Bocage
"É quanto Portugal tem em Macau."
Bocage
Naquele ano fatal da Grande Perdição
Que deflagrou, no mundo, un nouvel âge,
Chegou aqui, surgido de Cantão,
Pra onde o arrebatara o furor de um tufão,
O poeta Bocage.
Achou a terra decadente e estranha
E a gente ora mendiga ora devassa.
E enquanto, num soneto, a satiriza, entoa
Meigas estrofes à "magnânima Saldanha"
(Marília, ao celebrar-lhe a formosura e a graça)
E um hino de lisonjas à "preclara Hulhosa"
Quase um ano inteiro (quase uma vida inteira!)
Por Macau bocejou e vagueou à toa.
Mas, por mercê de Lázaro Ferreira,
Um dia, enfim, pôde enrolar a esteira
E voltar a Lisboa.
A cidade, porém, não lhe esqueceu o vulto
(Esqueceu o soneto que é justo, sem ser mau):
Hoje, uma rua, rende-lhe culto.
- É quanto o poeta tem em Macau.
António Manuel Couto Viana. "Bocage", No Oriente do Oriente. in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. ICM, 1996
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