sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Tap Seac

O Tap Seac visto da Colina da Guia (Junho de 2007).

Lá em baixo o Tap Seac, que em chinês significa Torre de Pedra e que é cortado pela Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida. Para os chineses, que nunca souberam quem foi tal conselheiro, a avenida é conhecida por Hó Lán Un, ou seja, a via dos holandeses, recordando, assim, o episódio de 1622, quando os holandeses, depois de desembarcarem mais a norte, na praia de Cacilhas, avançaram até à então zona pantanosa que hoje constitui o Tap Seac e a referida avenida.
O padre Teixeira explica que nesta área do Tap Seac «havia uma extensa várzea, que foi saneada quando se abriu a ampla Avenida de Vasco da Gama» (já há muito desaparecida). Deve-se a Horta e Costa, governador de Macau de 1894 a 1897, e ao engenheiro Abreu Nunes o saneamento das várzeas de Tap Seac, de Sá Kong e de Mong-Há, «as quais pelas águas das chuvas represadas pelos agricultores e pelo adubo que nelas se empregava - fezes humanas - constituíam um grande foco de infecção e de paludismo» (Toponímia de Macau, vol I, p. 459).

Comidas Saudáveis

«Loja de Comidas Saudáveis Choi Chi Lam» na Rua de Camilo Pessanha. Macau, 2008

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Templo de Sam Po

Rua de Fernão Mendes Pinto, na Taipa (Junho de 2007).

Inicialmente instalado numa gruta natural e tendo como paredes traseiras os enormes rochedos da encosta, o pequeno templo de Sam Po foi construído em 1858 após a recolha de fundos pelos pescadores locais. Sam Po, irmã da deusa Tin Hao, era venerada pela comunidade piscatória por ter protegido os pescadores contra os ataques dos piratas. A ilha da Taipa, tal como a de Coloane, era reduto de piratas que nela se escondiam após os assaltos às embarcações.

Rede do Património Cultural de Macau: templo de Sam Po

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Jardim Luís de Camões

O Jardim Luís de Camões em Macau (Maio de 2007).

É um dos meus espaços preferidos em Macau. «O jardim da Gruta de Camões é um dos sítios mais aprazíveis do nosso pequenino domínio no Extremo Oriente; ao prestígio da sua velha lenda reúne o encanto natural da posição culminante, dos horizontes vastos, da vegetação vigorosa que aqui encontra asilo, aconchegada com as rochas contra a fúria inclemente dos tufões», escrevia, em 1890, Wenceslau de Moraes (Traços do Extremo Oriente). De facto, este jardim é único em Macau, com os diferentes tons de verdes, dos fetos e das avencas, das palmeiras, das bananeiras, das acácias ou das borracheiras e árvores de S. José. Nos seus recantos frondosos, ora se joga, ora se conversa. E não lhe falta, agora, os passeios com as pedras polidas e arredondadas, onde se pode massajar os pés.

Cozinhas Ambulantes

Vendilhão de Agar Agar. 1960. Fotografia de Lei Chiu Vang.
(in: Visita ao Passado - Fotografias de Lei Chiu Vang. Museu de Arte de Macau)

«(...) Eram simples algumas das cozinhas ambulantes que os proprietários transportavam às costas sem esforço aparente. Uma vara de bambu com um armário dependurado numa extremidade, onde levava os produtos cozinhados, e na outra uma caixa ou caixote de zinco que acondicionava um fogão para lenha ou carvão, compunham, geralmente, a tralha de tão curioso cozinheiro.
Em volta ou dentro do armário colocava as tigelas e pequenos pratos, os "fai-chis", pauzinhos, e um balde com água onde lavava as tigelas que iam sendo utilizadas. (...)»
José Silveira Machado. «Cozinhas Ambulantes», in Macau na Memória do Tempo. Ed. do Autor, 2002

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Oferendas

Pequeno oratório na rua do Dr. Soares. Macau, 2008

Tarde de chuva fria e miudinha. À porta de um estabelecimento de comidas, as oferendas aos deuses - laranjas, maçãs, porco assado, galinha - são cuidadosamente dispostas em frente do pequeno oratório. Porque os deuses também se alimentam.

«Os deuses lares»

Seguimos o fio dos dias no labirinto
(A cidade não é só as ruas
é também os ares, estrelas e pássaros
folhas e flores e papéis no vento.
Flâmulas da urbe terna de quem falamos
como se a amássemos
ou se temessemos perdê-la
na neblina). Ancorados como barcos

Falamos de voos e de viagens
adiados ou quase consumados
é a sagrada passividade que nos une
e o fluir dos sonhos iguais.

Apertamos as mãos, beijamo-nos por vezes.
E sinuoso, sobe o fumo de sândalos dos pivetes
no altar dos deuses lares.

Fernanda Dias, Horas de Papel (Poemas para Macau). Livros do Oriente. 1992

Calçada do Teatro

Calçada do Teatro. Macau, 2008

Calçada do Teatro: começa na Rua Central, mesmo em frente à Calçada de Santo Agostinho, e termina no Largo de Santo Agostinho.
O teatro, ao qual foi dado o nome de D. Pedro V, foi construído em 1860 segundo o risco do macaense Pedro Germano Marques. A actual fachada data de 1873 e foi delineada pelo Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo, tendo sido restaurada, em 1918, por José Francisco da Silva (conforme P. Manuel Teixeira, Toponímia de Macau, vol. I)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Cores do Oriente

Esfregonas, vassouras e moinhos de vento à porta de uma pequena mercearia na zona do Porto Interior. Macau, 2008

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Rua da Pedra

A Rua da Pedra que os chineses designam por Seák-Tch'éong-Kai, ou seja, Rua da Parede de Pedra. Macau, 2008

Altar

Altar no Pátio da Agulha. Macau, 2008

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Fragmentos

Taipa. Beco da Formiga.

«Macau envelhecido nas fachadas;
rostos, aguarelas nos postigos;
luzes, sombras; contrastes muito antigos;
fios, gaiolas, roupas penduradas.
(...)»
António Correia. «Quadro de Macau Antigo», in Antologia de Poetas de Macau.

Pátio das Calhandras

Pátio das Calhandras. Macau, 2008


Delas se diz que voam rasteiro
que são de bico forte
como as cotovias
as calhandras

Há galegas e lavercas
cochichos e de crista
e se ribeirinhas crescem
calhandrinhas marítimas

E há este pátio
onde entraram
de asas siando
perfurando as lajes húmidas
debicando as migalhas
que a memória lá foi deixando
cantando talvez
quando as portas e as quase janelas
rangendo
lhes soavam como sinos
de sol de lua de chuva ou de vento

Não há é calhandrices

Pelo menos é o que (me) conta o letreiro

João Rui Azeredo. Pátio das Palavras. Macau 1995

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Festividade do Ano Novo Lunar (III)

Mercearia na Rua do Rebanho. Macau, 2008

«(...) À medida que se aproximando o dia festivo, vão-se animando as ruas. Em lugares mais frequentados, organizam-se feiras, onde os negociantes improvisam as sua tendas repletas de artigos de louça e de todos os objectos adequados ao uso caseiro. Prosperam nesses dias os impressores ambulantes que não cessam de satisfazer os pedidos de numerosos clientes com vermelhos cartões de visita impressos em caracteres de fantasia. As mercearias regurgitam de fregueses que necessitam de fazer as suas provisões, pois, durante alguns dias, ninguém trabalhará na China e todas as lojas se conservarão encerradas.
(...)
São as tiras de coco, bocados de tomate, sementes de loto, talhadas de gengibre, coquinhos descascados, laranjinhas, pedaços de abóbora, rodelas de raízes de lótus, tudo cristalizado e frituras de variada espécie, primando os tchin tui de Lông Kóng, esferas de massa com recheio adocicado e todo salpicado por fora com gergelim - os tchin tui à moda de Káu Kóng, os u há, fios de inhame torrados - os azeitados t'óng uán e os tão apreciados e indispensáveis tái long kou - espécie de pudim seco e compacto, preparado com farinha de arroz glutinoso. (...)»
Luís Gonzaga Gomes. «A Festividade do Ano Novo», in Macau Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau. 1994

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Festividade do Ano Novo Lunar (II)

O Deus do Fogão

«(...) Chegado o dia 24 da última Lua, não há casa nenhuma que não celebre sacrifícios ao Tchou Ká P'ou Sát ou Tchou Kuân (o Senhor do Fogão) cuja imagem, enegrecida pelo fumo, se encontra num nicho escavado na parede, mesmo atrás do fogão. Esta imagem, em cartão, conforme a fantasia e a imaginação do artista, seu autor, é representada por um velhinho, tendo a seu lado uma velhinha, sua companheira, ambos sentados, no seu respectivo trono, ou por um homem de meia idade e barrigudo, tendo ao seu lado um cavalo, ou ainda por um solerte jovem em atitude de agente fiscal, segurando uma tabuinha numa das mãos, na qual aponta com irritante zelo tudo quanto observa em casa de cada um. Aqueles que não puderem despender uns cobres para a compra desta imagem limitar-se-ão a aplicar, na parede, atrás do fogão, uma folha de papel vermelho, onde pincelarão os caracteres correspondentes ao nome e respectivos títulos da divindade em questão, pois, sendo ela o agente de ligação entre os mortais e os celícolas, o espia que tudo vê para ir relatar ao soberano do Céu, quem há que se atreva a deixar de lhe "bater a cabeça", de lhe acender umas velas e de lhe oferecer alguns bolinhos?
Tchou Kuân foi, primeiramente, cultuado pelo imperador Mou Tâi, no ano de 133 a.C. devendo ter sido, primitivamente, o deus do Fogão, o Agni dos brâmanes.
Para cativarem e lisonjearem esta intriguista e coscuvilheira divindade, a fim dela não ir intrigar junto de Iôk Uóng, o Imperador Jade, a respeito da conduta moral e outras mazelas dos membros de cada família, que teve oportunidade de observar, no decorrer do ano, tratam de lhe apresentar deliciosos manjares e saborosos doces com que julgam poder adoçar-lhe os lábios, e muitos, com o fim de o entorpecerem ou de o porem de bom humor, não se esquecerão de lhe oferecer capitosos e inebriantes licores e ópio, certos de que desta forma o tornarão mais tolerante. Dos que não andam com a consciência tranquila, há quem trate de adoçar os beiços desta divindade com mel ou com dois bocados de jagra ou de a embriagar, molhando a sua imagem em vinho.
Entretanto, improvisa-se um pequeno altar no átrio, com o fim de se instalar a sua imagem, berrantemente policromada, que é transportada numa lecticazinha, entre velas, pivetes e incensadores e, depois de o adularem, "batendo-lhe a cabeça", por três vezes e murmuradas umas orações, chega-se-lhe a chama de uma vela, para Tch'ou Kuân poder ascender em fumo ao trono perlífero.
A imagem deste deus da cozinha costuma também ser incinerada com alguns fios de palha e borrifada com água ou chá, a fim de o cavalo que o transportará para junto do trono perlífero não padeça fome nem sofra sede, durante a fatigante viagem, que durará sete dias, tanto para a partida como para o regresso. Durante esses dias da ausência do deus-espião, todos respiram, livremente, vivendo despreocupados, pois grande é a sensação de alívio que experimentam com a sua ausência.
Assim como na partida da divindade, o seu regresso é saudado, nas primeiras horas do Novo Ano, com uma ininterrupta salva de panchões. Nova cópia da sua imagem é entronizada, cerimónia que finda com respeitoso "bater de cabeça" e devoto oferecimento de alguns pivetes acesos (...)»
Luís Gonzaga Gomes. «A Festividade do Ano Novo», in Macau Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau. 1994

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A Festividade do Ano Novo Lunar (I)

As três divindades da Felicidade, da Prosperidade e da Longevidade.
in Xilogravuras do Ano Novo Lunar.


«(...) De todas [as festividades chinesas], a mais prolongada, ruidosas e aparatosa e, portanto, aquela que se festeja com o mais fervoroso entusiasmo é a da Sân Nin (Ano Novo), para a qual valem a pena todos os sacrifícios que se fizeram durante o ano, com o fim de economizar aquilo que irá ser despendido, generosamente, nos três dias de tão grande solenidade, em que, a não ser os indigentes, todos terão de calçar um par de calçados novos, exibir a sua cabaia de luzente seda, ter em casa o imprescindível para a celebração do tríplice culto, bem como os mimos necessários para os permutar com as pessoas das suas relações, como manda a inflexível praxe.
Em chinês, o dia do Ano Novo é, vulgarmente, designado por nin tch'ó iât (o primeiro dia do ano), dia este que se denomina porém, com mais rigorosa propriedade un tán (primeira alvorada), ou un iat (primeiro dia), ou ainda lei tun (princípio de acção), designação esta extraída da frase léi tun u tch'i, de um passo do Tchó Tchun, um dos treze clássicos chineses, e que significa "princípio com rectidão"
(...)
A entrada do astro-rei no Aquário é saudado, na manhã da data do início de láp tch'án (começo da Primavera) com um contínuo estralejar de panchões (estalos da Índia), logo após a cerimónia de aposição, no meio do dintel das principais portas da casa, dum rectângulo de papel auspiciosamente encarnado e salpicado a ouro, o hông mun tch'in (frente da porta vermelha), bem como da colocação na parede, junto da porta principal, doutro rectângulo de papel encarnado, pincelado com os seguintes caracteres t'in kun tch'i fôk (que o Senhor do Céu nos conceda a felicidade), e ainda de mais uma folha também de papel encarnado, no pé da porta da entrada principal da habitação, onde figuram os seguintes caracteres invocativos mun hâu t'ou tei tchip uáng tch'ói sân (que os deuses locais da porta acolham os espíritos indirectos da sorte), cerimónia esta, que é acompanhada de libações e ofertas de pitéus aos espíritos invisíveis e que termina com a colocação de vários pivetes acesos e a queima de vários pacotes de panchões. (...)».
Luís Gonzaga Gomes. «A Festividade do Ano Novo», in Macau Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau. 1994

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Kung Hei Fat Choi

Hoje, em Macau, a festa foi assim.

Cores do Oriente

Macau, 2008

Flores do Génio da Água

(Narcissus Tazetta - imagem da Wikipedia)

São as "flores do génio da água", as Sôi Sin Fá, flores que brotam dos seixos e que se vendem em Macau por altura do Ano Novo Lunar.
Conta a lenda que um jovem, A Chun assim se chamava, herda por morte do pai um pequeno terreno pedregoso e lamacento. O irmão mais velho, que procedera às partilhas, destinara para si o arrozal e a casa da família, ficando A Chun com o tal terreno pedregoso, junto a um charco, e uma cabana que partilhava com o búfalo.
Sentado à borda do charco, o jovem A Chun pega na sua flauta, que ele próprio fabricara a partir de um pequeno colmo, e começa a tocar uma melodia tão triste como a tristeza em que se encontrava. Ouve, então, outra melodia, uma música misteriosa que nunca antes escutara. Do charco surge a figura de um velho com uma flauta de madeira de salgueiro numa mão e três bolbos na outra. Sorrindo, mas sem dizer uma única palavra, o velho ofereceu-lhe a flauta e os bolbos e desapareceu antes que o jovem lhe pudesse agradecer.
Sem saber o que fazer com estas estranhas dádivas, A Chun sentiu, contudo, uma imensa paz. À noite sonhou que o velho búfalo se transformava no velho do charco e que lhe dizia: "A Chun, planta os bolbos no charco pedregoso. Depois, percorrerás as aldeias e com a tua flauta mágica tocarás para os aldeões".
Assim fez A Chun. Plantou os bolbos no charco, entre os seixos. Durante meses, flautista ambulante, percorreu vilas e aldeias, sempre com a sua nova flauta da qual saíam melodias maravilhosas. Por fim, já no final do Inverno, nas vésperas do Ano Novo, regressa à sua cabana. Para sua surpresa, depara-se com o charco coberto de flores lindíssimas. Eram tantas que A Chun resolveu ir vendê-las no mercado das flores. As flores, cor de marfim, encantavam qualquer um. Contudo, ninguém conhecia tal flor e quando lhe perguntavam o nome o jovem respondia: "Sôi Sin Fá, Flores do Génio da Água".