segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Caso do Tesouro do Templo de Á-Má (XVIII)

XVIII
O regresso

Dois dias depois, terminados os preparativos necessários, Lau-Sin, senhor do tesouro, e acompanhado do terrível pirata Cheng-Cheong-Van e de A-Sou, deixava a cidade de Fu-Chau a bordo de um grande barco à vela, com destino a Macau.
O vento, soprando sempre favoravelmente, não tornou a viagem demorada e, ainda que tivesse tido necessidade de um pequeno desvio para fugir a uns restos de tufão, cujos efeitos não deixaram de ser sensíveis, o barco aportou à cidade do Nome de Deus, numa manhã radiosa do mês de Junho.
Não escapou aos olhares curiosos da multidão, que na azáfama diária se cruzava na Avenida Marginal do Porto Interior, o desembarque do polícia que trazia consigo, bem algemado, um homem de estatura colossal, que não aparentava desconhecer a cidade.
Lau-Sin dirigiu-se imediatamente à Procuratura dos Negócios Sínicos e aí fez entrega do criminoso ao Procurador que, cumprindo as formalidades necessárias, o fez dar entrada na Cadeia Pública.
Desembaraçados do criminoso, o procurador e o polícia quedaram-se durante algum tempo na contemplação da preciosa imagem.
Foi chamado o Superior do templo de Á-Má, que afirmou ser aquela a imagem que tinha sido roubada; e o Procurador prometeu-lhe que ela lhe seria entregue logo que estivessem cumpridas em Juízo todas as formalidades processuais.
No dia seguinte, no livro de Ordens de Serviço da Procuratura, a páginas quarenta e sete, verso, lia-se um louvor do teor seguinte:
"Eu, F... Procurador dos Negócios Sínicos, no uso do direito que me confere o número 5º do artigo 24º do capítulo III do Regulamento da Procuratura dos Negócios Sínicos de Macau, aprovado pela Portaria Régia de 24 de Agosto de 1898, LOUVO o chefe da Polícia Secreta desta Procuratura, Lau-Sin, pela coragem, zelo e competência demonstrados no aprisionamento do célebre pirata Cheng-Cheong-Van.
Recomendo a todo o pessoal da Polícia Secreta que siga os exemplos do seu Chefe, funcionário de que esta Procuratura se orgulha, por tantas e tão distintas qualidades que nele concorrem.
Macau, ... de Junho de ....
O Procurador
(assinatura)"

Francisco de Carvalho e Rêgo. O Caso do Tesouro do Templo de A-Má. Macau, Imprensa Nacional, 1949

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