Mais uma história de fantasmas e casas assombradas. A ler: «Os Bons Fantasmas», de Henrique de Senna Fernandes*
Passa-se no ano de 1942, «ano de pesadelo», com a guerra do Pacífico a flagelar toda esta zona e Hong Kong ocupada pelos japoneses desde o dia de Natal de 1941. A família, que «atravessava sérios apuros financeiros», fora obrigada, por essa e outras circunstâncias, a procurar nova casa. Foi na Rua de Sacadura Cabral, «ao tempo uma rua airosa e soalheira» e já na berma da «cidade chinesa», que encontraram um andar amplo, de renda baratíssima para a época. Já depois de instalados, vêm a saber a razão da generosidade do senhorio: «Dizem que a casa é assombrada. Principalmente o rés-do-chão. Acontecem lá coisas estranhas, ninguém se demora ali muito tempo». Nesse rés-do-chão a sina repetia-se e as famílias que nele habitavam mudavam-se sempre após cenas violentas de choro, gritos e agressões. Por fim, acabou por ficar vazio. E, embora sem inquilinos, era um vazio cheio de ruídos, de portas a ranger, de rastejar de chinelas, de passos furtivos, de choros e murmúrios. «Era o vento, eram as correntes, eram os ratos, justificávamos». Um dia, o autor aventurou-se e foi inspeccionar o rés-do-chão. Nada encontrou. Apenas silêncio, cheiro a mofo e pó acumulado.
Passa-se no ano de 1942, «ano de pesadelo», com a guerra do Pacífico a flagelar toda esta zona e Hong Kong ocupada pelos japoneses desde o dia de Natal de 1941. A família, que «atravessava sérios apuros financeiros», fora obrigada, por essa e outras circunstâncias, a procurar nova casa. Foi na Rua de Sacadura Cabral, «ao tempo uma rua airosa e soalheira» e já na berma da «cidade chinesa», que encontraram um andar amplo, de renda baratíssima para a época. Já depois de instalados, vêm a saber a razão da generosidade do senhorio: «Dizem que a casa é assombrada. Principalmente o rés-do-chão. Acontecem lá coisas estranhas, ninguém se demora ali muito tempo». Nesse rés-do-chão a sina repetia-se e as famílias que nele habitavam mudavam-se sempre após cenas violentas de choro, gritos e agressões. Por fim, acabou por ficar vazio. E, embora sem inquilinos, era um vazio cheio de ruídos, de portas a ranger, de rastejar de chinelas, de passos furtivos, de choros e murmúrios. «Era o vento, eram as correntes, eram os ratos, justificávamos». Um dia, o autor aventurou-se e foi inspeccionar o rés-do-chão. Nada encontrou. Apenas silêncio, cheiro a mofo e pó acumulado.
Até que, de súbito, começaram a acontecer factos estranhos: aragens frias, choros de uma criança, vozes de homem e, por fim, o vulto de um homem chinês, trajando cabaia comprida, «uma visão algo desfocada ou enevoada». Tempos depois, novo fantasma, desta vez de uma criança do sexo feminino, que a criada via, sempre por volta da hora do jantar. Episódios como estes seguiram-se até que um dia a mãe decidiu-se, não por chamar os bonzos como pretendia a criada chinesa, mas por expôr a questão ao padre da igreja de S. Lázaro. Missas foram rezadas e a casa benzida. Mas, a criada não ficou convencida e insistiu na presença dos bonzos com as suas túnicas amarelas. Como tal prática era impensável numa casa católica, todas as cerimónias decorreram numa bonzaria.
«Coincidência ou não coincidência, a partir de então, nunca mais assinalámos os fantasmas e outras coisas singulares». Mudaram-se nos finais de 1945, e embora apaziguados os fantasmas, a casa não voltou a ser habitada, tendo sido demolida, «com o segredo dos seus fantasmas nunca esclarecido».
E termina o autor: «Acreditem ou não, isto aconteceu».
Henrique de Senna Fernandes, Mong-Há. Instituto Cultural de Macau, Colecção Rua Central, nº 14, 1998.
«Coincidência ou não coincidência, a partir de então, nunca mais assinalámos os fantasmas e outras coisas singulares». Mudaram-se nos finais de 1945, e embora apaziguados os fantasmas, a casa não voltou a ser habitada, tendo sido demolida, «com o segredo dos seus fantasmas nunca esclarecido».
E termina o autor: «Acreditem ou não, isto aconteceu».
Henrique de Senna Fernandes, Mong-Há. Instituto Cultural de Macau, Colecção Rua Central, nº 14, 1998.
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