domingo, 23 de maio de 2010

Visita ao Templo de A-Má

No templo de A-Má. Macau, Maio de 2010


Como um peixe amarelo ferido
seguindo a multidão que vai prestar culto a Buda
nado rumo ao oeste, ao oeste
como atraído pela luz

Muitos jovens, homens e mulheres,
levam nas mãos Yuan Bao* e velas
Eu, homem de meia idade
contemplo esta paisagem como um turista curioso

Tal como as formigas que sorvem o mel
os jovens crentes inundam o templo de A-Má
O Buda, face a eles, continua calado e solene
Eu, abafado pelo fumo intenso dos incensos
verto lágrimas de angústia.

Jiang Si Yang. "No Templo de A-Má". Antologia de Poetas de Macau. 1999

* Yuan Bao: Ojecto em forma da antiga moeda chinesa utilizado nas cerimónias do culto a Buda.

Jiang Si Yang
(1949)
"Com o pseudónimo de Jiang Si Yang, Li Jiang nasceu em Bo Lou, província de Guangdong.
Trabalhou sucessivamente nas áreas comercial, industrial e de comunicação social. É colaborador de jornais e autor do livro de poesia Sentimento ao Entardecer". (in Antologia de Poetas de Macau, 1999)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Rua da Alfândega

Rua da Alfândega. Macau, Maio de 2010

Começa na Rua do Seminário, junto ao Largo do Aquino e termina na Rua dos Cules, junto ao entroncamento com a Rua dos Mercadores. Com o mesmo topónimo existe um beco, que se situa junto da Rua do Gamboa, em frente ao Beco das Galinhas.

A alfândega foi estabelecida em Macau, em 1783, pelas "Providências dadas pela Rainha Nossa Senhora, para o porto e cidade de Macau". Até então, não havia alfândega portuguesa, mas havia, desde 1648, o Hopu, ou alfândega chinesa. Existiam dois Hopus, um na Praia Grande e o outro na Praia Pequena (onde actualmente se situa o Pátio da Mina, na freguesia de Santo António) *.

* P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau. Vol. I. ICM, 1997

Altar no Pátio dos Cules

Pátio dos Cules. Macau, Maio de 2010

Calçada do Gamboa

Calçada do Gamboa. Macau, Maio de 2010

Começa junto ao Largo de Santo Agostinho, no cimo da Calçada do Tronco Velho, e termina na Rua da Alfândega. À direita, o Pátio dos Penates; à esquerda, o Pátio do Mainato e, ao fundo, o Pátio dos Cules.
António José Gamboa, comerciante e proprietário de navios, desempenhou, ente 1793 e 1795, funções de procurador do Senado de Macau.

domingo, 16 de maio de 2010

Kun Iam, a Deusa da Misericórdia

A deusa Kun Iam e outras divindades no Fok Tak Chi, na Travessa da Porta. Macau, 2010


Guanyin - ou Goon Yam ou Kun Iam -, divindade importada, tal como o Budismo, do Norte da Índia, cerca de 500 anos a.C., é uma bodhisattva (Avalokitesvara), que possuía, originalmente, a forma masculina, assumindo depois a feminina. Divinizada pelo “imperador de Jade”, Kun Iam, a deusa da Compaixão e da Misericórdia, dispõe de poderes de omnipresença e assume, sempre que disso necessite, a forma que quiser, ora nova, ora velha, para melhor poder ajudar os seus crentes. É também representada com mil braços e mil olhos, “que a todos acolhe e que tudo vê”. E, em Macau, é frequentemente designada por “Nossa Senhora dos chineses budistas”.
A sua imagem é uma presença constante em altares domésticos ou mesmo na rua, em pequenos altares ou simples oratórios. Surge muitas vezes representada com uma flor de lótus ou com uma jarra de jade e um ramo de salgueiro numa das mãos. Noutras, acompanhada por uma criança, Shan Ying, personagem de uma das suas lendas.
De acordo com uma das lendas, questionando os deuses sobre a razão do sofrimento dos mortais e do que poderia fazer para os acudir, recebeu de Buda uma mensagem para ir até ao cume do Monte Sumeru, procurar uma flor de lótus branca e uma jarra de jade, pois com elas tornar-se-ia uma bodhisattva e concretizaria o seu desejo de ajudar os outros. Ao chegar ao cume do monte, Buda voltou a aparecer-lhe e entregou-lhe a flor de lótus e a jarra, recomendando-lhe que as colocasse no seu altar e que meditasse até ao dia em que da jarra brotasse um ramo de salgueiro. Nesse dia, tornar-se-ia bodhisatta e ascenderia ao céu. Mas, passaram-se alguns anos, e por muito que meditasse a jarra continuava vazia. Um dia, porém Shan Ying, uma criança traquinas, resolveu pregar-lhe uma partida, enchendo a jarra de água e colocando-lhe um ramo de salgueiro. Entretanto, a jovem sonhava que um rapaz que não conseguia reconhecer, viera ajudá-la a tornar-se bodhisatta. Recolheu-se, então, a meditar junto à flor de lótus, segurando a jarra com o ramo de salgueiro. Pouco depois, começou a levitar e sentada na flor, que entretanto aumentara de tamanho, agradeceu à criança e ascendeu ao Céu, nesse dia, o 19º da 6ª lua.

Fontes:
Cecília Jorge. Deuses e Divindades . Gods and Deities. Direcção dos Serviços de Correios, 2005

sábado, 15 de maio de 2010

Tap Seac


Legenda: "Arcadas na Av. do Conselheiro Ferreira de Almeida". Edição do Instituto Cultural de Macau, 1988. Fotografia de Álvaro Tavares
Legenda: "As Oito Casas do Ho Lan Un" / "The European Style Buildings. Along Av. Ferreira de Almeida near Tap Siac playground there are eight house built in more than half a century ago. Featuring in large verandah, striped red-lemon wall and high archway the style is typically Southern European". Data da edição: 1995. Fotografia de Wong Wai Hong.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Nónha Catarina de Noronha

"Apesar do frio que se fazia sentir naquela manhã de Fevereiro de 1662, a cidade do Santo Nome de Deus de Macau acordara alvoraçada com os preparativos das festas para o grande acontecimento do ano - o casamento de D. Catarina de Noronha com o rico mercador D. Francisco Vieira de Figueiredo. Não se tratava de um casamento qualquer.
A noiva era filha de D. António Manuel da Câmara de Noronha, governador da cidade, cargo que desempenhava interinamente por eleição dos moradores, mas que exercera por designação da Coroa, de 1631 a 1636. Nobre de nascimento, a rondar já pelos sessenta e tal anos, viera para a Índia no início do século XVII e, em 1618, encontrava-se já a capitanear a Fortaleza de Manar, na ilha de Ceilão. Preocupado com o futuro e bem estar da família, numa cidade cada vez mais empobrecida por falta de comércio, não queria perder a oportunidade de casar a sua filha mais velha com um homem digno da sua esmerada educação. A passagem por Macau do europeu mais rico e famoso do Oriente era uma ocasião única, que não poderia deixar escapar".
(...)
"Era já lusco-fusco quando o novo casal recolheu a casa, momento que se dava por terminada a festa daquele dia. Transportados em liteiras de janelas bem rasgadas, para que todos os pudessem ver através das finas cortinas, os noivos fizeram a pequena viagem seguidos de numeroso cortejo nupcial, que, em constante algazarra, lhes ia atirando pétalas de flores. Mais do que os noivos, foi o chão que ficou coberto de um colorido manto, como se de uma procissão se tratasse. (...) As ruas estavam empilhadas de gente para os ver passar, iluminadas por tochas e balões vermelhos, alguns com luz interior, que brilhavam como pequenas estrelas. Ao som do rufar dos tambores e de tocadores de xian, o cortejo desceu a colina do Monte até à Sé, e daí seguiu para a Rua Central. Na época, esta rua começava na Fortaleza do Monte, passava pelo largo da Sé e curvava à direita para passar em frente da Santa Casa da Misericórdia, que então se estendia até à esquina do Senado da Câmara, único edifício construído dentro das muralhas em linhas orientais, e continuava a subir encurvando pela esquerda até à igreja de S. Lourenço".
Maria Helena S. R. do Carmo. Uma Aristocrata Portuguesa no Macau do Século XVII. Nónha Catarina de Noronha. Fundação Jorge Álvares e Editorial Inquérito, 2006
Recriando o quotidiano macaense da segunda metade do século XVII, os costumes, hábitos, religião e festividades de Macau seiscentista, o romance centra-se na figura feminina de D. Catarina de Noronha, que se destacou "das senhoras do seu tempo, não apenas por ser esposa de um rico comerciante europeu com uma célebre carreira diplomática e militar no Oriente, mas pela forma como multiplicou a sua fortuna e conquistou a sua própria independência depois de viúva"*. Obra de ficção histórica, apoia-se numa investigação histórica rigorosa sobre a expansão marítima e o enquadramento de Macau no contexto político e económico da época.
* do Prefácio

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Fortaleza do Monte

Vista da Fortaleza do Monte.
Bilhete Postal Ilustrado datado de 1990.
Fotografia de Wong Wai Hong

Fortaleza do Monte

Fortaleza do Monte. Macau, Março de 2010

"O P. Alexandre Valignamo, S. J., que faleceu em Macau a 20 de Jan. de 1606, "acomodou o Monte para recreação e alívio do Colégio (de S. Paulo) e também para em tempo de muita gente e aperto de agasalhos morarem nele alguns Padres e Irmãos".
O Monte estava, pois, na posse dos jesuítas antes de 1606; foram também eles que lá construíram 3 baluartes, que já estavam concluídos em 1623. Nesse ano D. Francisco Mascarenhas, Capitão-Geral de Macau, apoderou-se do Monte e construiu o quarto baluarte em 1626, data que se acha gravada na pedra da Fortaleza. Ele deu o comando dessa Fortaleza a seu irmão, D. Pedro Mascarenhas.
Quando D. Francisco chegou a Macau em 1623, já existiam os fortes de S. Paulo, Guia, S. Francisco, N. Sra. da Penha de França, Barra e o baluarte do Bomparto.
Diz-se que havia um subterrâneo que ligava a fortaleza de S. Paulo ao Colégio do mesmo nome e que aí se achavam tesouros escondidos. Essa lenda não tem base histórica.
Quando em 24 de Junho, dia de S. João Baptista, os holandeses invadiram Macau com 13 navios de guerra, os jesuítas italianos Jerónimo Rhó e Cristoforo Borri atiraram-lhes do Monte três tiros de canhão que lhes foram fatais e o jesuíta alemão Johann Adam Schall von Bell (que mais tarde fundiu em Pequim uns 200 canhões para o Imperador) prendeu por suas mãos um capitão holandês. O herói da vitória foi, no entanto, o Cap.-Geral Lopo Sarmento de Carvalho."
P. Manuel Teixeira. A Voz das Pedras de Macau. Imprensa Nacional. Macau, 1980

Pedra de Armas

Pedra de Armas encimando a porta de entrada da Fortaleza do Monte (Macau, 2010)


Com as armas reais de Portugal, uma cruz e um globo, e os dizeres ANNO DNI 1626, a pedra de armas é encimada por outra, triangular, com o busto de S. Paulo. Esta pedra de armas encontrava-se no átrio da fortaleza, mas quando, em 1971, se procedia a obras na entrada da fortaleza, surgiu atrás da pedra um nicho religioso. A pedra de armas foi, então, colocada no topo da porta de entrada. A estátua de Nossa Senhora que se encontra actualmente no nicho é da autoria do escultor António Duarte e foi aí colocada em 1979.

Fontes:
P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, vol I. ICM, 1997 e A Voz das Pedras de Macau. Imprensa Nacional, Macau, 1980

Travessa do Pagode

Travessa do Pagode. Macau, Novembro de 2009

Liga a Rua das Estalagens à Rua da Madeira e o pagode a que se refere fica situado no Largo do Pagode do Bazar. É o templo de Hong Kung, também conhecido por Pagode do Bazar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Abundavam os vendilhões ambulantes



"Abundavam vendilhões ambulantes de comidas e sopas de fita, de acepipes avinagrados, de canjas doces de feijão vermelho ou verde (mungo), de gergelim, de amêndoa e de amendoim, de sumos e geleias de frutas, de fritos doces e salgados, os bolos chineses, pak-tong-cou e song-cou.
Havia ainda o homem do tao-fu-fá, essa pasta branca de soja que se sorve em calda de açúcar, o vendilhão de leong-fan, uma geleia castanho-escuro feita de certa alga, embebida em leite condensado, o sorveteiro gritando várias qualidades de gelados, etc., tudo a animar o burburinho da rua. Este tipo de vendilhão estendia-se pela Rua da Palha, Rua dos Mercadores e das Estalagens, pelo Mercado de S. Domingos e pelas ramificações do Bazar.
Todos estes deleites para satisfazer a gula eram oferecidos a preços de tuta-e-meia e por isso tentadores, mas sem respeito pelos rigorosos preceitos de higiene, expostos ao ar, às moscas, à poeira e aos miasmas da rua, o que constituía um perigo para a saúde."
Henrique de Senna Fernandes. "Rua das Mariazinhas". Mong-Há, Instituto Cultural de Macau, 1998

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Matteo Ricci



No templo de A-Má

Festival de A-Má no templo da Barra. Macau, Maio de 2010

No templo de A-Má

Detrás da franja que lhe vela o rosto,
Com seus olhos de amêndoa, vela o porto interior,
Onde veio varar, por um certo Sol-posto,
O junco em que a trazia o pescador.

E o pescador, tornado espanto e medo,
Porque dela se evola o mistério que o invade,
Ao vê-la diluir-se nas penhas, no arvoredo,
Estende-lhe o desejo e a divindade.

E na praia, ao abrigo dos tufões,
O esplendor de um templo ergue a face encarnada,
Encimado pelo ovo e os dragões
E o casal de leões a ladear-lhe a entrada.

É assim que A-Má, já satisfeito o gosto
Da sagrada morada, para a prece e o louvor,
Detrás da franja que lhe vela o rosto,
Com seus olhos de amêndoa, vela o porto interior.

É, no auge do dia que lhe é consagrado,
Povoa-o de bandeiras de juncos e tancares
E ouve as orações de um azul perfumado
E o estrondo dos panchões, afogueando os ares.

Afugenta, em redor, os demónios do céu,
Faz o peixe pular para as redes da fome
E, por maior amor a terra que escolheu,
Pôs-lhe um nome: o seu nome.

E Macau enobrece o nome que lhe é posto,
Enquanto A-Má, temendo-a em garras de invasor,
Detrás da franja que lhe vela o rosto,
Com seus olhos de amêndoa, vela o porto interior.

António Manuel Couto Viana. "No templo de A-Má". Antologia de Poetas de Macau, 1999

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Neblina

Procuro-te na neblina
mas nada consigo

Tenho de confundir
a neblina
com a tua respiração
com a tua voz
com a tua pele

Yao Jingming. A Noite Deita-se Comigo. Pedra Formosa - Associação Cultural e Instituto Internacional de Macau, 2001

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Altar na rua do Templo de Lin Fong

Kuan Tai, o Deus Guerreiro junto a um pequeno templo na Rua do Templo de Lin Fong. Macau, 2010