terça-feira, 30 de setembro de 2008

Gato Preto

Na Rua de Fernão Mendes Pinto, em Macau (Setembro de 2008).

A Má

Templo da Barra. (Macau, Setembro de 2008)

A Ma

Da navegação vária se recolheu
o porto e o abrigo, de tão longe ansiados,
da procelosa vaga colhido
após tormentas e angústias diversas,
eis quantas alegrias aqui, quantas agruras,
quantas porfias de tanta caminhada;
da variada sorte cresceram cantos
e versos aqui deixados pela manhã,
vindos ao lugar pacífico e sereno;
dessa deusa porfiosa e fasta
se deu à terra o barco
e a própria vida; nada infelice
se criou o lugar de que se disse,
após tanta viagem temerosa,
que seria o mais feliz e propício:
e se à própria vida chegou
nesta praia primitiva,
foi à vida que veio a morte
tão antiga e tamanha, e tal sorte.

José Valle de Figueiredo. O Provedor de Vivos. Lisboa, 1988

A Pedra de T'ai-Ut

A pedra de Tái-Ut no Templo da Barra (Macau, Abril de 2008)

A Pedra de T'ai-Ut

Lái-Pou-I

amansou as águas
rasgando as redes
da desgraça

T'ai-ut
a vermelho

A causa primordial

Para onde estará virada
a Espada
enterrada sob o penhasco?

Para onde apontará
hoje
o seu gume?

Fernando Sales Lopes. Pescador de Margem. Livros do Oriente, 1997

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Rocha Tái Ut

A lenda associada aos dois grandes caracteres vermelhos - Tái Ut - que se encontram numa rocha do Templo da Barra e que remonta ao tempo do estabelecimento dos portugueses em Macau, conta-nos Luís Gonzaga Gomes(1).
Nesse tempo, lorchas carregadas de mercadorias e provenientes de todos os portos da China fundeavam no porto interior, junto ao templo de T'in Hau, a Soberana do Céu, protectora das gentes do mar, de quem eram extremamente devotos.
«Curioso, porém, é que apesar desse fervor religioso, dir-se-ia que os navegantes se encontravam em desfavor da sua patrona, pois todos os anos, nas proximidades do dia 23 da 3ª lua, dia consagrado à festividade da T'in Háu, não deixava de se dar um estranho naufrágio, em frente do seu templo». Tal facto, atribuíam à ausencia de T'in Háu, que nessa ocasião visitava a sua terra natal, Tin-Pou, em Fuquiem.
Houve um ano, porém, que aportaram todas as embarcações excepto uma, a de Mâk Kâm Tái, que, por andar atarefado, não conseguira chegar a tempo para as festividades de T'in Háu. Porém, para os lados das Nove Ilhas, formou-se uma nuvem negra que, absorvendo as águas do mar e formando uma coluna de água, envolveu a embarcação de Mâk Kâm Tái, desfez -la em mil pedaços que se esfranganlharam de encontro à superfície do mar.
Apesar do desastre ter ocorrido em frente do templo, onde se encontravam centenas de embarcações, estas nada sofreram e ninguém se apercebeu da tragédia. Apenas dois tripulantes se salvaram, testemunhas de tão terrível tragédia. Como tal calamidade ocorria periodicamente e todos os anos, por essa data, destroços de naufrágios apareciam em frente ao templo, cresceu o culto dos marítimos à deusa.
Foi por essa altura que Lái Pou I visitou o templo da Barra. Lái Pou I, um famoso geomante da província de Kúong Tong, pôs-se a estudar o local com a sua ló p'un, a bússola dos geomantes, junto de uma enorme rocha. Depois de apalpar o lóng mak, o pulso do dragão, informou os circunstantes que era exactamente naquele sítio onde a virulência do ar nocivo era mais acentuada. Contaram-lhe dos naufrágios, que todos os anos ocorriam mesmo em frente do templo. Disse, então, Lái Pou I, que era preciso contrapor, quanto antes, a influência do ar nocivo, pois «a corrente da Ribeira Grande, na fronteira ilha da Lapa, entra na porção do rio que fica em frente ao templo, escavando, no seu ímpeto, o leito, de forma a moldá-lo numa larga e profunda bacia semelhante a uma rede de pesca. Por sua vez, a Ribeira Grande age como um pescador, que ao lançar a sua rede colhe, todos os anos, uma embarcação». Foram estas as palavras do famoso geomante. Os marítimos, por sua vez, trataram de angariar uma larga soma para pagar a Lái Pou I por forma a que este acabasse de vez com tal nefasta influência.
Lái Pou I traçou na rocha os dois grandes caracteres vermelhos - Tái Ut - que significam causa primordial, a frase tauista que impede qualquer tipo de desgraça. Depois, debaixo da rocha, enterrou uma espada com o gume voltado para a Ribeira Grande, para cortar as cordas da nefasta rede. «Desta forma, o pescador, criado pela fértil imaginação do geomante, ficou inibido de puxar a sua malfazeja rede e, por tal facto, daí em diante, nunca mais se registou a ocorrência de naufrágios misteriosos em frente do templo da Barra».

(1) Luís Gonzaga Gomes. «A Rocha de "Tái Ut" do Templo da Barra», in Macau Factos e Lendas, ICM, 1994

domingo, 28 de setembro de 2008

Mosteiros budistas

Kum Iam Tong. Macau, Setembro de 2008

«Como em todas as cidades da China, em Macau também existem bonzas e bonzos, que são necessários para a realização de várias cerimónias religiosas e para oficiarem em ritos fúnebres. Esses religiosos vivem agrupados em diversos edifícios chamados Tch'i (mosteiros), que se encontram situados em diferentes pontos da cidade.
Os mosteiros ou conventos mais conhecidos são o de P'ou Tchâi Sin Un (Mosteiro de Socorro e Caridade Universais), que fica situado em Móng Há, na Avenida Coronel Mesquita; o de Tchôk Lâm (Bambual) em Sá Kong, na Estrada Coelho do Amaral; o de Ling Fông (Cume de Loto), no templo do mesmo nome, o qual se encontra edificado no sopé da Fortaleza de Móng Há; o de Lók Sán (Colina de Venturas), que fica na encosta do Monte de S. Paulo; e o de Tcêng K'ók (Recta Percepção), que se encontra instalado no Templo da Barra.
Destas cinco habitações de sacerdotes ou de sacerdotisas budistas a mais antiga é a de P'ou Tcâi que o povo conhece geralmente por Kum Iâm T'óng (Pavilhão da Deusa da Misericórdia), por ter sido primitivamente uma simples capela destinada à veneração desta divindade (...)»
Luís Gonzaga Gomes. «Mal-Aventurados Amores», in Macau Factos e Lendas. ICM, 1994.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

No autocarro

Aviso colocado nos autocarros da TRANSMAC. Macau (Setembro de 2008)

Deus da Porta

Coloane, Templo de Sam Seng (Setembro de 2008).


Ali, onde os silêncios
da montanha
se desdobram em oração
e os cegos adivinhos
estudam misteriosos sinais
na palma da mão,
banham-se de vermelho
os símbolos ancestrais.
Nas tardes mansas
ou na matinal claridade
os deuses de longos
bigodes de lodo
e compridas lanças
guardam a porta
da mística intimidade...

Jorge Arrimar. «Deus da Porta», in Secretos Sinais. ICM. Colecção Poetas de Macau. 1992

Tarrafeiro

Rua do Tarrafeiro (Setembro de 2008)

Limitado, actualmente, a um Beco e a uma Rua, o Tarrafeiro designava uma parte da cidade situada no sopé da colina onde se encontra a Igreja de Santo António, junto à Praça de Luís de Camões. Quando ainda não tinham sido construídos os aterros do Porto Interior, ali, no sopé do morro, havia uma praia onde se concentravam os tancás (barcos-habitação). Essa gente dos tancás, que vivia das actividades marítimas, dedicava-se também à pesca do camarão, por meio de tarrafas, uma espécie de rede de pesca. «Foi devido ao facto de se encontraram nesse sítio somente indivíduos que exerciam esse mister, que proveio o nome de Tarrafeiro àquele local», explica Gonzaga Gomes em Curiosidades de Macau Antiga.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Loja de Escovas

Fica na Rua dos Mercadores. É uma loja pequena, estreita, uma espécie de corredor, e designa-se por «Loja de Escovas de Leong Sam Kei». Quanto ao comércio de escovas, provavelmente, há muito que aí deixou de se praticar. Mas o nome ficou, e hoje vende toda a espécie de objectos decorativos de louça, jarras e vasos, estatuetas de deuses e deusas, budas sorridentes e barrigudos. Uma velhota passa ali os dias sentada num banco, colocado quase à porta do estreitíssimo corredor atafulhado de objectos.


terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Fonte

Largo do Lilau. Macau, Setembro de 2008



Ninguém ouve
*********naquele beco estreito
o murmúrio da água
*********refrescando a sede...

A fonte,
*********encontrei-a eu
no lilau do meu peito,
*********o aveludado leito
onde me entreguei
*********a Macau...

Jorge Arrimar. «A Fonte». Secretos Sinais. ICM. Colecção Poetas de Macau.1992

Lilau

Calçada do Lilau. Macau, Setembro de 2008

Curiosa ligação. Uma calçada portuguesa. No velho muro caiado de branco, as caixas de correio em estilo bem chinês.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Rua da Praia do Manduco

Rua da Praia do Manduco (Setembro de 2008)

«A Rocha da Rã que fazia kók-kók ficava na Praia do Manduco» conta o Padre Teixeira , e acrescenta, que «por este vocábulo "manduco" é designada a rã em Macau»(1). Em tempos antigos, houve aqui uma praia, a Praia do Manduco, muito frequentada pela marinha mercante e onde muitos comerciantes possuiam cais privativo. O nome de "manduco" deve-se à existência da tal Rocha da Rã, Há-Má-Seak, uma rocha estranha, de forma arredondada e de cor esverdeada que, nos dias de chuva e de vento ou quando a maré subia, produzia um som semelhante ao coaxar de uma rã.
Por volta de 1829-30, e apesar dos protestos da população chinesa, a rocha foi removida para, no local da praia, construírem um aterro.
Quase toda a Rua da Praia do Manduco - que começa junto ao Mercado de S. Lourenço, ao fundo da Calçada do Januário, e termina na Rua do Almirante Sérgio - é um verdadeiro mercado ao ar livre: fruta, legumes, peixe seco, carnes assadas e fumadas, roupas, calçado, pivetes e diversas oferendas para os deuses, tascas e cozinhas ambulante de comidas diversas, de sopas e de doces ou de bolachas acabadinhas de fazer.

(1) P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, Vol I. Instituto Cultural de Macau, 1997


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mong Há na luz do poente

Recanto do jardim do templo de Kum Iam (Kum Iam Tong), em Macau (Setembro de 2008).


Mong Há na luz do poente

A Colina do Lótus, ao cair da tarde
Reflecte o fulgor das esparsas nuvens rubras
Ilusão dos pavilhões, tão próximos de mim
A névoa avança das Portas do Cerco
Alastra na espessura do bosque em flor
A inspiração poética é um dom do céu
O fogo crepuscular arde em perfeita beleza
Obra e Criador são uma e a mesma coisa.

Yin Guang-ren

in Fernanda Dias, Poemas de Uma Monografia de Macau. Colecção Pavilhão Insólito. COD, Macau, 2004

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Palmeira dos leques

Jardim da Fortaleza do Monte em Macau (Setembro de 2008)

A Palmeira dos Leques - Livistona chinensis (Jacq.) R. Br. - é originária da região de Xinhui, em Guangdong, no Sul da China. As suas folhas são utilizadas na confecção de leques, cestos, chapéus, etc., e a fibra proveniente da baínha da folha no fabrico de tapetes. O fruto e a raiz são utilizados na medicina tradicional chinesa.

Fonte: Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, Vol 1. Câmara Municipal das Ilhas, 1997

Ruínas de S. Paulo


Fachada majestosa de igreja triunfante
inexistente igreja cheia de ventos
e de chuvas e da humilde banalidade
do casario em derredor

fachada a separar sem dividir
esta cidade de crenças diferentes
onde o incenso é o mesmo sinal exterior
de antigas perguntas
que todos os homens se fazem
em todos os altares
a todos os deuses

fachada que dás
para um interior apenas dentro de nós
o resto é o céu os pássaros e os anjos
a esvoaçar imperceptíveis sobre as nossas cabeças
neste lugar preciso do Santo Nome de Deus

Carlos Frota. «Ruínas de S. Paulo» in Dos Rios e suas Margens. Macau, 1998

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Acácia suratensis

Acácia suratensis no Jardim de Vasco da Gama em Macau (Setembro de 2008)

Encontram-se exemplares de Acácias suratensis - Cassia surattensis Burm. f. - nos jardins e arruamentos de Macau, da Taipa e de Coloane, sendo muito utilizada como árvore de arruamento. Originária da Ásia e Austrália, floresce durante todo o ano.

Fonte: Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol 1. C.M. das Ilhas, 1997

sábado, 13 de setembro de 2008

Seong-Ngó, a Senhora da Lua

No largo do Pagode da Barra. Macau, Setembro de 2008

Consta que Seong-Ngó, a Senhora da Lua, esposa do archeiro Hau-Ngai, era curiosa, mesmo muito curiosa. Foi essa curiosidade que a levou à Lua, de onde nunca mais saiu.
Aconteceu tudo isso há muitos, muitos anos, no tempo do imperador U, da dinastia Há, ou seja, por volta do ano 2000AC. Hau-Ngai, exímio archeiro e comandante da guarda imperial, não era como os comuns mortais, pois só se alimentava de essência de flores. As suas flechas eram mágicas e com elas Hau-Ngai conseguia afastar tempestades, pois as nuvens, doridas e acossadas com as flechas de Hau Ngai, fugiam para bem longe.
Ora, um dia, aconteceu que no céu surgiram dez sóis, nove sóis a mais a aquecerem o planeta, a mirrarem as plantas, a ressequirem a terra. Não havia noites, porque com tantos sóis a terra estava sempre iluminada.
Como podem imaginar, instalou-se o pânico. Com tanto calor - eram realmente sóis a mais –, acabava-se a Terra. Então, o imperador lembrou-se das flechas mágicas de Hau-Ngai e ordenou-lhe que trespassa-se os sóis, tal como fizera às nuvens, afastando-as e evitando inundações. Assim fez o nosso herói. Mas, por pouco ficava a Terra para sempre às escuras, tal o entusiasmo com que Hau-Ngai se pôs a disparar setas aos sóis que rebentavam como balões. Contudo, a tempo, lembrou-se de parar, poupando o Tai Ieong, o sol que ainda hoje alumia a Terra.
A imperatriz do Poente e o seu esposo, o imperador do Levante – juntos geraram o Iam e o Ieong, as forças que regulam o equilíbrio do mundo – trataram de recompensar o archeiro, concedendo-lhe a pílula da imortalidade. Mas, advertiram-no que, antes de a tomar, precisava de se preparar com doze meses de abstinência e silêncio.
Regressou o archeiro a casa e escondeu a caixa que continha a pílula da imortalidade numa trave junto ao tecto. Depois, apenas com uma pequena trouxa onde arrumou alguns dos seus bens, partiu para as montanhas e instalou-se numa gruta, onde ficou em meditação e silêncio.
Entretanto, em casa, Seong-Ngó, a linda mulher de Hau-Ngai, ficara curiosa com o estranho comportamento do marido, e mais curiosa ficou quando, entrando no quarto, reparou no esplendor que vinha da trave. Na caixa, que exalava um delicioso perfume, estava escrito, em caracteres chineses, «droga para fadas». Seong-Ngó, talvez por ser um pouco vaidosa e se julgar com direito a ingerir a «droga para fadas», não hesitou – imprudente mulher! - e engoliu a pílula. De imediato começou a levitar, pois a pílula fez cessar, sobre a sua pessoa, a lei da gravidade. Ao princípio assustou-se, mas aos poucos foi perdendo o medo e já dançava no ar quando o marido entra e se zanga com ela. Seong-Ngó, para não ouvir as recriminações, fugiu pela janela. Leve como uma pena, e levada pelo vento, Seong-Ngó foi subindo, subindo, subindo até que chegou à Lua. Quando aí chegou, estafada de uma viagem tão longa, mal respirava. Uma golfada de ar, que insuflara precipitadamente, obrigou-a a tossir, expelindo a pílula que, ao cair, se transformou no Coelho de Jade (ou Coelho Lunar).
Castigada pelos deuses, Seong-Ngó ficou condenada a viver para sempre na Lua. Mas, o castigo não ficou por aqui, pois os deuses, que estavam mesmo muito zangados por se ter apoderado abusivamente da pílula da imortalidade, transformaram-na numa rã de três pernas, cuja pele viscosa tem gravado o número oito (da oitava lua).
O herói da história, o archeiro Hau-Ngai, desejando viver o mais longe possível da Lua - e da mulher, pois com ela continuava muito zangado – instalou-se no sol, naquele sol que ele poupara às suas flechas mágicas. Tal como a imperatriz do Poente e o imperador do Levante, também Seong-Ngó e Hau-Ngai personificam o Iam e o Ieong, as força que dirigem o Universo.
Uma vez por ano - no 15º dia da oitava lua – a Lua e o Sol aproximam-se. A rã da Lua recupera o seu corpo de mulher e o archeiro esquece as suas zangas e visita Seong-Ngó.
Dizem que é a noite mais brilhante do ano.

A festa da Lua ou do Bolo de Bate Pau

No «Corredor dos Cem Passos» do Jardim de Lou Lim Ieoc. Macau, Setembro de 2008

Na China, a festa da lua toma a particularidade de estar associada ao Bolo Lunar, que em Macau é conhecido por bolo «bate-pau» - (...) Lua cheia, em miniatura, / é um bolo “bate-pau” (...)» (do Padre Benjamim Vieira Pires) -, por serem retirados «à paulada» das pequenas formas de madeira – e que se oferecem, neste dia, a amigos e familiares. Fabricados com farinha acinzentada - da cor da Lua - estes bolos de bate-pau são recheados ou com carnes e toucinho, ou com cascas de tangerina, ou, ainda, com diversas variedades de sementes, como as de lotus, de pevides, amêndoas ou pinhões. Alguns são ainda enriquecidos com uma ou mais gemas de ovo salgado. O imprescindível ut-pèang, ou bolo lunar (ou bate-pau), apresenta na face superior, em alto-relevo, as imagens ou os caracteres que simbolizam o coelho ou a rã de três patas, personagens lendários que habitam na Lua.
A lenda do Coelho ou Lebre Lunar remonta a tempos muito antigos e as suas origens ao budismo indiano. Nesses tempos muito remotos viveu uma lebre cujas virtudes eram enaltecidas pelos restantes animais, tal era a sua generosidade e disponibilidade para ajudar os mais fracos. Quis conhecê-la Buda que, de visita aos seus discípulos, se encontrava por perto do sítio onde a lebre vivia. Cansado da longa jornada, adormeceu e, enquanto dormia, transformou-se num monge mendigo cuja imagem causava pena. Todos os animais se prontificaram para o ajudar, oferecendo-lhe fruta e peixe. Mas o monge não comia. Desolados, pois viam o monge a definhar, os animais resolveram chamar a lebre a quem lhe explicaram a situação. Esta, comovida, ofereceu-se para alimento do monge, já que estava convencida de que a carne de caça fresca poderia salvá-lo. E, perante o espanto dos outros animais presentes, preparava-se para se lançar à fogueira quando se deteve. Não tinha o direito de sacrificar os parasitas que habitavam no seu corpo. Sentou-se e começou a catar-se. Por fim, após ter retirado todos os parasitas do seu pelo, a lebre encaminhou-se para a fogueira. Nesse momento, desperta o monge que, ao acordar, retoma a forma de Buda e impede o sacrifício da lebre. À lebre, concedeu Buda um lugar no panteão lunar. A sua imagem - conhecida por «Coelho de Jade» ou «Coelho Lunar» - é representada por uma lebre ou coelho de patas dianteiras curtas e patas posteriores longas que, num almofariz, tritura sabiamente o elixir de jade ou da imortalidade.

Lanterna Chinesa (II)

No Parque de Hac Sá. Coloane, Setembro de 2008

Lanterna Chinesa (I)

Lanterna chinesa na Sam Má Lou (Avenida de Almeida Ribeiro). Macau, Setembro de 2008

A festa da Lua

Jardim de Lou Lim Ieoc. Macau, Setembro de 2008

«(...) A Lua, segundo a opinião dos chineses, nesse dia [15º dia do 8º mês lunar], encontra-se mais redonda e mais brilhante. Reza a filosofia oriental que, nesta altura do ano, a harmonia dos elementos do yang e do ying, respectivamente, masculino e feminino, começa a alterar-se, pendendo para o feminino. A essência do yang começa a enfraquecer-se com o tempo do Verão, sendo a altura do ying exercer o seu domínio até ao final do Inverno, quando esse cede lugar à energia do renascimento, na Primavera. (...)»
Leonel Barros. «A festa do Bolo Lunar (Bate Pau)», in Macau. Coisas da Terra e do Céu. DSEJ, 1999


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A sesta

No «Corredor dos Cem Passos» do Jardim de Lou Lim Ieoc. Macau, 2008

Cemitério de S. Miguel

Cemitério de S. Miguel Arcanjo.Macau, 2008

Ressuscitados os mortos
pela magia grávida das palavras
em nossas conversas ociosas
sentimos no ar uma ligeira vibração de sonho
como se pudéssemos retroceder aos caminhos percorridos
e fosse física a realidade desta finíssima película de luz
situada entre os olhos e o cérebro
a que os homens chamam erradamente
memória

apagada a luz
os mortos regressam ao seu sono horizontal de estátuas

Carlos Frotas. «Cemitério de S. Miguel». in Dos Rios e suas Margens. Macau, 1998

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pavilhão das Orquídeas

O Pavilhão das Orquídeas no Jardim de Lou Lim Ieoc.

«(...) Eram geralmente jardins privados, em residências onde viviam o seu proprietário, mulheres e filhos, apartados da sociedade, sendo assim jardins murados e concebidos para viver e não apenas para neles se passear. Por isso, a par das construções fechadas (residências), existiam nelas numerosos alpendres e corredores cobertos, de onde os familiares e amigos podiam disfrutar do jardim, protegidos do Sol e da chuva, apreciando, sobre a forma de miniaturas, as paisagens mais belas, lagos bordejados de montanhas, grutas, planícies, florestas compostas por árvores anãs, etc. (...)»
in António Estácio e António Paulo Saraiva. Jardins e Parques de Macau.Instituto Português do Oriente,1993

O Festival das Lanternas

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Olho de Dragão

Parque de Seac Pai Wan. Coloane, Setembro de 2008

A Longane - Euphoria longan (Lour.) Steud, da família das Sapindaceae -
designa-se, em cantonês, por Long Ngan, que significa Olho de Dragão. Originária do Sul da China, floresce de Março a Abril e frutifica de Maio a Agosto. Os frutos são de cor castanho-claro, redondos e com uma casca fina mas dura. A polpa, que envolve o caroço preto, é branca e suculenta.

Fontes:
Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol 1. C.M. das Ilhas, 1997

Wikipedia: Longan

A sesta

À sombra de uma Acácia Rubra, no Largo do Pagode da Barra. Macau, Setembro de 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Biblioteca Sir Robert Ho Tung

Biblioteca Sir Robert Ho Tung, no Largo de Santo Agostinho. Macau, Agosto de 2008

«De construção anterior a 1894, este edifício foi originalmente a residência de D. Carolina Cunha. Sir Robert Ho Tung, um homem de negócios de Hong Kong, adquiriu-o em 1918, ocupando-o para retiro. Após a sua morte, em 1955, e de acordo com o seu testamento, o edifício foi oferecido ao Governo de Macau para nele instalar uma biblioteca pública» in «RC - Revista de Cultura», nº 15, Julho de 2005.

O Centro Histórico de Macau
Rede do Património Cultural: Biblioteca Sir Robert Ho Tung

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cores do Oriente

No Beco do Bambu. Macau, Setembro de 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Parque de Seac Pai Wan

Parque de Seac Pai Wan, em Coloane

Jamboeiro

Jamboeiro no Parque de Seac Pai Wan, em Coloane.

Originário da Índia e da Malásia, o jamboeiro - Syzygium jambos (L.) Alston, da família Myrtaceae -, também designado por Fruta Rosa, floresce de Janeiro a Março e frutifica de Março a Maio.

Fonte: Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol. 1, 1997