
(in Macau. Pequena Monografia, Agência Geral do Ultramar, Lisboa, 1965)
Dizia Wenceslau de Moraes: «os deuses, com quem por assim dizer vivo em contacto, e a cuja sublime protecção, posto que indirectamente, me confio, são muitos, um enxame. É todo o Olimpo budista e o inteiro mito primitivo, amalgamados em crendices (...)». A iconografia religiosa chinesa é bastante variada, são muitos os deuses e os entes divinizados, são os velhos de barbas brancas e de ar bonacheirão, outros de barbas pretas e de aspecto assustador, são as fénixs e os dragões, os leões, os veados ou as tartarugas, são as flores de lótus, os crisântemos ou as tangerinas, enfim, um não acabar de imagens ligadas às crenças populares. Um mundo de crenças assente na presunção de que os deuses são acessíveis, mas também falíveis, e que o seu apoio se obtém através de acções meritórias ou de oferendas materiais – ou seja, se os humanos estão sujeitos à vontade dos deuses, porém, os deuses podem, por sua vez, serem induzidos ou convencidos a alterar os seus apoios. Igualmente presença constante nas crenças chinesas são os espíritos malignos, as almas penadas, sendo, pois, necessário evitar os malefícios desses espíritos errantes; daí a presença de toda a espécie de talismãs, os espelhos, as espadas, os guardiões das portas, as figuras de tigres ou dos caça-diabos. Mas, não basta evitar os malefícios destes espíritos errantes; é também necessário atrair benefícios, rodeando-se de imagens de deuses benfazejos, nas casas, nas lojas, nos bairros, nas ruas...