segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Bocage

"É quanto Portugal tem em Macau."
Bocage

Naquele ano fatal da Grande Perdição
Que deflagrou, no mundo, un nouvel âge,
Chegou aqui, surgido de Cantão,
Pra onde o arrebatara o furor de um tufão,
O poeta Bocage.

Achou a terra decadente e estranha
E a gente ora mendiga ora devassa.
E enquanto, num soneto, a satiriza, entoa
Meigas estrofes à "magnânima Saldanha"
(Marília, ao celebrar-lhe a formosura e a graça)
E um hino de lisonjas à "preclara Hulhosa"

Quase um ano inteiro (quase uma vida inteira!)
Por Macau bocejou e vagueou à toa.
Mas, por mercê de Lázaro Ferreira,
Um dia, enfim, pôde enrolar a esteira
E voltar a Lisboa.

A cidade, porém, não lhe esqueceu o vulto
(Esqueceu o soneto que é justo, sem ser mau):
Hoje, uma rua, rende-lhe culto.
- É quanto o poeta tem em Macau.

António Manuel Couto Viana. "Bocage", No Oriente do Oriente. in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. ICM, 1996

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