domingo, 30 de março de 2008

Altar no Beco da Ostra

Altar no Beco da Ostra em Macau, Julho de 2007

Árvore de S. José ou Falsa Figueira do Pagode

Rua dos Estaleiros. Coloane, Março de 2008

Árvores de S. José - Ficus Rumphii Blume (família das Moraceae)-, também designadas por falsa figueira do pagode, na Rua dos Estaleiros em Coloane.

sábado, 29 de março de 2008

Rua de Fernão Mendes Pinto

Rua de Fernão Mendes Pinto em Macau. Março de 2008

Troço da Rua de Fernão Mendes Pinto entre a Estrada de Coelho do Amaral e a Rotunda de Carlos da Maia (mais conhecida por três candeeiros), com as suas tendinhas de calçado e de roupas, bijutarias, de venda de fruta e cozinhas ambulantes, a par das lojas de quinquilharia, papelaria e artigos de vestuário.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Venda de Ovos

«Mercearia Va Heng», Rua da Emenda. Macau, 2008

Consultório

«Consultório de Associção Chinesa da Ultramarina Birmanesa», na Rotunda de Carlos da Maia (Três Candeeiros). Macau, 2008

«A casa ensombrada da Rua do Campo»

Voltamos à Rua do Campo, a uma outra mansão, há muito demolida, que aí existia e que, diziam, estava assombrada. A história conta-a Luís Gonzaga Gomes nas Lendas Chinesas de Macau (Edição Notícias de Macau, 1951). Diz-nos «(...) que nessa rua existia um enorme casarão com um grande jardim, sendo seu dono um abastado chinês, mas depois da época de kuâi-tchân-ôk (os demónios abalam as casas), isto é, em que Macau foi visitada por uma assustadora série de abalos sísmicos, porém, sem graves consequências, nunca mais ninguém ousou lá habitar, vindo o jardim desta vasta propriedade a ser aproveitado para se fazer o Jardim de S. Francisco, que ficou separado do edifício por uma rua lateral.
A entrada principal do enorme casarão ficava em frente do Hospital S. Rafael e o seu proprietário, que enriquecera com o negócio do sal, quando o mandou construir, julgava poder manter unida a sua família através de seis gerações. Infelizmente, à quarta geração, os seus descendentes foram obrigados a dispersar-se e a abandonar aquele casarão sem poderem satisfazer os desejos do seu ilustre ascendente.
O casarão possuía ao todo cinco entradas e trinta e um quartos e ninguém ousava habitá-lo por se ter verificado que nele viviam vinte e oito almas penadas».

Vinte e oito almas penadas e ninguém ousava lá morar. Apesar dos feitiços e amuletos para afastar os espíritos, o seu número foi aumentando com o passar do tempo. Vieram exorcistas e bonzos, celebraram-se esconjuros, mas tudo foi em vão. A casa continuava assombrada. Veio um sacerdote tauísta, que recorrendo a outro tipo de exorcismo, socorreu-se do cadáver ressequido de um pirata com o objectivo de assustar os maléficos entes. Mas, nem o pirata ressequido, nem espadas e chibatas ensanguentadas moveram dali os fantasmas. Nada os assustava. Por fim, um dia, um grupo de auteiros - e Gonzaga Gomes esclarece que «auteiro» era o «
nome por que eram designados em Macau os actores de autos, isto é, de representações teatrais chinesas» -, ofereceu-se para expurgar o casarão. Instalados no casarão, os actores, depois de montado o cenário e de devidamente disfarçados de diversas entidades divinas, esperaram pela meia-noite, hora a que as almas penadas começaram a aparecer. Ao depararem com a presença das divindades, e entre elas a de Kuan-Tai, Deus da Guerra, os fantasmas submeteram-se aos deuses e acabaram por fugir espavoridos com os berros do deus da guerra. Os actores, contudo, que nada tinham de divino, tremiam que nem varas verdes.
A explicação para a presença dos espíritos maléficos é dada por um prior budista que, «explicou que aquilo era obra das vítimas do antepassado dos donos do casarão, uma mágico tauísta, que se enriquecera por meio da sua oculta arte, roubando a riqueza, a longevidade, a essência espiritual e a boa sorte dos seus semelhantes. Portanto, aquele edifício só poderia voltar a ser habitado por entes humanos no dia em que fosse completamente extinta a sua estirpe, visto que só assim é que as almas penadas deixariam de voltar a este mundo, por já não haver ninguém a quem pedir reparação das maldades do mago tauísta de quem em vida foram vítimas».
Desabitado por muito tempo, o casarão acabaria por ser demolido e no seu lugar construídos novos edifícios e novos arruamentos.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Árvore do Pagode

Jardim Luís de Camões. Macau, 2008

Árvore do Pagode - Ficus Microcarpa L. F -, também conhecida por Baniana Chinesa, da família da Moraceae, no Jardim de Luís de Camões.

Ficus Microcarpa, na Wikipédia

quarta-feira, 26 de março de 2008

Casa na Rua do Campo

Rua do Campo. Macau, 2008

Exemplo representativo do cruzamento de culturas, com o interior em estilo chinês e o exterior com as arcadas e as duas torres que lembram uma igreja, a casa foi construída em 1916 e foi residência de Kou Hening, um importante comerciante de Macau.

terça-feira, 25 de março de 2008

Pak Kok Ting, o Pavilhão Octogonal

A Biblioteca Chinesa de Macau situada no Jardim de São Francisco. Março de 2008

Inaugurada a 1 de Novembro de 1948, a Biblioteca Pública da Associação Comercial de Macau - a mais antiga biblioteca chinesa de Macau - é conhecida, entre os chineses, por Pak Kok Ting, ou seja, Pavilhão Octogonal.
O pavilhão, contudo, foi erigido em 1927, projecto do arquitecto chinês Chon Kuan Pui, e era, então, propriedade de um macaense, sendo adquirido, nos anos 40, pelo empresário Ho Yin, que na altura exercia o cargo de vice-presidente da Associação Comercial. Foi doado à Associação quando esta decidiu, em 1947, criar uma biblioteca pública chinesa.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Árvores de Macau: Bombax ceiba

Jardim de Lou Lim Ieoc, Macau, 2008

Bombax Ceiba L., da família das Bombacaceae, designada em cantonense por Muk Min (ou seja, árvore do algodão). As flores, de cor vermelha ou, por vezes, alaranjada, surgem antes do desabrochar das folhas, entre Fevereiro e Março.

Sobre a Bombax Ceiba, na Wikipedia.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Efeitos Navais e Utilidades Domésticas

«Cheng Kei Efeitos Navais e Utilidades Domésticas», na Rua de 5 de Outubro. Macau, 2008

segunda-feira, 17 de março de 2008

Santo António

Largo e Igreja de Santo António. Macau, 2008

Situado entre a Rua de St. António, a Calçada do Botelho e o Largo de Luís de Camões, do largo de Santo António têm-se ainda acesso, por uma escadaria, ao Largo da Companhia. A igreja, conhecida entre os chineses por Fa Vong Tong, ou seja, Igreja das Flores, por ser nela que se celebravam os casamentos da comunidade portuguesa, é uma das mais antigas de Macau. Anterior a 1565, foi inicialmente construída em bambu e madeira e reconstruída em 1638. A fachada e a torre foram renovadas em 1930, obras estas que se encontram assinaladas numa lápide existente do lado direito da fachada.

«Entras num jardim, há velhos por todo o lado»

Jardim de Lou Lim Ioc. Macau, 2008

«(...) Estás cansado. Entras num jardim, há velhos por todo o lado, a jogar, a conversar. Lá para o fundo, uma mulher faz exercícios corporais, ou espirituais, ou ambas as coisas. Mais longe ainda, uma rapariga e uma velha parecem contemplar do muro a cidade, ou o mar. A velha tem os olhos cravados na distância, a rapariga leva à boca uma flauta - um fio de música sobe, sobe no ar como uma estrela de papel. Não tardará que anoiteça».
Eugénio de Andrade. Pequeno Caderno do Oriente. Instituto Cultural da RAEM e Instituto Português do Oriente, 2002

sexta-feira, 14 de março de 2008

No Pavilhão da Poesia

Jardim de Lou Lim Ieoc. Macau, 2008


No Pavilhão da Poesia

Amanhecera.
A brisa da Primavera
Passou ligeira...
Na página, onde eu escrevia,
Uma poesia,
Caíram as flores rosadas,
Delicadas,
De um tronco de cerejeira.

Maria Anna Acciaioli Tamagnini. Lin Tchi Fá. Flor de Lótus. Editorial Tágide, 2006

Pé Gigante

«Estabelecimento de Comida Pe-Gigante», na Estrada de Coelho do Amaral. Macau, 2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Cores do Oriente

Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, Tap Seac. Macau, 2008

O Templo de Tou Tei no Patane

Templo de Patane (Maio de 2007)

É um templo curioso, situado nas faldas da colina onde se encontra o jardim Luís de Camões, composto por três pavilhões, dedicados a Tou Tei, o deus da Terra, a Kum Iam, a deusa da Misericórdia, e a Buda.
Gonzaga Gomes - nas Lendas Chinesas de Macau - relata-nos a lenda associada a este templo:

«Contam que, há já muito tempo, vivia na Seák-Tch'éong-Kai (Rua da Parede de Pedra), nome que a edilidade local simplificou para Rua da Pedra, um indivíduo chamado Lâm-Mau, cujo filho, Lâm-Seng, era tido por extremamente piedoso, pois afirmavam que praticava com extraordinária dedicação todos os deveres de piedade filial.
Um dia, porém, Lâm-Mau foi preso, por ter cometido certo delito e a sua mulher faleceu, ralada por tão grande desgosto.
Lâm-Seng, privado da companhia dos seus pais e sem meios de vida, resolveu suicidar-se, enforcando-se numa frondosa árvore que nascera junto de dois ou três rochedos, no sítio onde os moradores daquele bairro costumavam “bater cabeça” aos deuses locais.
Porém, três vezes atou Lâm-Seng a corda a um dos mais grossos troncos da mencionada árvore e três vezes ela arrebentara, sem que ele conseguisse enforcar-se.
Nisto, passou por aquele sítio, um indivíduo que, vendo-o em tal apuro e inteirado da sua grande aflição, recomendou-lhe que jogasse ao sán-piu (lotaria chinesa), para o que lhe deu um punhado de moedas de prata.
Seguindo este conselho, Lâm-Seng dirigiu-se, lépido, a uma loja ali próxima, onde marcou, no impresso que lhe forneceram, os caracteres que lhe tinham sido indicados pelo desconhecido, vindo a ganhar, na extracção dessa noite, algumas centenas de patacas que, como filho dedicado, empregou para conseguir a liberdade do seu progenitor.
Os moradores da Rua da Pedra, quando tiveram conhecimento do caso, chegaram à conclusão que o desconhecido, que dispensou a sua protecção a Lâm-Seng, outro não devia ser senão um dos deuses locais, que tomara a forma humana para vir a este mundo recompensar os belos sentimentos de piedade filial daquele jovem.
Para comemorarem esta milagrosa aparição, resolveram os moradores da Rua da Pedra quotizar-se para edificar o T'ou-Tei-Miu (Templo dos Deuses Locais) e fundar uma associação destinada a angariar e gerir os fundos destinados à conservação dessa casa de devoção e a organizar os festejos que, anualmente, se costumam celebrar em honra dos deuses locais».

Sobre as festas em honra de Tou Tei, aqui, no Tai Cung Pou.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Pagodes

Templo do Patane. Macau (Maio de 2007)

Denominaram-nos por largo do Pagode - do Bazar, da Barra, do Patane -, embora em Macau não existam pagodes. Muitos autores, nomeadamente Jaime do Inso, que chama a atenção para este facto, persistem em chamar pagodes a estes templos.
Gonzaga Gomes explica a origem da palavra e as razões pela qual não existem pagodes em Macau:
«A palavra “pagode”, que deriva do indostânico pokoda ou bootkoda, ou do persa butkuda que, por sua vez, se enraíza no sânscrito chagavati, significa “casa dos ídolos”, “abóboda divina” ou “mansão sacra”.
Os pagodes são edifícios geralmente de sete a nove andares – há com menos – mas sempre em número ímpar, porque os números ímpares são propícios para os chineses, e em forma de obelisco hexagonal ou octogonal, sendo a sua construção exigida pelo Fong Sôi (geomância).
Existem duas variedades de pagode: fát'áp, pagode florido, e mân t'áp ou pât'áp, pagode literário ou pincelar.
Macau, cidade santa, tanto para europeus como para os chineses, excepcionalmente privilegiada de calamidades e prospérrima desde o início da sua fundação, jamais necessitou de recorrer à erecção de pagodes, para barrar a influência aziaga dos quatro ventos» (in Macau Factos e Lendas).
Ainda sobre pagodes, escreve Jaime do Inso no seu livro China: «Aquelas torres – fa-tap, ou jarras de flores – não são templos nem distintivos de templos, mas servem, apenas, não sabemos por que misteriosas influências ou conjurações, para afastar os fong-soi, ou inimigos das alturas e atrair os bons ventos, os bons influxos aéreos – quem sabe se os bons espíritos, também – assunto este que ainda não nos foi dado profundar».
As torres de pagode têm por função atrair bons vento e, sobre este aspecto, Macau possui uma situação privilegiada e nunca precisou de pagodes para se proteger de influências nefastas. Questões de geomância, como frisa Gonzaga Gomes. Daí, não existirem pagodes em Macau, mas, em compensação não lhe faltam templos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Deolinda da Conceição (1914-1957)

Deolinda da Conceição.
(Fotografia: http://www.arscives.com/Deolinda/Default.htm )


«Deolinda da Conceição’s stories are exemplary tales, which invite us to ponder on the pitfalls of material ambition, even if such aspirations are relatively modest, such as in a little girl’s desire for a pretty pair of shoes or a young woman’s desire for a jade ring, and to reflect on the determinants of pride and prejudice, such as in the shame felt by a young Eurasian boy at his Chinese mother’s behaviour, in a still stratified colonial society. Deolinda’s world is often a bleak one, characterized by the masculine pursuit of war, unremitting oppression and social inequalities. Only occasionally is there a glimmer of human solidarity, such as when a group of invading Japanese soldiers protect a new-born child, or a colonial policeman shows a group of destitute refugees to a bread queue, or a model, who has her career cut short by an accident, turns to adopting orphaned children. Altruism and a happier ending seem possible when her characters follow the path of resignation and abstinence, or when they somehow relinquish the role by which they are defined socially.» David Brookshaw in «Introduction to Deolinda da Conceição».

«Deolinda deixa-nos a mulher mergulhada num clima de saturação e crise de melancolia onde os sentimentos de solidão, fragilidade e impotência em relação ao poder instituído a conduzem a uma aparente ruína simbólica da qual a maior parte das suas personagens são capazes de sair de forma reforçada. Esta maneira de abordar o problema, fazendo pequenas, mas seguras roturas no mundo masculino, tornam-na a primeira dissidente». Inácia Morais na introdução ao livro de Deolinda Conceição Cheong-Sam - A Cabaia (5ª edição)

E, no Tai Chung Pou, sobre «A Autora de "A Cabaia"».

Hoje, às 18:30, na galeria da Livraria Portuguesa: «Uma mulher macaense: Deolinda da Conceição», uma viagem pela vida e obra da primeira escritora e jornalista de Macau.

Cortina e quinquilharia

«Cortina Equinquil Harta Tim Mong Yi», na rua da Praia do Manduco. Macau, 2008

sábado, 8 de março de 2008

Farol da Guia

«Monte já dá tiro, tufão grande tá vem;
azinha marrá janela, trancá porta também»
(Provérbio Macaense)

A aproximação dos tufões era, antigamente, assinalada por tiros de canhão disparados da fortaleza do Monte. Foi em 1874, a 22 de Setembro, quando da passagem do mais violento tufão registado em Macau, que foram disparados, do canhão do farol da Guia, pela primeira vez, os tiros de alerta à população, que deveria prevenir-se pregando portas e janelas - «marrá janela, trancá porta também».

Colina da Guia

Farol da Guia

«Subimos à colina da Guia. Os declives estão cobertos de árvores, sob as quais serpejam românticas veredas. No tope, surge, sempre entre arvoredo, uma branca muralha. Na muralha há uma porta, sobre a porta uma lápide com a coroa de Portugal e uma inscrição assinalando o nascimento da fortaleza em 1638. Dentro, ao fim das rampas, correm os bastiões, com velhas peças de artilharia, rimas de pedra bombarda, alvas atalaias, tudo em ambiente de antanho. Ao centro, ergue-se o venerando farol, e a seu lado, uma remota capela, cheia de silêncio e de lousas tumulares. Atrás, outra esplanada, onde o faroleiro cultiva, em luta com o clima uma videira de Portugal, para matar saudades... O panorama é muito belo. Abrange-se toda a cidade, as ilhas que a cercam, o mar que dorme entre elas e, ao longe, as graves montanhas da China». Ferreira de Castro. A Volta ao Mundo (1944), in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. tomo 3. ICM, 1996

Fortaleza da Guia

Capela e Farol da Guia, Macau

«Esta fortaleza foi construída entre 1622 e 1638. No seu interior encontra-se a Capela da Guia, estabelecida por freiras clarissas, que aqui residiram antes de fundarem o convento de Santa Clara. As pinturas murais da capela ilustram temas ocidentais e chineses, com motivos de inspiração religiosa e mitológica, e constituem um exemplo perfeito da dimensão multicultural de Macau. O Farol da Guia, inserido no perímetro da fortaleza, foi construído em 1865, sendo o primeiro farol moderno na costa chinesa. A Fortaleza da Guia, a Capela da Guia e o Farol da Guia são símbolos do passado marítimo, militar e missionário de Macau». in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho de 2005.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Com(templo) daqui

Macau, 2008

COM (TEMPLO) DAQUI

Templo-incenso de onde nascem todos os perfumes
Pai e mãe nesta terra esquisita de cheiros
e jogos perfumados às vezes com sorte

O vermelho-constante
A vida O sangue A alegria
que aqui é fartura em profusão de cores

Dourado em tudo

(Pobres dos jesuítas...
que não puderam fazer com o mesmo brilho
o seu espectáculo em ouro de brasis)

O escuro do fumo
que tudo envolve
entre pivetes Velas Papéis que ardem
levando em falsos dinheiros
o sossego para o outro mundo
sem crises cambiais
ou de qualquer bolsa
que transformam vivos
em almas penadas

Gentes
Gentios circulando em magotes
atropelando-se em vénias
perante budas inertes
no estático sorriso
da eterna felicidade

Salamaleques chins apivetados
joelhos curvados em paus de sortes
rodopiando da tartaruga futurista
para o chão sujo de sorte e azar
A recordação dos que se foram
em photomaton
A grande muralha em troféus-amor
de papel-saudade

E o fumo subindo no ar
pesado
transporta os pagamentos
de dívidas
lembranças
desejos

Mas afinal tudo é simples
e como noutros mundos
os conflitos resolvem-se
na gestão dos banquetes

O leitão brilha
escorrendo ouro em mel
entre os pivetes que o transportam
nos fumos para o além

E estes budas, meus senhores,
têm digestões eternas

Fernando Sales Lopes. Pescador de Margem. Livros do Oriente, 1997

terça-feira, 4 de março de 2008

Retrato de um calígrafo

Tap Seac, Macau (21 de Julho de 2007)

retrato de um calígrafo

tuas palavras elos de bronze,
teu casto canto absoluto,
teu olhar tão desprendido e fugaz
como uma íris de chá de primeira apanha
no fundo de uma preciosa taça negra

seiva, sombra, lenho, fogo
terra leve, barro novo

Fernanda Dias. Chá Verde. CA - Círculo dos Amigos da Cultura de Macau, 2002

segunda-feira, 3 de março de 2008

A festa de Kum Iam

No Kum Iam Tong, na Av. do Coronel Mesquita, em Macau (3 de Março de 2008).

No 26º dia do primeiro mês lunar a deusa Kum Iam - deusa da compaixão e da misericórdia - «abre os cofres» para emprestar dinheiro aos seus crentes. Este evento, designado por Kum Iam Hói Fu, faz afluir aos templos dedicados a esta divindade uma multidão de devotos, cujas dádivas incluem incenso e fruta, dinheiro e lingotes de ouro (em papel), flores e moinhos de vento.

A história da festa de Kum Iam no Tai Chung Pou.

domingo, 2 de março de 2008

Rua do Patane

Rua do Patane. Macau, 2008

Rua do Patane: os chineses chamam-lhe Sá Lei T'au Kai ou rua das Peras. Luís Gonzaga Gomes explica a razão porque é assim designada: «Quando se construíram as casas em Sá-Kong, as ruas que as delimitavam, irregularmente, faziam lembrar o formato de uma pera. Daí o facto de terem dado o nome de Sá-Lei-T'au a este local, onde existiu, em tempos, a povoação, entre nós conhecida por Patane que, mais tarde com o desenvolvimento da cidade, veio a constituir o bairro desse mesmo nome, sendo, presentemente, o local onde se encontram concentrados todos os estabelecimentos comerciais que negoceiam com o interior da China e tão intenso é o movimento das suas ruas que, a certas horas do dia, se torna difícil transitar por elas». («Sá-Kong e o Templo do Patane», Lendas Chinesas de Macau, Notícias de Macau, 1951)

Em chinês...

«Cai Lok em chinês», na Rua de 5 de Outubro. Macau, 2008