segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O bairro do Patane

O Largo do Pagode do Patane e o templo de Tou Tei. 
Fotografia de Lei Iok Tin, ca. de 1949 (publicada no catálogo da exposição Macau: 150 anos em Fotografia, Leal Senado, 1991)


Diz-nos Gonzaga Gomes* que, entre os residentes chineses, o bairro do Patane encontra-se subdividido em duas zonas: a de Sá Lei T'âu (ou Cabeça de Pera), "que abrange o emaranhado labirinto de travessas, calçadas, becos e pátios que existem nas ruas da Pedra, da Palmeira e da Ribeira do Patane" e a de Sân K'iu, na qual "se entrecruzam as ruas da Espectação de Almeida, de Corte Real, do Capão, da Erva, da Barca, de Inácio Pessoa, de Marques de Oliveira, da Alegria, de Martinho Montenegro e a Estrada do Repouso". A separar, mais ou menos, as duas zonas, a Rua de João Araújo. 
Refere ainda o mesmo autor que a zona de Sân K'iu foi, em tempos bastante recuados, terreno baldio "onde só medravam a esteve, a urze e quejandas plantas agrestes", o que justifica a designação atribuída a duas das principais artérias da zona: a Rua da Erva e a Rua de Entre-Campos. Este terreno, posteriormente transformado numa alagadiça várzea, era irrigado por uma pequena ribeira, a Ribeira do Patane ou Canal de Sân K'iu.
Esta Ribeira do Patane ou Canal de Sân K'iu possuiu uma ponte, primeiro construída em madeira e bambú, de foma enviesada - designava-se por K'ók K'iu ou Ponte Sinuosa -, destruída por um tufão e substituída por outra que passou a designar-se por Ponte Nova ou de Sân K'iu. Da ponte, já há muito desaparecida, perdura apenas o nome numa pequena travessa, a Travessa da Ponte.
Muitas destas ruelas, travessas e becos recordam, na sua toponímia, quer a sua anterior localização ribeirinha - Becos do Coral e da Concha, da Doca e da Ribeira, por exemplo - ou antigos ofícios ligados às actividades marítimas, à pesca e à construção naval, tais com as Travessas dos Calafates, dos Cordoeiros e dos Estaleiros, o Largo da Cordoaria ou o Beco dos Anzóis.


* Luís Gonzaga Gomes. Lendas Chinesas de Macau. Notícias de Macau, 1951.

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