sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Comovente de qualquer modo, Macau. Comovente porque único.

Avenida do Infante D. Henrique. Década de 60
Praça Ferreira do Amaral. Década de 70

Fotografias de Ou Ping do catálogo da exposição Uma Viagem no Tempo. Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e Museu de Arte de Macau, Julho de 2005.

"Macau, agora. Inverno frio. O céu baixo e brumoso. E apertada nos braços lamacentos do Rio das Pérolas (que ironia!), a terra como se terminasse aqui. Estreitas também as ruas de Macau, sombrias e tortuosas. E daqui para acolá, pequenos e activos, os seus habitantes formiguinhas num formigueiro. Gente que passa por nós sem quase nos enxergar, os chineses. Estreitos igualmente os olhos deles, como quem visse para dentro. Que Macau, afinal, os chineses: as suas falas, as suas feições, os seus vícios de viver. E os portugueses? O quê, aqui, os portugueses? Uns estranhos? Uns intrusos?
(...)
A cidade do Santo Nome de Deus, para quem veio lá de Angola, os seus pagodes, os seus conventos, o espectro das ruínas de S. Paulo, os fantásticos funerais dos sequazes de Confúcio, um espiritualismo melancólico, aqui, senão mesmo lúgubre. Isto a par da festa das tendas e tintins, o teatro budista, a dança do dragão, o estralejar de panchões. Sem já mencionar, por tudo quanto é parede, porta ou pilar, ainda que escalavrados, o espectáculo dos caracteres sínicos a escarlate e ouro. Comovente de qualquer modo, Macau. Comovente porque único. Por mim comparo-o ao peixe-dourado-da-china, um rubi nas águas espessas e paradas (podres?), de um vaso ritual".
Maria Ondina Braga, Passagem do Cabo. Editorial Caminho, 1994

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