sábado, 9 de janeiro de 2010

Frangipania, a Flor de S. João ou Flor de Ovo

No jardim de S. Francisco (Maio de 2009)
No templo de A-Má, na Barra (Maio de 2009)

A Plumeria rubra L. var. acutifolia (Poir.) Bailey, vulgarmente conhecida por Frangipania, é também conhecida em Macau por Flor de S. João - o santo padroeiro da cidade - e pela designação cantonense de Kai Tan Fa, ou seja, a Flor de Ovo.
A designação frangipania prende-se com um perfume criado, no século XVI, por Muzio Frangipane.
Em Macau encontram-se exemplares um pouco por todo o lado, em parques e jardins, em templos, ou mesmo em pequenos jardins nas praças e arruamentos da cidade. No espaço ajardinado junto à entrada da ponte Nobre de Carvalho existem alguns exemplares de Plumeria rubra com corolas cor-de-rosa.

Fontes:
Wang Zhu Hao. Árvores de Macau. Vol I. Câmara Municipal das Ilhas, 1997
António J. Emerenciano Estácio. Parque de Seac Pai Van. Câmara Municipal das Ilhas, 1995
Wikipedia:
Plumeria

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Estercúlia

No Jardim de Lou Lim Ieoc (Agosto de 2009)

e no Jardim de Camões (Julho de 2009).

Vermelho e em forma de estrela, quando aberto o fruto mantém suspensas, por alguns dias, as sementes pretas, que lembram azeitonas.
Existem alguns exemplares de Estercúlias - Sterculia nobilis Sm. e Sterculia lanceolata Cav. - em Coloane, no Parque de Seac Pai Van, e em Macau, na Colina da Guia e nos jardins de Lou Lim Ieoc e Camões.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Macau, vista do mar

Porto Interior (cerca de 1875-1880)
Lápis e aguarela sobre papel de Marciano António Baptista (1826-1896)
(Imagem: Museu de Arte de Macau)

Macau, vista do mar
«De qualquer das alturas de Macau se goza um belo panorama, mas os viajantes, em geral, preferem ver do mar esta formosa cidade. Dos navios ancorados no porto interior, abraça-se uma perspectiva magnífica: começando na aldeia de Patane, sobre a qual se ergue a decantada gruta de Camões, e correndo ao longo do rio, aqui orlado de casas chinesas, acolá de edifícios cristãos, e todo semeado de embarcações de vários tamanhos e diversíssimas formas, desde o ligeiro gig britânico até à pesada sóma chinesa; vendo mais para interior da povoação as torres da catedral, o zimbório de S. José (colégio das missões, sem missionários) boas casas e jardins, e lá no fundo do quadro as fortalezas do Monte e da Guia, campeando sobre seus elevados outeiros; o grandioso edifício da alfândega, de que já falámos, donde se continua ainda com óptimas habitações, em diferentes planos, até à fortaleza de Sant'Iago da barra, antes de chegar à qual está um dos mais venerado pagodes destas partes.
Olhai que majestade apresenta o todo desse templo chinês, desfeiado apenas por algumas carantonhas, barbaramente pintadas nas suas portas; vêde como sobem essas ruas, costeando a montanha por entre uma vegetação prodigiosa, conduzindo o viajante a várias capelinhas na progressão da subida, um pouco ao gosto do Senhor Jesus da Serra, em Braga, e mesmo em Belas; lá está sobranceira a tudo isto a Ermida de Nossa Senhora da Penha de França, já meia derrocada, e sobre a fortaleza da barra o seu, pessimamente colocado, paiol de pólvora.
É encantador este quadro, mas todos lhe preferem, e eu com as massas, neste ponto, o painel que apresenta Macau, visto do Oceano, quando demandámos o seu porto. Logo para fora da barra se encontra outro forte (pouco forte) que tem a invocação de Nossa Senhora do Bom Parto (do bom porto teimam em chamar-lhe quási todos os turistas destes sítios); forma ele um ângulo agudo, por um lado com a margem do rio, e por outro com a Praia Grande, que se encurva por uma grande extensão até aos escolhos, que servem de antemural à fortaleza de S. Francisco.
A Praia Grande, brilhante aglomerado de palacetes com colunas ao gosto asiático-bretão, e defendida em parte contra o Oceano por muralhas de pedra, tem sofríveis cais, e próximo à residência dos governadores a caricatura de um fortim, à beira-mar, que incomoda os passeantes e não tem utilidade alguma.
Por trás desse enorme renque de colunas, sobre as quais assentam arejadas varandas, encobertas por ciosas gelosias, vêem-se os quintais do Bom Parto, a encosta da Penha, e outros risonhos jardins; lá muito longe as montanhas do celestial império. Seguindo para Oriente torna-se a ver a igreja das Missões, a Sé e o frontespício majestoso do convento de S. Paulo, única parte que resta da incendiada fábrica; para dentro desses cancelos está o campo da igualdade, o cemitério cristão.
Depois lá seguem os fortes de D. Maria II, do Monte, e da Guia (onde nunca estiveram os paços episcopais, erro que já li em mais de um viajante), e descendo sobre o mar encontra-se a fortaleza de S. Francisco, fechando esta perspectiva, como dissemos, onde está aquartelada a força de linha.
Seguindo então com a vista pela praia em direcção oposta, isto é, do Oriente para o Ocidente, temos a notar as igrejas de S. Francisco e de Santa Clara (convento de freiras), e junto à casa da legação francesa a entrada da principal rua de Macau, que conduz à porta do campo, uma das que fecham a cidade; continuando porém a examinar a beira-mar, deixando os assentos de pedra, que hoje estão assombrados por novas árvores, começa a longa fileira de habitações elegantes, apenas cortada aqui e ali pela entrada de uma estreita devesa.
Negociantes portugueses e estrangeiros ocupam quási todas essas casas, com excepção das duas piores e mais abarracadas, que são as residências do governador e do juiz de direito». Francisco Maria Bordalo. «Macau», 1854. (1)
Excerto de um artigo de Francisco Maria Bordalo (1821-1861), oficial da marinha portuguesa e escritor, publicado em 1854 na revista O Panorama: jornal literário e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Utéis. Ainda na mesma revista - fundada e dirigida por Alexandre Herculano, que se publicou entre 1837 e 1868 -, Francisco Maria Bordalo publicou "Viagens na África e na América" (1854), "Scenas de Escravatura" (1854), "Quadros Marítimos" (1854), "D. Sebastião, o Desejado - Lenda Nacional" (1855), "Navegadores Portugueses" (1855) "Navegadores Estrangeiros" (1855), "Viagem Pitoresca à Roda do Mundo" (1855).
Considerado o introdutor do romance marítimo, Borlado é ainda autor de obras como: Trinta Anos de Peregrinação, Manuscrito Achado na Gruta de Camões, Macau, 1852, Um Passeio de Sete Mil Léguas, Lisboa, 1854 e Eugénio, Romance marítimo, Rio de Janeiro, 1846.

Nota (1): publicado na revista O Panorama, vol. XI, 13ª série, 1954 e, posteriormente, reproduzido no Boletim Geral das Colónias, nº 41, Vol VI, 1928.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Templos

No templo da deusa A-Má na Barra. Macau, Dezembro de 2009 .

Templos

A sombra da baniana
guarda o eco
das vozes murmuradas
oxidadas preces
de um gesto prisioneiro
na malha húmida
do tempo...

Dissolveram-se no ar morno
e parado
fugidias íris de um templo
de água e vento
o misterioso alento
das raízes...

Rituais antigos
que o silêncio sagrado
da meditação
desenha a fogo
nas rubras clareiras
do rosto
nos brancos caminhos
do lótus
abrindo o corpo
à invasão do incenso
ao acre odor
da evasão...

Jorge Arrimar

Jorge Arrimar e Manuel Yao. Confluências. Folha de Lótus, 1997