terça-feira, 27 de outubro de 2009

«É o pagode de Na T'cha Miu»

Templo de Na Tcha na Calçada das Verdades. Macau, 2009

«Naquele isolamento de bairro popular e onde enxameiam garotos seminus numa liberdade feliz pelas calçadas, íngremes do Monte, naquele recanto escondido e talvez desconhecido de tantos europeus que passaram por Macau, fica um dos mais interessantes pagodes desta cidade, não pela riqueza, que a não possui, mas pelo aspecto, pelo típico cenário em volta e, sem dúvida, pela história e tradição que desconheço, mas que há-de ter.
É o pagode de Na T'cha Miu.
(...)
Chega uma mulher, uma chinesa de calças e cabaia de seda negra - como os chineses costumam usar na época do calor - e espeta dois pequenos pivetes acesos em frente do tosco altaraberto numa parede e ao nível da rua superior.
Para baixo desciam uns degraus de longos blocos de granito que formavam o piso do pequeno santuário.
Rodolfo quedou-se examinando aquele ambiente extraordinário de um templo em plena rua e foi seguindo atentamente as preces da chinesa.
Outro altar, formado por uma singela mesa de madeira com ornamentos vermelhos, estava junto do primeiro e em cima dele ardiam também pivetes, em honra de desconhecidas divindades.
Entre ambos, uma espécie de forno ou fornalha enegrecida pelo fumo servia de crematório aos múltiplos papéis que, com intenções várias, os chineses destinam a implorar favores aos espíritos do Além.
Duas tabuletas verticais, vermelhas e misteriosas, com franjas que oscilam ao vento, pendiam das colunas que sustentavam, cobrindo a estreita rua, o telhado do exótico tabernáculo.
(...)
Havia um cheiro doce e enjoativo no ambiente - do fumo dos pivetes queimados - e as lanternas suspensas do tecto, bem como as oferendas, tabuletas de madeira ou de seda que pendiam das paredes, vermelhas e cheias de caracteres negros ou dourados, tudo tinha o mesmo tom enegrecido pelos muitos pivetes e orações evoladas sobre a forma de papéis ardidos.»
Jaime do Inso. O Caminho do Oriente. Instituto Cultural de Macau, 1996, 2ª edição.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Reminiscências - Fotografias de Macau Antigo

Fotografia de Lei Iok Tin, 1945

"Reminiscências - Fotografias de Macau Antigo", patente no Museu de Arte de Macau, apresenta fotografias de Macau de 1920 a 1960, da autoria de José Neves Catela e de Lei Iok Tin, entre outros. Um retrato de Macau antigo e das suas gentes.

domingo, 4 de outubro de 2009

Pois da Lua muito se conta...

Lanternas no Largo do Senado. Macau, Setembro de 2009


«(...)
Pois da Lua muito se conta e sempre o homem imaginou ver nela formas, expressões, encantos e fantasias. E sempre pensou poder um dia lá entrar e descobrir todos os mistérios. Mas a Lua é tão misteriosa que mesmo depois de os astronautas lhe terem feito várias visitas, e imagens suas correrem mundo, a verdade é que continua a apaixonar, a dar inspiração, a conservar um encanto que sempre fará inveja ao Sol, que sendo quem nos dá a vida nunca encerrou os encantos lunares. A Lua é feminina, é bela, carinhosa e misteriosa, o Sol é masculino forte, quente, e não nos deixa olhá-lo de frente porque a sua luz cega. É sempre o deus criador da mitologia. Na cosmografia chinesa ele é Yang, e a Lua é Ying.
(...)»
Fernando Sales Lopes. Terra de Lebab. Colecção Macau e as suas Gentes. IPO / IPM

Festa do Bolo Lunar


Festa do Bolo Lunar

Há nestas lanterninhas mágicas
com que crianças passeiam na noite
a sua inocente pertença
a esta terra e às raízes

uma acolhedora intimidade de casinhas ambulantes
como se em torno de cada lanterninha
uma família se reunisse a celebrar
- e eu do lado de fora de cada janela entreaberta

Carlos Frota. Dos Rios e Suas Margens. Macau, 1998