quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Um gigantesco caranguejo

«Assim, a Praia Grande que, antes do aterro descrevia uma bela curva, desde o sítio de S. Francisco até à Avenida República era considerada pelos geomantes como um gigantesco caranguejo, cujos olhos eram representados pelas duas saliências semi-circulares - os antigos fortins de S. Pedro e S. João - que ficavam situados, um, em frente ao actual Palácio das Repartições que foi o primitivo Palácio do Governo, e o outro, em frente da Travessa de S. João.
Foi ao longo da Praia grande que se edificaram as residências dos mais abastados moradores desta terra, moradias essas que, com a decadência do comércio português no Extremo Oriente, passaram, a pouco e pouco, para as mãos dos argentários chineses, que nunca deixavam caiar as suas casas de encarnado nem de cinzento, pois, longe vá o agouro, estas eram as cores com que se apresentavam os caranguejos cozidos ou mortos. As cores preferidas eram a verde ou a amarelada por corresponderem à cor da carapaça de tais decápodes vivos.
Há anos, este suposto crustáceo foi destruído com as obras do aterro da Praia Grande e um bonzo, pressagiando iminentes desgraças para os ricaços chineses moradores neste local, aconselhou-os a mudar de residência. Tal mudança acarretaria, porém, enormes despesas, por isso os moradores da Praia Grande deixaram-se ficar, comodamente, nas suas casas, a aguardar os acontecimentos e não consta que lhes tivesse sobrevindo qualquer mal, pois continuam até agora, a viver prosperamente». Luís Gonzaga Gomes. «O Fong Sôi de Macau», in Macau Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau. 1994

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