Por Brinco do Leão se designa na «dóci língu di Macau» ou «macaísta chapado» a Dança do Leão, referindo-se a palavra brinco, nos dialectos luso-asiáticos, a diversão ou espectáculo jocoso. Em chinês, «é conhecido, em língua falada, por mou si, leão dançando ou dança do leão, ao passo que, na linguagem escrita, é denominado seng si, leão acordado». E leão acordado porque, antes de cada exibição procede-se à cerimónia do acordar do leão, «que consiste em pincelar de vermelho, com cinábrio pastoso, os olhos e a língua do pretenso animal. O leão é, assim, despertado da sua quietude, podendo iniciar, as suas rítmicas evoluções»*.
São muitos mitos sobre as origens da dança do leão. Conta uma lenda que o leão nasceu no céu e no céu vivia junto às divindades. Mas, brincalhão, gostava de pregar partidas às divindades. Até ao dia em que a vítima das traquinices do leão foi o Imperador de Jade. Enfurecido, matou o leão, cortando-lhe a cabeça e separando-a do corpo. A deusa da misericórdia, Kum Iam, indignada com o acto do imperador, ressuscitou o leão, amarrando-lhe a cabeça ao corpo com uma faixa vermelha. Kum Iam deu, ainda, ao leão um chifre e um espelho para espantar os maus espíritos. Apenas o leão do Sul da China possui estes acessórios: o chifre e o espelho. O leão do Norte, de longo pelo desgrenhado, vermelho ou laranja, ou verde, se for leoa, assemelha-se mais a um cão pequinês do que a um leão. A sua dança, mais antiga que a do Sul, «deve ter sido inspirada, directamente, na observação de leões amestrados que domadores estrangeiros exibiam na corte do antigo Império, fazendo dançar as feras ao som de tambores e de outros intrumentos ruidosos, capazes de despertarem, nos animais, os necessários reflexos acrobáticos»*. No Sul, por influências budistas, aliadas a rituais da Índia e do Tibete, teria surgido uma nova dança do leão do Sul, que, «mais ou menos tardiamente, se diferenciou da dança do leão do Norte, circunscrita à área de implantação da Corte»*.
Possui, pois, o leão do sul, uma cabeça peculiar com grandes olhos, um espelho na testa e um chifre no centro da cabeça. Uma outra lenda associa o leão do sul a uma estranha criatura que, em tempos muito antigos, aterrorizava as populações. Chamava-se nien ou nian, que em chinês se assemelha à palavra "ano", razão pela qual o leão passou a estar presente nas celebrações do ano novo chinês. Para combaterem o nien, que atacava as povoações, os homens pediram ajuda ao leão e este enfrentou a criatura rugindo e abanando a juba. O nien fugiu, ameaçando vingar-se daí a um ano. E cumpriu a ameaça. Mas, como o leão andava muito ocupado a guardar os portões do palácio imperial, os aldeões decidiram enfrentar sozinhos o nien, e para isso, com panos e bambus reproduziram a imagem do leão. Dois homens vestidos com a máscara do leão, saltaram e dançaram várias vezes em frente da criatura que, espavorida, acabou por fugir de novo. Nos festejos do ano novo chinês, o leões dançam sempre para espantar o mal - niens ou outras criaturas maléficas - do ano novo que começa.
* Ana Maria Amaro, O Brinco do Leão. Edição da DST de Macau, 1984
São muitos mitos sobre as origens da dança do leão. Conta uma lenda que o leão nasceu no céu e no céu vivia junto às divindades. Mas, brincalhão, gostava de pregar partidas às divindades. Até ao dia em que a vítima das traquinices do leão foi o Imperador de Jade. Enfurecido, matou o leão, cortando-lhe a cabeça e separando-a do corpo. A deusa da misericórdia, Kum Iam, indignada com o acto do imperador, ressuscitou o leão, amarrando-lhe a cabeça ao corpo com uma faixa vermelha. Kum Iam deu, ainda, ao leão um chifre e um espelho para espantar os maus espíritos. Apenas o leão do Sul da China possui estes acessórios: o chifre e o espelho. O leão do Norte, de longo pelo desgrenhado, vermelho ou laranja, ou verde, se for leoa, assemelha-se mais a um cão pequinês do que a um leão. A sua dança, mais antiga que a do Sul, «deve ter sido inspirada, directamente, na observação de leões amestrados que domadores estrangeiros exibiam na corte do antigo Império, fazendo dançar as feras ao som de tambores e de outros intrumentos ruidosos, capazes de despertarem, nos animais, os necessários reflexos acrobáticos»*. No Sul, por influências budistas, aliadas a rituais da Índia e do Tibete, teria surgido uma nova dança do leão do Sul, que, «mais ou menos tardiamente, se diferenciou da dança do leão do Norte, circunscrita à área de implantação da Corte»*.
Possui, pois, o leão do sul, uma cabeça peculiar com grandes olhos, um espelho na testa e um chifre no centro da cabeça. Uma outra lenda associa o leão do sul a uma estranha criatura que, em tempos muito antigos, aterrorizava as populações. Chamava-se nien ou nian, que em chinês se assemelha à palavra "ano", razão pela qual o leão passou a estar presente nas celebrações do ano novo chinês. Para combaterem o nien, que atacava as povoações, os homens pediram ajuda ao leão e este enfrentou a criatura rugindo e abanando a juba. O nien fugiu, ameaçando vingar-se daí a um ano. E cumpriu a ameaça. Mas, como o leão andava muito ocupado a guardar os portões do palácio imperial, os aldeões decidiram enfrentar sozinhos o nien, e para isso, com panos e bambus reproduziram a imagem do leão. Dois homens vestidos com a máscara do leão, saltaram e dançaram várias vezes em frente da criatura que, espavorida, acabou por fugir de novo. Nos festejos do ano novo chinês, o leões dançam sempre para espantar o mal - niens ou outras criaturas maléficas - do ano novo que começa.
* Ana Maria Amaro, O Brinco do Leão. Edição da DST de Macau, 1984
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