandes dificuldades, cercado pelo inimigo, que o forçou a uma fuga através de pântanos e terrenos lodosos, onde ia deixando as suas pegadas. Contou o Marechal, nesta atribulada fuga, com a precisosa ajuda de um bando de patos que o seguiam com o único objectico de apagar as pegadas do guerreiro. Desde então, e durante as festividades em sua honra, mantém-se a interdição do consumo de carne de pato.
Situado no Largo do Pagode do Bazar, o templo de Hong Kung, também conhecido por templo do Bazar, tem ainda outra história a ele associado, segundo a qual, os moradores desta zona, então ribeirinha, teriam encontrado uma estátua de madeira do Marechal a flutuar no rio. O actual templo, posterior a esta história, data de 1860, e é dedicado, também, ao deus Hung Seng, deus dos mares, e a Hua Tuo, deus da medicina.

Jardim de Lou Lim Ieoc

Jardim de Lou Lim Ieoc. Maio de 2006

«Gosto particularmente do jardim de Lou Lim Ioc por estar situado numa parte velha da cidade e por ser, a meus olhos, um permanente e discreto milagre: afrontado já por prédios enormes que vão substituindo impiedosamente as antigas casas, no meio do tumulto do trânsito, aquele espaço como que absorve o ruído, é um local de paz e beleza».
João Aguiar
. «O Deus dos pássaros». Rio das Pérolas. Livros Oriente. pág. 27

Jardim de S. Francisco

Jardim de S. Francisco. Macau, Maio de 2006


Os chineses chamam-lhe Ka-Si-Lán-Fá-Yun, o Jardim dos Castelhanos, e o nome deriva do Convento de S. Francisco, que foi fundado pelos franciscanos castelhanos.
Foi este jardim o «Passeio Público» de Macau. Encontrava-se vedado, de dois lados, por muros, e nos extremos por balaustradas com portões que, à noite, encerravam. Desfrutava de um coreto, onde uma banda - primeiro uma banda militar, mais tarde, uma municipal - tocava ao pôr-do-sol. Era o ponto de encontro da sociedade elegante de Macau, o rendez-vous, sobretudo nos dias em que a banda tocava. Ao entardecer, chegava o encarregado, trazendo consigo uma escada, pela qual subia, para acender os candeeiros a petróleo. Encerrava, no Verão, à meia-noite, e durante o Inverno, às nove horas da noite, hora do «toque das almas» e «dos clarins de recolher do quartel», hora em que «a cidade começava a dormir» (1).
No ano de 1935 assistiu-se à destruição do coreto e à dissolução da banda municipal; nesse mesmo ano foi autorizada a construção da via pública de S. Clara, retalhando-se, para esse efeito, o jardim.

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(1) Henrique de Senna Fernandes, «Uma Pesca ao Largo de Macau». Nan Van. Instituto Cultural de Macau. 1997, pág. 32

«Eu chamava-a simplesmente a Árvore»

Árvore do Pagode (Ficus Microcarpa) no Jardim de S. Francisco. Macau, Maio de 2006


«Eu gostava muito da parte superior do Jardim de S. Francisco, paredes-meias com a Rua Nova à Guia. A área era mais larga que hoje, cobria a Calçada do Quartel que não existia, e estava separada da ala das residências dos oficiais, por um muro formando beco. Havia ali um jardim frondoso e bem tratado com áleas, onde se aprumavam frangipanas e bauínias entre arbustos e outra vegetação. As frangipanas davam as chamadas "flores de S. João" branco-amarelas, de cheiro capitoso. As bauínias abriam as suas flores arroxeadas ou róseas na Primavera e eram um regalo para os olhos. As champacas misturavam-se com as roseiras. Sebes de camélias e damas-da-noite dividiam os caminhos. Pairava no ar uma confusão de aromas inebriantes. De manhã à noite, desbobinava-se a sinfonia zangarreante das cigarras, em labor incansável, desmentindo a fábula conhecida. Nos bancos verdes e já veneráveis, sentavam-se os anciãos chineses que traziam, em gaiolas grandes e pequenas, algumas artisticamente ornamentadas, os seus pássaros favoritos - rouxinóis, chevites, melros, canários e outros - que trinavam à compita com a passarada livre, derramada pelas árvores. Eternamente, as borboletas saltitavam de flor em flor, à procura do pólen. (...) Por entre aquela vegetação abundante, sobressaía a maior árvore de pagode que jamais vi em Macau, à excepção da do Seminário de S. José. Eu chamava-a simplesmente a Árvore. Alta, tronco grossíssimo, bem copada, a ramaria espraiando-se largamente para o céu, a sombra hospitaleira e benigna em círculo, abrigando os passeantes da canícula ou da chuva. Em cima havia sempre chilreada dos passarinhos que construíam ninhos inacessíveis à garotada. O tronco secular tinha reentrâncias e nós que permitiam fácil escalada aos primeiros ramos. Eu costumava trepar por ele acima muito ágil e assentava-me num dos ramos gozando a altura e o panorama. (...) Mais tarde, homem feito, quando regressei de Portugal depois de uma ausência de oito anos e calhou visitar aquela parte do jardim, tudo estava praticamente irreconhecível. Existia ainda o gracioso edifício cilíndrico, mas a vegetação fora desbastada e não restava o mínimo vestígio da Árvore. Sabe-se lá porque tinha sido derrubada. Sofri um golpe doloroso na sensibilidade. Desaparecera para mim a mais nobre árvore de Macau».
Henrique de Senna Fernandes
, «Rua das Mariazinhas», Mong-Há. Instituto Cultural de Macau, 1998, págs. 75-76

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Macau Património Mundial: Quartel dos Mouros

Quartel dos Mouros. Macau, Maio de 2006

«Este edifício foi construído, em 1874, na encosta da Colina da Barra para alojar um regimento indiano vindo de Goa para reforçar o Corpo da Polícia de Macau. Actualmente, nele está instalada a sede da Capitania dos Portos de Macau. O Quartel dos Mouros é um edifício distintamente neoclássio, com alguns elementos arquitectónicos de influência mongol». in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho de 2005.

Horário: das 9:00 às 18:00 horas (Varanda)
O Centro Histórico de Macau

Cidádi di Nómi Sánto

«Nôsso Macau, nómi sánto,
Vosôtro olá!
Qui ramendá unga jardim;
Fula fresco na tudo cánto
Sã pa ispantá,
Sai semeado, nom têm fim.

Gente di Macau, na passado,
Co tánto lágri já regá
Su fula cherôso, abençoado,
Qui Dios já ajudá semeá.
No mundo assi transtornado,
Sã fazê triste coraçám
Olá gente falá cuidado,
Dessa fula muchá na chám.
(...)

José dos Santos Ferreira (Adé). Poémia di Macau.Obras Completas. Vol. IV. Fundação Macau 1996

quarta-feira, 24 de maio de 2006

A Fonte do Lilau

Largo do Lilau. Macau. Janeiro de 2006

«Quem bebe água do Lilau
Não mais esquece Macau:
Ou casa cá em Macau
Ou então volta a Macau

Lilau é nome que perdura no largo, e também, numa calçada, num beco e num pátio. Originariamente era Nilau, do cantonense Nei-lau - que significa «corrente de água do monte» -, e foi o primitivo nome da colina da Penha, designação que se manteve até à construção, em 1622, da ermida de Nossa Senhora da Penha.
Os chineses chamam-lhe o Poço da Avó (ou da Antepassada), designação particularmente interessante, já que o poço, ou fonte, localizava-se muito perto do
templo de A-Má, ou Tin Hau, a Rainha Celestial, e A-Má, ou Má-chou, é o nome que, curiosamente, se atribui à Avó paterna, a primeira antepassada. Tal como o poço da Avó ou de Má-chou, a Antepassada, que é também a Rainha do Céu, simbolizando a união entre o Céu e a Terra, o nome de Nilau ou Nei-lau, se afigura, igualmente, como a união entre o monte e a água, ou seja, das águas que escorrem dos montes, das nuvens e do céu e se juntam à Terra.

Os nomes das ruas

Rua dos Bem Casados. Taipa. Janeiro de 2006

«Os nomes dessas ruas desvendam aos nossos olhos, ávidos de curiosidade, as imensas perspectivas etnográficas, etnológicas e folclóricas de duas raças, numa simbiose quadrissecular, assombram-nos com o seu ineditismo, abrem-nos os portais dos seus templos e pagodes, introduzem-nos na sua culinária, no seu comércio e indústria, revelam-nos certos tipos de costumes, a etnografia das águas, a Bica do Lilau, as fontes da Inveja e da Solidão, a fauna e a flora, os pregões populares, as velhas lendas, a hagiografia católica e o panteão budista, a Senhora da Piedade e a Kun Yam - "deusa da misericórdia", vivendo lado a lado, num diálogo interessante, numa coexistência pacífica».
P. Manuel Teixeira na Explicação Prévia à obra Toponímia de Macau.

Macau Património Mundial: Largo do Lilau

Largo do Lilau. Macau. Janeiro de 2006


«Os depósitos de água subterrânea da zona do Lilau constituíam a principal fonte de água natural em Macau. A popular frase "Aquele que beber da água do Lilau, jamais esquecerá Macau" expressa bem a ligação nostálgica dos habitantes com o Largo. Esta área corresponde a um dos primeiros bairrros residenciais portugueses em Macau». in RC - Revista de Cultura, nº 15, Julho de 2005

terça-feira, 23 de maio de 2006

Má-Káu-Seak, o Rochedo do Cavalo no Coito

Macau Seac foi o nome de uma via, que hoje é conhecida por Avenida do Almirante Magalhães Correia, na Areia Preta, entre a Estrada da Areia Preta e a Rua dos Pescadores. Uma outra via pública, para os lados da Bela Vista, teve, em tempos, também essa designação (1). Diz-nos o Padre Teixeira que Má-Káu-Seak significa «Rochedo do Cavalo no Coito», «pois essa pedra tinha a forma de dois cavalos a cobrir-se um ao outro; ficava na Areia Preta, sendo destruída há vários anos, durante os trabalhos das Obras dos Portos» (2).
Também Almerindo Lessa (3) se refere a este rochedo, designando-o por «Rochedo do Dragão-Cavalo»: «diminuto, áspero e sem base, pois é sustentado por três pequenos blocos de pedra, que têm sido conservados até hoje, alisados pelas vagas do mar.»
Este rochedo do «Dragão-Cavalo» ou do «Cavalo no Coito», Má-Káu-Seak, há muito desaparecido e sepultado debaixo dos aterros, deu azo a que se lhe atribuísse a origem do nome de Macau (4), hipótese actualmente posta de lado, prevalecendo «a que nos dá Mateus Ricci dizendo que os mandarins deram licença aos portugueses de se fixar na península de Macau, dove era venerata una pagoda, che chiamano Ama. Per questo chiamavam quel louogo Amacao (...)» (5). Almerindo Lessa diz que os chineses dão a Macau, entre outros, o nome de Ou-Mun ou «Porta da Baía», sendo este o mais corrente. De outras designações que lhe são atribuídas, salienta-se a de Sap-Tchi-Mun ou «Porta em forma da letra dez», nome curioso que deriva do facto de existirem quatro ilhas ao sul da baía, separadas umas das outras por forma a criarem a imagem da letra sap (dez).
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(1) O nome Ma Kau Seak persiste hoje numa travessa, entre a Av. do Dr. Francisco Vieira Machado e a Rua dos Pescadores.
(2) Padre Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, tomo 1, págs. 38-39
(3) Almerindo Lessa, citado por P. M. Teixeira.
(4) Em Sino-Portuguese Trade from 1514-1644: a Synthesis of Portuguese and Chinese Sources, 1934, T'ien-Tsê-Chang atribui o nome de Macau ao famoso rochedo «chamado Má-chião (...) ou Ma-Kao em cantonês».
(5) Padre Manuel Teixeira, ob. citada. pág. 39

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Leal Senado

Edifício do Leal Senado. Macau. Maio de 2006

O Padre Manuel Teixeira, na sua Toponímia de Macau, recorda o primitivo edifício, datado de cerca de 1584, que tinha anexo o tronco ou cadeia, razão pela qual se denominaram as vias públicas situadas junto ao Leal Senado de Calçada do Tronco Velho e Rua da Cadeia (1). O edifício actual, construído em 1783-84, «ficou tão danificado pelo tufão de 1874, que foi necessário reconstruí-lo», reconstrução que lhe trouxe grandes melhoramentos. Foi novamente restaurado em 1940, quando das comemorações do Duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal, tendo decorrido a inauguração a 2 de Junho desse ano, «data em que foi benzida a Capela da sua Padroeira, N. Sra. da Conceição; está, ainda, nesta Capela, a estátua de S. João Baptista, que também é padroeiro da cidade» (in Padre M. Teixeira, Toponímia de Macau, tomo 1, pags. 62 e 63).

(1) Actualmente designada por Rua do Dr. Soares. José Caetano Soares (1887-1963), médico-militar até 1916, data em passa a exercer a direcção do Hospital de S. Rafael, da Santa Casa da Misericórdia.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Igreja de S. Lourenço

Igreja de São Lourenço. Macau. Maio de 2006

Ao certo, não se sabe a data da sua construção, mas o Padre M. Teixeira, citando Frei José de Jesus Maria – Asia Sínica e Japónica -, diz que a igreja foi erecta entre 1558 e 1560, referindo-se à construção desta igreja, à de Stº António e à de S. Lázaro, «em o seguinte anno de 1558 até o de 60». Se foi ou não construída nesse período de tempo, não se sabe. Mas já existia em 1576, pois dela escreve um padre jesuíta ao Geral da Companhia: «(...) chamao os nossos cõ cãpaqinha pola cidade, & se faz a doutrina christãa, & se fazem alguas exortações, e isto assi na nossa igreja como na outra q, he de S. Lço. Martir, cõcorre mta.».
Sobre a igreja de S. Lourenço escreve M. Hugo Brunt (1), professor de arquitectura da universidade de Hong Kong:«A diferença principal que a distingue de qualquer outra igreja de Macau reside no volume da nave e na completa ausência de naves laterais. Possui o tecto mais extenso e ininterrupto entre as mais antigas igrejas de Macau. O edifício salienta-se também por quatro elementos dominantes. A entrada apresenta um aspecto fortemente ocidental, formado por duas torres quadradas contendo o campanário e juntando-se à nave dum e doutro lado. O Altar-mor está colocado numa capela absidal, na linha central da composição; existem ainda duas capelas absidais formando assim uma fraca luz latina à esquerda e à direita da nave». (in Toponímia de Macau, tomo 1, pags. 92-93)

1) «The Parish Church of St. Lawrence at Macao», Journal of Oriental Studies, Volume VI, 1961-1964-Number 1 and 2. University of Hong Kong.

Macau Património Mundial: Igreja de S. Lourenço

Igreja de São Lourenço. Macau. Maio de 2006


«Construída pelos jesuítas em meados do século XVI, é uma das igrejas mais antigas de Macau. O seu presente aspecto é o resultado das obras efectuadas em 1846. Situada no litoral sul da cidade, na sua escadaria principal, na época com vista directa sobre o mar, costumavam reunir-se as famílias dos marinheiros aguardando o seu regresso, razão pela qual lhe foi dado o nome de Feng Shun Tang (Igreja dos Ventos de Navegação Calma). De estrutura neoclássica com um subtil tratamento decorativo de inspiração barroca, a sua escala e riqueza arquitectónica refletem a riqueza do bairro onde se inseria». in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho de 2005.

Horário: das 10:00 às 16:00 horas (acesso pela Rua da Imprensa Nacional)
O Centro Histórico de Macau

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Macau Património Mundial: Leal Senado

Edifício do Leal Senado. Macau. Maio de 2006


«Construído em 1784, este edifício albergou a primeira Câmara Municipal de Macau, função que ainda mantém. O nome "Leal Senado" deriva do título "Cidade do Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal" atribuído à cidade por D. João IV, em 1645. O Edifício do Leal Senado, de estilo neoclássico, conserva ainda as paredes-mestras e o traçado arquitectónico originais, incluindo o jardim situado no pátio traseiro.
No interior do edifício, no primeiro andar, além de um salão nobre que dá acesso a uma exuberante biblioteca em madeira ricamente decorada, ao estilo da biblioteca do Convento de Mafra (Portugal), existe ainda uma pequena capela». in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho de 2005

Horário: Galeria - das 9:00 às 21:00 (encerra à segunda-feira); Jardim - das 9:00 às 21:00
O Centro Histórico de Macau

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Templo da Barra


O verde dos bambus mais altos é azul
ou então é o céu que pousa nos seus ramos.

Eugénio de Andrade. Pequeno Caderno do Oriente.

Macau Património Mundial: Templo de A-Má

Templo de A-Má. Macau, Janeiro de 2006


«Anterior ao estabelecimento da cidade de Macau, o Templo de A-Má é composto pelo Pavilhão do Pórtico, o Arco Memorial, o Pavilhão de Orações, o Pavilhão da Benevolência, o Pavilhão de Guanyin e o Pavilhão Budista Zengjiao Chanlin. Estes vários pavilhões, dedicados à veneração de diferentes divindades, formam um complexo único, o que faz do Templo de A-Má um caso exemplar da cultura chinesa inspirada pelo Confucionismo, Tauismo, Budismo e por múltiplas crenças populares». in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho 2005.

Horário: das 7:00 às 18:00
O Centro Histórico de Macau

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Jardim de Lou Lim Ieoc

Frangipana no jardim de Lou Lim Ieoc. Maio de 2006


Se andava no jardim,
Que cheiro de jasmim!
Tão branca do luar!
(...)
A hora do jardim...
O aroma de jasmim...
A onda do luar...

Camilo Pessanha. Clepsydra.

Macau di Tempo Antigo: o Porto Interior

Porto Interior. Illustação Portugueza de 14 de Dezembro de 1908

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Largo do Pagode do Bazar

Largo do Pagode do Bazar. Macau. Maio de 2006

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Chunambeiro

«Xinamo, Chunname, ou Chunambo. Cal obtida pela calcinação de conchas de mariscos. O motivo de admissão do termo indiano é que a cal da Ásia se faz de outro material. O étimo é o malaiala Chunambra, relacionado com o neo-arcaico chunã, sanscrito churna. É de chunambo que deriva a palavra Chunambeiro, empregada em Macau para designar o antigo local, próximo da fortaleza de Bom Parto, no extremo sul da baía da Praia Grande. Nesse local havia antigamente fornos de cal de ostras, e também foi o local da antiga fundição de artilharia e a casa da pólvora organizada pelo célebre Manuel Tavares Bocarro, no século XVII» C.R. Boxer, Azia Sinica e Japonica.
A construção do aterro do Chunambeiro data de 1871; em 1873, iniciou-se a extensão da rua da Praia Grande, desde o aterro do Chunambeiro até ao Bom Parto. Até então, o percurso da povoação da Barra à Praia Grande fazia-se através da colina de Santa Sancha, um dos sítios mais isolados da cidade, onde existiam apenas algumas casas de campo.

San Má Lou

Avenida de Almeida Ribeiro (San Má Lou). Macau. Maio de 2006


Rasgada em 1915, a Avenida de Almeida Ribeiro - nome do ministro das colónias, que na altura sancionou a verba para a expropriação das casas e para a abertura da avenida - começa na Praia Grande, onde esta avenida cruza com a do Infante D. Henrique, e termina no Porto Interior, em frente à Ponte-Cais nº 16, na Rua do Visconde de Paço de Arcos. Os chineses designam-na por San Má Lou, a «avenida nova», «estrada nova» ou «caminho novo para os cavalos».
N
esta avenida, que veio cortar a zona do bazar chinês, vieram instalar-se os mais luxuosos hotéis e os melhores estabelecimentos comerciais, sobretudo as joalharias.

terça-feira, 9 de maio de 2006

O dragão embriagado

No templo de Sam Kai Vui Kun ou Kuan Tai. Maio de 2006


Dia de festa, este 5 de Maio: foram as festividades do banho do Buda, foi a festa do dragão embriagado no templo de Sam Kai Vui Kun, ali junto ao Mercado de S. Domingos. E foram as festividades de Tam Kung, em Coloane.
A festa do Tchoi-Long, o dragão embriagado, que se realiza no oitavo dia do quarto mês lunar, está associada a uma lenda.
Segundo essa lenda, Buda terá esquartejado o dragão enquanto este se banhava num rio; mais tarde, a cabeça e a cauda do dragão seriam encontradas por um pescador embriagado, que, por mais buscas que fizesse, nunca chegou a encontrar o resto do corpo do animal. Nesta festividade, que se deveria chamar do «pescador embriagado», e não do dragão, pois este nem uma pinga terá bebido, os pescadores, estes sim, embriagados, percorrem algumas ruas de Macau transportando apenas a cabeça e a cauda do dragão, numa animada dança em busca do corpo do dragão.
O templo de Kuan Tai, que se situa numa das ruas de acesso ao mercado de São Domingos (Rua Sul do Mercado de São Domingos), é um pequeno templo, construído em 1750 e restaurado por diversas ocasiões, também conhecido por Sam Kai Vui Kun, pois foi sede da associação Sam Kai – ou das três ruas: dos Mercadores, das Estalagens e dos Ervanários -, a associação mais antiga de Macau. No espaço que defronta o templo, normalmente ocupado por bancos e vedado para impedir o estacionamento de motorizadas, montou-se um palco onde, uma enorme azáfama se manteve ao longo do dia, sobretudo por parte das mulheres, em volta de enormes tabuleiros de comida. Duas enormes filas de pessoas aguardavam a distribuição da parte do repasto que lhes cabia. Uma espécie de bodo, como nas nossas festas do espírito santo, só que aqui não se come no local, cada qual leva a sua parte da refeição, em embalagens próprias.