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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Teatro D. Pedro V






Teatro D. Pedro V. Macau, Novembro de 2013

Situado no Centro Histórico de Macau, junto ao Largo de Santo Agostinho, e classificado Património Mundial, o Teatro D. Pedro V foi construído em 1858, com risco do macaense Pedro Germano Marques. A sua fachada actual, com colunas neoclássicas, foi desenhada pelo Barão do Cercal, em 1873. 

“(…) passaram pelo seu pequeno palco os mais diversos tipos de espectáculos, récitas, teatro, óperas — com destaque para as companhias de ópera italianas que, no século XIX, se deslocavam até Macau —, concertos, bailados e sessões de cinema, conferências, sessões solenes, festas de homenagem, etc.. Ficaram famosas, nos anos cinquenta e sessenta do século XX, as récitas em Patuá, o dialecto macaense, que se realizavam quase sempre no Carnaval e enchiam o Teatro D. Pedro V de gente de Macau, agradada e divertida. No início dos anos de 1980, o teatro acolheu, durante vários anos, até o espectáculo ser transferido para o Hotel Lisboa, o Crazy Horse Club Show, com bailarinas vindas directamente de Paris, com pouca ou nenhuma roupa, entretendo um público quase todo chinês, predominantemente vindo de Hong Kong (…)”
António José Graça de Abreu, “Teatro D. Pedro V”, DITEMA, Dicionário Temático de Macau, Vol IV.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Os autos, ou o teatro chinês em Macau

The Theatre at Macao / O teatro de Macau
in The Illustrated London News, 17 March 1866
(imagem publicada em Oriente, nº 14, Fundação Oriente, Lisboa)


"Não há edifício permanente para teatro, e o mesmo sucede nas cidades chinesas: parece que só em alguns grandes pagodes há local e construção apropriadas para estes espectáculos, que, em geral, se representam num grande barracão com o tecto angular e muito elevado coberto com esteiras ou colmo; o madeiramento é formado de bambus, fortemente ligados com fios de rotim; é aberto por todos os lados, e só tem uma frágil parede de tábuas no fundo do que chamaremos palco, aos lados do qual correm, paralelas, uma espécie de varandas ou trincheiras com assentos para os espectadores que os querem pagar, e o seu preço para os europeus não excede a um maz de prata, ou um tostão; o espaço intermédio constitui a plateia, sem sobrado nem anfiteatro, com a entrada, toda aberta em frente do palco, gratuita para o povo, que vê o espectáculo de pé e que sempre concorre em multidão. Os indivíduos que ficam na primeira fileira da plateia são obrigados a apoiar-se com as mãos na extremidade do palco, que lhes fica na altura das cabeças, formando como um renque de escoras com os braços nus, para resistirem aos contínuos embates das ondas dos espectadores, os quais, vistos das varandas, formam, apinhados, uma espécie de pavimento composto de cabeças muito unidas,rapadas na maior parte do casco, e que ora são levadas todas numa direcção ora noutra, exactamente como as vagas de um mar banzeiro".
(...)
"Nestes teatros não há pano de boca: as decorações são muito singelas e grosseiras, e as poucas mutações na cena todas se fazem à vista do público; de noite são iluminados com fachos e luzes sobre o tablado. Duram as representações, de dia das onze às cinco da tarde e continuam das sete à meia-noite, ou mais. A representação é continua e não tem os intervalos  dos nossos actos; mas há cenas sucessivas que se vão anunciando por uma espécie de cartaz, ou tabuleta, que penduram nuns barrotes, na posição que corresponderia às colunas do proscénio".
(...)
"A orquesta está no fundo do palco e é composta de uma espécie de rebecas, de gaitas com forma e sons semelhantes à clarineta, e de bategas ou timbales, o que produz uma música estrondosa e infernal que acompanha quase constantemente a declamação; junte-se a isto o frequente rebentar dos panchões ou estalos sobre a cabeça dos actores, admiravelmente a propósito no fim das falas ou nas passagens de maiores afectos; e fazer-se-á ideia da bulha confusa e incómoda que se experimenta e que cobre a voz dos actores, apesar de berrarem às vezes extraordinariamente (...)".
Carlos José Caldeira. Apontamentos de uma viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa. in Carlos Pinto dos Santos e Orlando Neves, De Longe à China - Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. tomo II, Instituto Cultural de Macau, 1988.


Carlos José Caldeira (1811-1882) esteve em Macau em 1850-51 e da sua estadia no Oriente resultou o livro de crónicas, publicado em dois volumes em 1852 e 1853,  Apontamentos de uma viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa.

"Homem dedicado às letras, distinguiu-se com escritor e jornalista, tendo colaborado no Diário de Notícias, Jornal do Comércio, Arquivo Pitoresco, Correio da Europa, Arquivo Universal, Ilustração Luso-Brasileira, Ocidente e Revista Peninsular. Das obras que nos deixou, contam-se, entre outras, Considerações Sobre o Estado das Missões e da Religião na China (1851) e Apontamentos de uma Viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa (1852-1853). Esta última obra, dividida em dois volumes, resultou da viagem que realizou à China, quando contava cerca de 40 anos de idade. Partiu em Julho de 1850 com destino a Macau, numa viagem que durou 50 dias, e permaneceu no Oriente até finais de 1851.  Os seus Apontamentos são, ainda hoje, uma obra de consulta obrigatória para todos aqueles que se dedicam ao estudo de Macau oitocentista, traçando um interessante retrato sobre aquela cidade e apresentando vivas descrições e profundas reflexões sobre outros espaços onde se fazia sentir a presença portuguesa, quer no Oriente quer em África".  Alfredo Gomes Dias. Ditema - Dicionário Temático de Macau, Vol. I, 2010.

terça-feira, 16 de março de 2010

Travessa do Auto Novo

Travessa do Auto Novo. Macau, Março de 2010

Travessa do Auto Novo: começa em frente à Travessa do Matadouro, entre a Rua da Caldeira e a Rua da Felicidade e termina na Travessa das Virtudes. Quanto à sua designação, lemos na Toponímia de Macau que «foi-lhe dado este nome por se representarem ali os autos chinas.» E mais, «em chinês chama-se Ch'eng P'eng Hong, ou Ch'eng Sán Kai ou Ch'eng P'eng Chek Kai; tem este nome por lá existir o Cineteatro Ch'eng P'eng, que é o prédio nº 23 dessa Travessa, construído um pouco antes de 1907»(1).

A propósito do Auto China, escreveu Jaime do Inso:
«Uma das curiosidades deste teatro está em que, ao contrário do que entre nós sucede - sempre a contradição - não se procura dar às fachadas das casas de espectáculo qualquer aspecto sumptuoso ou de embelezamento, porque, dizem eles, tudo quanto haja de gastar-se com o teatro, preferível que seja em benefício da arte, puramente teatral, do que na arquitectura exterior. O contrário seria puro esbanjamento.
Por isso, em vão se buscaria, no Bazar, o atractivo externo que nos oferecem os nossos teatros. Não, o Auto China - nome por que ficou conhecido o teatro chinês em Macau, como resto da nossa língua de antanho - fica escondido numa travessa e é revestido por um muro de tijolo cinzento, anónimo, fazendo lembrar a entrada duma estalagem»(2).

(1) P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, Volume 1, ICM, 1997, p.493
(2) Jaime do Inso. Cenas da Vida de Macau. 2ª edição. ICM, 1997, p. 45

terça-feira, 22 de maio de 2007

Festeja-se um deus budista, levanta-se um grande barracão

«Ali para os lados do povo de Patane, defronte do pagode de Ling-Cae, festeja-se um deus budista, levanta-se um grande barracão para representações teatrais. É sempre este o pretexto. As confrarias, no louvável propósito de divertirem os santos e de angariarem pecúlio, escolhem os dias memoráveis, que põem em alvoroço os fiéis, para erguerem teatros e contratarem companhias; o local é a rua, geralmente o terreno plano, que de regra defronta com o templo.
O teatro é uma vasta construção de bambu, coberta depois de colmo e esteiras; ergue-se em quatro ou cinco dias, e em igual tempo se desfaz, no fim da festa; tão sólido que resiste aos embates de milhares de curiosos, embora não se aplique um único prego, um único parafuso, ligadas tábuas e varas simplesmente por fibras de rotim. Ao fundo levanta-se o estrado para a cena; de cada lado um outro grande estrado, para os espectadores, divididos por sexos; e fica ao centro um espaço livre, descoberto, para a ralé que não paga, e que por ali irrompe, numa onda compacta de muitas centenas de cabeças.
(...)
Estudemos a cena. Não há bastidores, não há quase cenário; o espectador, advertido por certas convenções, um bambu figurando um cavalo, um cortinado figurando uma cama, tem de imaginar o resto; árvores em jardins, portas de entrada, escadarias, aqui uma ribeira, além uma colina, tudo se imagina. Não há actrizes (*); os papéis de mulheres são dados a homens, educados no disfarce; sendo tido por incompatível o belo sexo com a profissão, julgada ínfima. A música, a um canto, atordoa os ares, e ao compasso das suas flautas, dos seus atãs, ergue-se a voz intencionalmente em falsete dos figurantes, acompanhada dos gestos mais bruscos, das mímicas mais truanescas, que parecem constituir a suprema perfeição destes excêntricos. E contudo, ouvida a peça, traduzida por um meu companheiro prático na língua e nos costumes, mais uma vez me convenci de que não há originalidades; os povos destacam-se uns dos outros pela sua aparência, por simples divergências superficiais; no fundo, no seu modo de sentir, mostram-se sempre irmãos. Imaginem que estas estranhas representações, que tanto impressionam a nossa curiosidade de ocidentais, dariam, com um mero trabalho de tradução e adaptação, excelentes operetas para a Trindade, ao puro sabor dos alfacinhas». [Dezembro de 1890]
Wenceslau de Moraes. «Na Rua». Traços do Extremo Oriente. Parceria A. M. Pereira, 2ª edição, 1971

(*) Até 1901, só aos homens era permitido serem actores; foi em Xangai, que nesse ano, surgiu a primeira companhia de teatro, exclusivamente feminina.