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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Altar dedicado a Tou Tei

Pormenor do chi tei ou altar exterior  dedicado a Tou Tei , que se encontra à entrada do templo de Kun Iam na vila de Coloane. 
Tou Tei é o espírito protector dos lugares, o deus da rua, do bairro ou da povoação e encontra-se nas ruas, à entrada das casas e dos templos, em pequenos nichos ou em altares - chi tei - com a estátua do Tou Tei ou, por vezes, uma simples pedra simbolizando o deus.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Largo do Pagode do Bazar

Maqueta do Largo do Pagode do Bazar no Museu de Macau
"O Largo do Pagode do Bazar ocupou, ao longo do século XIX, um lugar importante na cidade de Macau. Outrora próximo do rio, são visíveis ainda hoje, no Largo, grandes lajes que serviram de cais. Um animado mercado de rua contribuiu para a vida desta área". 

O pagode que deu o nome ao largo é o Hong Chan Kuan Miu, também conhecido por Hong Kung Miu ou Pagode do Bazar, dedicado ao deus guerreiro Hong Kung.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Morcego, símbolo da felicidade

Imagem do morcego na fornalha em forma de torre de pagode do Templo de Bambu ou
 Chôk Lam Chi. Macau, Agosto de 2012

No seu livro Pagodes de Macau o Padre Teixeira explica o significado da imagem do morcego, tão frequente nos templos chineses: "O morcego é o símbolo da graça, ventura e felicidade. A razão é engenhosa: o morcego em chinês chama-se fôk su; ora o vocábulo fôk é homófono de fôk, felicidade; em virtude desta homofonia, o morcego veio a ser o símbolo da felicidade".

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pagode da Barra

"Pagode da Barra (mà cáo) da particular devoção dos marinheiros"
Fotografia do álbum Um Marinheiro em Macau -1903 - Álbum de Viagem de Filipe Emílio de Paiva.
Museu Marítimo de Macau, 1997

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Caso do Tesouro do Templo de Á-Má (II)

II
O crime

Nesse tempo, na velha cidade de Macau, funcionava ainda a Procuratura dos Negócios Sínicos, e era constante a cooperação entre o Procurador e o Administrador do Concelho em muitos assuntos de interesse citadino, podendo considerar-se como de maior importância o respeitante à investigação criminal.
O chefe da Polícia de Investigação era o chinês Lau-Sin, homem experimentado e destemido, muito considerado entre os chineses categorizados da Colónia.
Ao contrário do que era de esperar, o vento rodou para Norte e, desviando da cidade as nuvens chuvosas, abriu caminho ao Sol que, nesse dia dois da primeira Lua, surgiu  claro e brilhante, atenuando com o calor dos seus raios a gelada aragem que corria.
Era ainda feriado em todo a cidade, menos na Procuratura e na Administração, que velavam pela segurança pública.
Dois polícias, despachados a toda a pressa, chamavam com urgência o Procurador, porque um crime de assassinato tinha sido praticado no Templo de Á-Má - à Barra - crime que se ligava ao desaparecimento do Tesouro da Bonzaria.
A arca encontrava-se aberta com os fechos quebrados e, caído junto à parede e por detrás da arca, o velho bonzo Lau, de bruços, premia, de encontro ao lajedo, o cabo de um punhal, que lhe estava bem cravado no peito.
Nada indicava que tivesse havido luta, e o rosto já frio do bom velho deixava transparecer uma ideia fixa de profundo pesar.
Cumpridas as formalidades legais, o cadáver foi removido para o Hospital Chinês, a fim de ser autopsiado, e no local ficou apenas o chefe Lau-Sin que começou a examinar com todo o cuidado a arca e os fechos quebrados até que, arrancando de um deles uma pequena corrente de ouro que segurava um sinete de iôk, chamou o Superior e perguntou-lhe:
- Pertence a este Templo, ou a algum de vós, este sinete?
O Superior, examinando o sinete com a maior atenção, disse:
- Nem ao Templo nem a nenhum de nós, porém, não me é inteiramente desconhecido. Estes dizeres são simbólicos e, não só por este motivo, como ainda pelo seu formato, concluo facilmente que deve pertencer a um chinês da Província de Fu-Kien.
- Pois bem! - exclamou o polícia. - Este sinete pertence ao assassino que, ao debruçar-se para abrir a arca, depois de ter assassinado o velho Lau, por descuido prendeu um elo da frágil corrente de ouro numa aresta do fecho forçado, quebrando a corrente ao erguer-se, quando abria a arca, com o que fez tombar para trás o corpo do assassinado, que caiu de bruços e sobre o punhal, que lhe havia sido cravado no peito.
E, pensando durante uns segundos, continuou:
- Gente da Província de Fu-Kien é geralmente gente do mar. O assassino deve estar entre a população fluvial da Colónia.

Francisco de Carvalho e Rêgo. O Caso do Tesouro do Templo de A-Má. Macau, Imprensa Nacional,1949


Colégio de Bonzos
Bilhete Postal editado pela Procuradoria das Missões. Braga, c. de 1940
in João Loureiro. Postais Antigos de Macau


terça-feira, 15 de maio de 2012

Templo de A-Má

Templo de A-Má
Desenho de Chan Chi Lek

Colecção de bilhetes postais com desenhos de Chan Chi Lek
Publicação do Centro Unesco de Macau e Fundação Macau

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um pagode pitoresco

Templo junto às Portas do Cerco (Templo de Tin Hau)
Auguste Borget (1808-1877). Litografia colorida por Eugène Cicéri.
(in Quadros Históricos. Colecção do Museu de Arte de Macau)

"22 de Setembro de 1883 - Fui hoje, sob um calor intenso, inspeccionar os hidrómetros instalados. Às três horas da tarde dirigi-me ao da enseada de D. Maria II, acompanhado por Cinatti, Talone e Cunha. Para se chegar a este hidrómetro, assente na extremidade de uma restinga, foi mister entrar em uma pequena champana de pescador, onde o mar nos molhou a todos. Foi agradável aquele banho.
Há ali um sítio encantador. Pequenas cabanas de pescadores orlam a costa. Muito próximo, sobre umas rochas cortadas a prumo e batidas pelo mar, olhando para a enseada e para as nove ilhas, fica o pitoresco pagode chinês cercado de muros pintados de amarelo e com um pequeno jardim ensombrado por alguns formosos exemplares da árvore do pagode. É esplêndida de mimo e de poesia aquela situação do modesto templo. (...)"
Adolfo LoureiroNo Oriente, de Nápoles à China. in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo II. ICM, 1998

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Espírito Protector da Cidade

Kun Iam Ku Miu ou Kun Iam Chai (Pequeno templo da Deusa Kun Iam).
Macau, Agosto de 2009


"A pequena capela de Seng Wong foi construída num terreno da Família Sam, originária de Fok Kin, uma das famílias fundadoras daquela aldeia, que a história sempre deixou apagada.  Porém, foi nesse pequeno aldeamento que se desenrolaram factos da maior relevância e se urdiram várias conspirações, que o seu isolamento favorecia.
Não se procure, porém, Seng Wong, o Espírito Protector da Cidade de Macau, no templo de Kun Iam anexo à Bonzaria, um dos cartazes turísticos locais. Procure-se, sim, mais adiante, na capela anexa ao Kun Iam Ku Miu, o mais antigo dos templos chineses daquela velha aldeia, segundo consta dos velhos chôk pou das famílias de alguns dos seus fundadores. O Kun Iam Ku Miu, conhecido também por Kun Iam Chai, pela sua modéstia em relação ao Kun Iam Tong, foi erigido antes da chegada dos portugueses, segundo é tradição popular, sobre três tijolos que abrigaram primeiro uma imagem de Pou Sat toda Misericordiosa, a que ouve todas as preces - Kun Iam, a Nossa Senhora dos chineses budistas. Esta imagem foi encontrada a boiar nas águas do rio nos fins da dinastia Song ou nos fins da dinastia Un por crianças que guardavam cabras, perto do local onde hoje se ergue o Lin Fong Miu. A lenda, que a tradição oral e os chôk pou fizeram perdurar, assim o conta.
E Seng Wong? Sen Wong foi entronizado mais tarde. Segundo alguns informadores, a sua capela apenas foi construída nos fins do século XVIII, quando Macau, reconhecida cidade pelas entidades chinesas, passou a ter um mandarim que se instalou em Mong Há, embora sejam muito mais recentes as lápidas com os nomes dos beneméritos que promoveram a sua beneficiação, se não reconstrução, na segunda metade do século XIX.
Nessa altura, como era habitual em todas as cidades chinesas, a estátua de Seng Wong tornou-se indispensável à harmonia, ao bem estar e... à consciência dos magistrados locais.
Seng Wong não é uma divindade como Kun Iam ou como Kuan Tong, por exemplo. Seng Wong, tal como Tou Tei - o guardião tutelar do solo, de cada localidade, de cada sítio -, é uma entidade abstracta e plural. Cada cidade tem o seu espírito protector, só dela, a quem, dantes, todos os anos, se prestava homenagem, com mais ou menos luzida procissão, acompanhada de ruidoso estralejar de panchões.
O nome desta entidade tutelar significa, aliás, literalmente, Rei da cidade muralhada, sendo o muro ou o fosso os limites impostos às grandes cidades chinesas para sua defesa contra as frequentes incursões de exércitos inimigos ou simplesmente de piratas.
O Imperador de Jade, entidade criada pelo tauísmo popular e equivalente ao Soberano Celestial da velha teologia da China Arcaica, que se perde na aurora da sua civilização, teria criado magistrados seus para protegerem as diferentes cidades, servindo como juízes imparciais dos seus moradores." 
Capela de Seng Wong no Kun Iam Chai (Agosto de 2009)
(...)
"Em meados do século XX havia, ainda, na pequena capela de Seng Wong, um belíssimo ábaco em pau-preto, que é um dos emblemas das capelas que são dedicadas a esta divindade, pois pertence à imaginação popular a crença de que é com este instrumento que o magistrado celeste contabiliza as boas e más acções dos moradores seus súbditos."
Capela de Seng Wong no Kun Iam Chai (Agosto de 2009)
(...)
"Com a retirada do Mandarim de Macau, em meados do século XIX, e com o passar do tempo, o papel de Seng Wong como magistrado celeste foi-se apagando e já nos anos 60-70 era, apenas, uma divindade como tantas outras com que os tauistas povoaram os templos da cidade e a quem os devotos budistas iam  pedir principalmente paz, saúde, riqueza e êxito no negócio.
A capela estava, naquela altura, relativamente abandonada e Seng Wong bastante esquecido. No entanto, havia sempre alguém que ia pedir-lhe justiça e acender pivetes em sua honra, quando acabava por perder a crença na integridade dos juízes terrenos. E Seng Wong parecia sorrir ironicamente do alto do seu nicho de talha, onde o ouro perdera já o brilho, como bom conhecedor dos homens e... da cidade."
Ana Maria Amaro. "O Espírito Protector da Cidade". Revista MacaU, nº 16 de Agosto de 1993

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Long Mou, a Mãe do Dragão

Long Mou, a Mãe Dragão (à esquerda) e Choi Pak, o deus da prosperidade e riqueza, no  Fôk Tak Chi ou Tou Tei Miu (Templo da Felicidade e da Virtude), na Rua da Barca de Lenha.


Long Mou, a Mãe Dragão, a deusa que todos ouve e todas as preces concede, excepto os pedidos de riqueza. A seu lado, Choi Pak, o deus da prosperidade e distribuidor da riqueza. Prosperidade e Riqueza. A este propósito, comenta o Padre Teixeira*: "Quem dirá que os chineses não são espertos? Estes dois deuses completam-se um ao outro (...)".

A deusa Long Mou ou Mãe do Dragão, adorada pelos pescadores e padroeira do Rio das Pérolas, ganhava a vida a pescar no rio da sua terra natal, Yuet Shing. Um dia encontrou um grande ovo, que decidiu chocar. Nasceu um dragão, e Lou Mou foi chamada à corte imperial para relatar o acontecimento. Mas, a viagem era longa e cansativa e Long Mou saudosa da sua terra resolveu regressar. Surge-lhe, então, o seu dragão alado que a transportou no seu dorso até à corte.

O templo que acolhe a Mãe Dragão fica situado na Rua da Barca da Lenha. Dedicado a Tou Tei, o Deus da Terra, é constituído apenas por uma pequena capela, com um mesa sobre a qual se encontram os perfumadores de pedra e as jarras de flores. 


* Padre Manuel Teixeira. Pagodes de Macau, 1982.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Tou Tei, o Deus da Terra

Pequeno altar dedicado a Tou Tei, o Deus da Terra, situado ao nível do solo, no passeio. Macau, Rua de S. Paulo. Julho de 2010

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Igreja e Seminário de S. José

Igreja de S. José em Macau (Junho de 2009)

"No ano de 1657 fundaram os jesuítas o Seminário de S. José, de Macau.
É um vastíssimo edifício, de construção solarenga, colocado num ponto elevado da cidade e rodeado de grandes a aprazíveis cercas.
Dá-lhe ingresso uma majestosa escadaria de granito, composta de vários lanços.
A actual igreja, da mesma invocação, como é natural, internamente em forma de cruz grega e com um bem lançado zimbório, foi construída de 1748 a 1758, e renovada interiormente em 1904. Nela se guardam várias relíquias entre as quais um pedaço dum braço de S. Francisco de Xavier, vindo de Goa. Possui um quadro representando a morte de S. Francisco Xavier, numa cabana em Sanchoão, e um outro que, se a memória nos não atraiçoa, reproduz uma cena do martírio de religiosos no Japão".
Artur Levy Gomes. Esboço da História de Macau 1511-1849. Repartição Provincial dos Serviços de Economia, Macau, 1957

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Altar no Pátio dos Cules

Pátio dos Cules. Macau, Maio de 2010

domingo, 16 de maio de 2010

Kun Iam, a Deusa da Misericórdia

A deusa Kun Iam e outras divindades no Fok Tak Chi, na Travessa da Porta. Macau, 2010


Guanyin - ou Goon Yam ou Kun Iam -, divindade importada, tal como o Budismo, do Norte da Índia, cerca de 500 anos a.C., é uma bodhisattva (Avalokitesvara), que possuía, originalmente, a forma masculina, assumindo depois a feminina. Divinizada pelo “imperador de Jade”, Kun Iam, a deusa da Compaixão e da Misericórdia, dispõe de poderes de omnipresença e assume, sempre que disso necessite, a forma que quiser, ora nova, ora velha, para melhor poder ajudar os seus crentes. É também representada com mil braços e mil olhos, “que a todos acolhe e que tudo vê”. E, em Macau, é frequentemente designada por “Nossa Senhora dos chineses budistas”.
A sua imagem é uma presença constante em altares domésticos ou mesmo na rua, em pequenos altares ou simples oratórios. Surge muitas vezes representada com uma flor de lótus ou com uma jarra de jade e um ramo de salgueiro numa das mãos. Noutras, acompanhada por uma criança, Shan Ying, personagem de uma das suas lendas.
De acordo com uma das lendas, questionando os deuses sobre a razão do sofrimento dos mortais e do que poderia fazer para os acudir, recebeu de Buda uma mensagem para ir até ao cume do Monte Sumeru, procurar uma flor de lótus branca e uma jarra de jade, pois com elas tornar-se-ia uma bodhisattva e concretizaria o seu desejo de ajudar os outros. Ao chegar ao cume do monte, Buda voltou a aparecer-lhe e entregou-lhe a flor de lótus e a jarra, recomendando-lhe que as colocasse no seu altar e que meditasse até ao dia em que da jarra brotasse um ramo de salgueiro. Nesse dia, tornar-se-ia bodhisatta e ascenderia ao céu. Mas, passaram-se alguns anos, e por muito que meditasse a jarra continuava vazia. Um dia, porém Shan Ying, uma criança traquinas, resolveu pregar-lhe uma partida, enchendo a jarra de água e colocando-lhe um ramo de salgueiro. Entretanto, a jovem sonhava que um rapaz que não conseguia reconhecer, viera ajudá-la a tornar-se bodhisatta. Recolheu-se, então, a meditar junto à flor de lótus, segurando a jarra com o ramo de salgueiro. Pouco depois, começou a levitar e sentada na flor, que entretanto aumentara de tamanho, agradeceu à criança e ascendeu ao Céu, nesse dia, o 19º da 6ª lua.

Fontes:
Cecília Jorge. Deuses e Divindades . Gods and Deities. Direcção dos Serviços de Correios, 2005

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Altar na rua do Templo de Lin Fong

Kuan Tai, o Deus Guerreiro junto a um pequeno templo na Rua do Templo de Lin Fong. Macau, 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Templo de Lin Kai

Templo de Lin Kai, na Travessa da Corda. (Dezembro, 2009)

«Lá para os lados de Sân K'iu (Ponte Nova)encontra-se um edifício que, por ser composto de três corpos, se destaca do restante casario de acanhado aspecto que forma este bairro, quase totalmente habitado por artífices que se dedicam ao exercício de variados misteres.
O referido edifício - o Templo de Lin-K'âi - é de traça bastante comezinha e, a não ser um ou outro insignificante pormenor, não possui qualquer beleza arquitectónica nem decorativa, digna de nota.
(...)
Posto que este templo se chame de Lin-K'âi não é, no entanto, dedicado a essa divindade - como seria lícito inferir-se - pelo mero facto de não existir nenhuma com tal nome no hagiológio chinês. A divindade a quem foi consagrado este templo é Pâk-Tái, mas o povo tomou o hábito de lhe chamar Lin-K'âi por ser este o nome dum diminuto ramo do delta, o qual figura nas velhas cartas topográficas de Macau com a designação de Canal de Sân-K'iu, significando "Regato de Lóto", sendo este último termo derivado do facto desta cidade ser, em geomância nativa, comparada a uma folha da mística planta. O pequeno curso de água em questão infiltrava-se por aquele bairro, na altura em que se encontra o arruinado cinema de Sân-K'iu, sinuosava caprichosamente, passando em frente do templo Seàk-Kâm-Tóng, e seguia para o sítio onde é hoje a Rua da Barca, depois de alagar todo o terreno actualmente atravessado pela Rua da Alegria.
Ora era exactamente o local em frente deste templo que numerosas embarcações escolhiam para seu ancoradouro, sendo este o motivo por que uma das principais ruas desse bairro se chama ainda Rua das Barcas.
Um dia, foi visto a boiar à tona da água um boneco. Os marítimos, estranhando tal aparecimento, atribuíram ao boneco uma origem sobrenatural e, receosos, trataram de "bater cabeça" e acender pivetes, a fim de ver se conseguiam convencer o boneco a afastar-se daquele local. O boneco insistia, porém, em aparecer todas as tardes com a preia-mar e sempre no mesmo sítio. Houve, então, um marítimo menos supersticioso que ousou retirar o boneco da água para o examinar e, assim, todos puderam verificar que ele representava a imagem de um indivíduo extremamente calvo, de longas barbas e com os pés descalços, condizendo em tudo com a conhecida figura do deus Pâk-Tái.
Resolveram, portanto, os mareantes quotizarem-se entre si para edificar uma capelazinha, com o fim de prestar culto a essa divindade que, por lhes ter aparecido tão espontaneamente, decerto lhes deveria proporcionar muitas venturas. Porém, no dia das encénias, instalaram, por equívoco, no altar, a estatueta do deus Uá-Kuóng em vez da de Pâk-Tái e, para não melindrar nem um nem outro, tiveram de construir mais um altar a fim de se poder venerar ambos os deuses». Luís Gonzaga Gomes. Lendas Chinesas de Macau. Notícias de Macau, 1951

Para além das divindades acima referidas por Gonzaga Gomes, o templo é ainda dedicado a Kum Iam, a Deusa da Misericórdia, a Choi Bak, o Deus da Riqueza, a Kuan Tai, o Deus da Guerra e das Riquezas, e aos Tai Soi ou Deuses do Ano. Construído em 1830 e ampliado entre 1875 e 1908, o Templo de Lin Kai está classificado Património Cultural.
Gonzaga Gomes conta ainda uma outra lenda associada ao templo e ao deus Pak Tai. Há muitos anos, três crianças brincavam no templo quando viram, junto ao altar, a figura de um homem calvo e de longas barbas, vestindo uma túnica comprida, mas de pés descalços. Tinha junto de si um cágado e uma cobra. Alertados pelas crianças, correram ao templo os moradores do bairro para conhecerem em pessoa tão ilustre visitante, mas quando lá chegaram já Pak Tai se tinha retirado. Contudo, deixou-lhes o cágado e a cobra, que no templo ficaram a viver até ao dia em que foram levados por uma grande cheia.

Rede do Património Cultural de Macau: Templo de Lin Kai

domingo, 4 de abril de 2010

Tabuletas ancestrais

Tabuletas ancestrais no Choc Lam Si em Macau
(Fotografia, Abril de 2008)


A tabuleta ancestral (Long Pai) representa o antepassado. Com cerca de 10 a 20 cm de largura e o dobro de altura, nela encontra-se inscrito o nome, o título ou funções do falecido e uma das suas almas (a outra parte para o Outro Mundo). É venerada no altar ancestral, que pode ser em casa ou num templo.
Todos os dias presta-se-lhe culto, queima-se incenso e oferece-se chá, fruta ou outros bens. Porém, é objecto de culto especial em determinados dias do ano, sobretudo no dia do seu aniversário e nas festividades mais importantes. Se o culto diário é tarefa de mulheres, já o culto especial compete ao chefe da família.
«Para que um espírito passe a habitar estas tão simples moradas de madeira, não é suficiente gravar nelas o respectivo nome. O ritual para esta cerimónia foi descrito no livro Tso-chuan, e consiste em exorcitar o espírito do falecido e a inscrever na tabuleta, além do seu nome, o ideograma chu.
Este ideograma que significa dono ou senhor (tradução livre), deve ser gravado por uma pessoa muito próxima do defunto, e de impecável virtude. No momento de o inscrever, o celebrante deve respirar sobre a ponta do pincel, antes de aplicar o primeiro traço. No instante exacto em que aplica o pincel sobre a madeira, deve conter a respiração, e concentrar-se na imagem mental do defunto, como se a alma daquele se concentrasse, realmente, nesse ponto da madeira» (Amaro: p. 56)

Fontes:
Ana Maria Amaro. «Rituais da Morte, Rituais da Vida na Antiga China». RC - Revista de Cultura, Nº 18, 1994
António Pedro Pires. O culto dos antepassados em Macau. Edições Afrontamento, 1999

quarta-feira, 31 de março de 2010

Lugar da felicidade que permanece para sempre

O Fok Tak Chi na Rua do Almirante Sérgio, em Macau

Segundo o Padre Teixeira*, o templo possui três nomes: Fok Tak Chi ou pagode da Felicidade e da Virtude, Tou Tei Miu ou pagode dos Deuses Locais e Fok Tei Cheong Yeng, ou seja, Lugar da Felicidade que permanece para sempre...
No altar central encontra-se Tou Tei, de longas barbas e sorriso amável, e na mesa junto ao altar várias divindades, entre elas Kun Iam, a Deusa da Misericórdia, e Kuan Tai, o Deus da Guerra.
Fica situado na Rua do Almirante Sérgio, muito perto do santuário da Deusa A-Má.

*P. Manuel Teixeira. Pagodes de Macau. DSEC, >Macau, 1982

terça-feira, 30 de março de 2010

Altar na Travessa da Ponte


Altar na Travessa da Ponte, junto ao templo de Seak Kam Tong Hang Toi (ou Miradouro de Seak Kam Tong). Macau, Dezembro de 2009

O oratório é dedicado a Tou Tei, o deus da terra, e nele existe uma inscrição que diz Tou Tei da Cabeça da Ponte, o que leva a supor que o altar se situava na extremidade de uma ponte que aí existiu e deu o nome à travessa. O Padre Teixeira afirma que «a ponte foi primeiro de bambu e depois de pedra e ficava entre as Ruas da Pedra e de João de Araújo, correndo sob ela um pequeno rio. O bairro San K'iu (Ponte Nova) tomou o nome dessa ponte»*.

Padre Manuel Teixeira. Pagodes de Macau, DSEC, 1982

segunda-feira, 29 de março de 2010

O templo de Sin Fong




O Templo de Sin Fong. Macau, Junho de 2009

Fica localizado no final da pequena e estreita Travessa de Coelho do Amaral, em Mong Há. Sobre o templo em honra de Sin Fong, "divindade tutelar" recorro ao artigo "A Velha Aldeia de Mong Há Que Eu Conheci"*, de Ana Maria Amaro:
«Este templo (Sin Fong Miu) bem como o Lin Fong Miu, outrora à beira da água e frequentemente inundado, não pertenciam propriamente à povoação de Mong Há, mas sim à chamada povoação marginal de Santi (ou San Tei)».
Deve ter sido fundado no reinado de Tou Kuong (século XIX), segundo uma inscrição «que pode ler-se na placa sonora, peça que deve ter sido doada por ocasião da sua fundação». Apenas esse teng (placa sonora), suspenso no pátio interior, atesta a idade do templo, pois todos os restantes vestígios desapareceram.
«O templo era decorado por cortinados de cretone florido chinês, de pouco mais de uma pataca a jarda, que mãos haviam ornamentado com lantejoulas num contraste gritante, a par dos fán, faixas laudatórias também de pano de algodão. Quanto às estátuas das divindades eram esculpidas em madeira e berrantemente pintadas de novo, o que deixava dúvidas quanto à sua antiguidade»*.

* Ana Maria Amaro. "A Velha Aldeia de Mong Há Que Eu Conheci". RC. Revista de Cultura. Nº 35/36 (II Série), 1998