quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vista panorâmica de Macau. 1870

Vista panorâmica de Macau a partir da Colina da Penha. Anónimo. 1870.


domingo, 10 de junho de 2012

A Praia Grande, c. de 1869

A baía da Praia Grande, cerca de 1869.
Fotografia de John Thomson


John Thomson's China on Visualizing Cultures - Albuns & Image Galleries 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Fumadores de ópio"

"Fumadores de ópio". 
in Felipe Emílio de Paiva. Um Marinheiro em Macau. 1903. Álbum de Viagem
Edição do Museu Marítimo de Macau, 1997



O Caso do Tesouro do Templo de Á-Má (XI)




XI
Às dez horas da noite

No prédio número vinte e seis da "Tai-Ma-Lou", ao bater das dez da noite, Lau-Sin encontrava-se com o homem que ainda na madrugada desse dia pretendera matá-lo.
Astuto era o polícia de modo a não se fiar demasiadamente nas promessas do criminoso e assim, sempre vigilante, tomou com ele lugar numa cama de ópio, no terceiro cubículo da direita, depois de certificar-se de que ninguém estaria próximo, de modo a ouvir qualquer conversa que pudessem ter.
Já de cachimbo preparado, com o ópio devidamente batido, Lau-Sin iniciou a conversa assim:
- Esta noite, por volta das duas da madrugada, tenciono entrar no Templo de Tin Hau para proceder a umas averiguações necessárias. Preciso do teu auxílio para impedir que seja quem for ponha impedimento à minha acção e, assim, virás comigo. Ficas no entanto prevenido de que não usarás de violência para quem quer que seja, a não ser em caso extremo, isto é, em defesa própria. Dou-te adiantadas duzentas patacas e o resto, que tenciono dar-te, ser-te-á entregue, se porventura eu for bem sucedido nas minhas intenções.
- Estou incondicionalmente às tuas ordens e agradeço-te a quantia que me dás - respondeu o chinês. - Não me interessa saber a que vais. És mais inteligente, astucioso e valente do que eu e, servir debaixo das tuas ordens será garantia de bom sucesso. Devo, porém, dizer-te que conheço no Templo de Tin-Hau um bonzo que não é pessoa séria e de quem devemos desconfiar. É ele o bonzo Chan. Conta-se nesta cidade a história do Dragão Perdido, do Templo de Tin-Hau, cujos olhos eram duas pérolas de inestimável valor. Quando o Dragão foi roubado do Templo, um dos olhos, que se desprendeu, ficou na arca onde ele era guardado e, assim, o ladrão levou o tesouro incompleto, existindo presentemente no Templo a pérola que lá ficou e que é uma relíquia pelo seu valor real e espiritual. Dizem, no entanto, na cidade que quem roubou o célebre Dragão foi o conhecido pirata Chau-Seng, auxiliado pelo bonzo Chan, seu cúmplice.
Lau-Sin ficou pensativo por momentos, fumando lentamente e, como que inspirado, lançou esta pergunta ao seu interlocutor:
- Conheces porventura o pirata Chau-Seng? Serias capaz de me levar ao sítio onde ele se encontra, sem que, porém, da sua parte houvesse suspeita de quem eu sou?
- Já trabalhei com Chau-Seng, há anos, e, portanto, conheço-o bem. Sei onde ele se encontra neste momento e, se quiseres, posso levar-te à sua presença. É porém preciso que te disfarces e que encontres um pretexto para procurá-lo, porque Chau-Seng tem trabalhado por vezes no Sul da China e é natural que a sua acção se tenha feito sentir em Macau.
Lau-Sin, levantando-se, disse: - Virás agora comigo à hospedaria, onde procederei ao disfarce conveniente. Levar-me-ás então ao sítio onde se encontra o célebre pirata e deixarás o resto entregue e mim próprio, sem que te esqueças, porém, de que, se me atraiçoas, dar-te-ei o fim que merece um traidor.
E finda esta conversa, os dois homens saíram do fumatório, em direcção à Hospedaria A-Chau.

Francisco de Carvalho e Rêgo. O Caso do Tesouro do Templo de A-Má. Macau, Imprensa Nacional, 1949

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Caso do Tesouro do Templo de Á-Má (X)

X
Na Prefeitura

Sentado à secretária do seu gabinete da Prefeitura, o chinês Vong-Seng-Kuong, chefe da Polícia de Fu-Chau, escutava atentamente as informações que um agente lhe estava prestando.
- Pode crer que o homem que vi e que está hospedado na Hospedaria A-Chau é o chefe da Polícia de Macau, o seu amigo Lau-Sin. - Assim falou o agente.
- Não creio que Lau-Sin tivesse entrado nesta cidade disfarçado, e mais estranho que, estando cá, ainda não me tivesse procurado. - Para mais, que poderá trazê-lo a esta cidade a ponto de fazer com que evite a minha pessoa?
O agente continuou: - Disseram-me os criados da Hospedaria que qualquer coisa extraordinária se passou ontem à noite no seu quarto e que lhes pareceu que uma luta violenta se travou, mas de manhã, viram sair o hóspede, sem dar mostras de fadiga ou de preocupação. Houve até um criado que me disse que tem a impressão de que, há dias, o viu sair disfarçado de mendigo.
Vong-Seng-Kuong. depois de pensar uns momentos, exclamou: - Lau-Sin é capaz de tudo isso e de muito mais. É o polícia mais ousado e astuto que conheço.
- Que instruções deverei dar ao pessoal meu subordinado? - perguntou o agente com interesse.
- Nenhumas - respondeu Vong-Seng-Kuong. - De hoje em diante, enquanto Lau-Sin, ou o homem a que te referes e que julgas ser o chefe da Polícia de Macau, estiver em Fu-Chau, seguir-lhe-ás os passos e, da sua acção, me prestarás diariamente informações. Lembra-te, porém, de que, se o homem em questão é de facto o meu amigo Lau-Sin, deverás prestar-lhe, em momento de perigo, todo o auxílio de que ele careça.
O agente retirou-se e Vong-Seng-Kuong, passeando agitado na sala de um lado para o outro, raciocinava deste modo: - "Se Lau-Sin me não procura é porque tenciona actuar por si só, fora das vistas da polícia local. Não me consta, por enquanto, que em Macau se tivesse dado algum crime que pudesse fazer com que Lau-Sin viesse a Fu-Chau em perseguição do criminoso. Mas, mesmo que assim fosse, porque não recorre ele ao meu auxílio, que lhe poderia ser de tanta utilidade? Enfim! Pôr-me-ei também em acção e passarei a investigar, por mim próprio, o que justifica a sua presença nesta cidade".

Francisco de Carvalho e Rêgo. O Caso do Tesouro do Templo de A-Má. Macau, Imprensa Nacional, 1949