sexta-feira, 6 de agosto de 2010

As portas de Macau

Legenda: Macao, Harbour.
Edição: Union Postale Universelle. Data: ca. de 1900
A Baía da Praia Grande

"Macau tem duas portas principais abertas no seu fraco muro da cerca. Já te disse onde uma estava situada, próximo à Gruta de Camões; a outra é na parte oposta da cidade, chama-se a Porta do Campo, e é por ela que vulgarmente saem os habitantes que vão espairecer extramuros, com especialidade os cavaleiros e os que vão em carruagem. Sobe ao meu humilde cabriolet, e saiamos também da cidade. Vês uma bonita estrada. À direita o fortezinho de S. João; a horta dos Parses, rica de flores exóticas; e a horta do padre Almeida, que é, depois da gruta, o lugar mais conhecido de Macau; tem no centro uma casa circular com quatro galerias em forma de cruz que dão um aspecto inteiramente original àquele grande pavilhão; na frente três torreões, lago, jardim; e fora dos muros sepulturas de chins, uma fonte, árvores, e lá no topo a fortaleza da Guia. À esquerda uma pobre povoação de chins cristãos com a sua capela de S. Lázaro, que foi a primeira freguesia de Macau, e mais além a aldeia de Mong-Há e as ruínas de um forte novo. Seguindo, deixas à direita a moderníssima fortificação de D. Maria II, desces a galope a Rampa dos Cavaleiros, e entras no istmo onde esteve a Porta do Cerco: estás outra vez na China dos mandarins (...); o melhor é voltar e, a trote rasgado, seguir a margem do rio pelo outro lado da povoação de Mong-Há, volver a entrar na cidade pela porta de Santo António, ou cruzando uma estrada transversal pelo sopé da fortaleza do Monte, vir sair novamente à horta do padre Almeida e, daí, retroceder para o interior de Macau".
Francisco Maria Bordalo. Um Passeio de Sete Mil Léguas (publicado em Lisboa, em 1854) in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e Literatura Portuguesas. Tomo 2, ICM, 1988

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