quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Entrara num já raro mong-yu de pescador de margem"


"Deambulando pela marginal da Praia Grande, entre casas e rio, desperta-me a curiosidade uma tosca cabana com as traseiras para a rua e assente em estacas bons cinco metros acima da água. Como resistirá aos tufões, assim frágil, aquela estranha construção que um ventinho mais impetuoso parece capaz de derrubar?
O velho chinês que ali vive deixa-me entrar. Que cheiro a peixe e que confusão!... Tabuleiros de plástico, cestos de bambu, roupa, cordas, baldes - tudo a esmo. Numa gaiola saltita um pássaro. Uma panela fumega num fogãozito a petróleo, cozinhando-se sabe-se lá que esquisito alimento. À cabeceira da cama, retratos antigos de gente sisuda. A um canto, um altarzinho com uma divindade qualquer.
Entrara - como me informarão mais tarde - num já raro mong-yu de pescador de margem, todo aberto para a barrenta amplidão do rio, onde a ilha da Taipa se dilui à distância.
Uma sólida prancha também escorada em estacas alonga-se sobre a calma superfície líquida, com uma avantajada rede suspensa na extremidade. Através de uma roldana, o velho chinês faz descer a rede com lentidão. A técnica consiste em deixar o lado esquerdo um pouco acima do nível da água. Ao tocarem na rede, os peixes voltam para trás, provocando leves ondulações que alertam o velho. Então, do interior da cabana, ele iça a grande rede gotejante, manobrando a roldana à força de braços. Depois trota ligeiro pela prancha e, com uma rede mais pequena, retira os peixes debatidiços. (...)"
Altino do Tojal. "O Pescador", in Histórias de Macau, Edição Novosmeios, 1991



"Uma sólida prancha também escorada em estacas alonga-se sobre a calma superfície líquida, com uma avantajada rede suspensa na extremidade".
Pesca com rede quadrada na Praia do Bom Parto. 
Fotografia de José Neves Catela (anos 30-40 do século XX) do catálogo da exposição Macau, Memórias Reveladas, Museu de Arte de Macau, 2001

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