quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Uma arte tradicional de Macau: escultura de ídolos sagrados

A "Escultura de Ídolos Sagrados de Macau" encontra-se, desde Junho deste ano, inscrita na Lista do Património Cultural Intangível da China, arte tradicional que passou de geração em geração ao longo de quase cem anos.
«A origem do ofício de esculpir ídolos sagrados prende-se com as crenças religiosas populares, nomeadamente dos pescadores. Das imagens mais simples e despojadas até às grandiosas representações de Buda, o ofício passou por diversas fases de desenvolvimento» (in Catálogo da Exposição), tendo atingido níveis técnicos bastante avançados, embora conservando as características estéticas e as tradições locais da arte de esculpir, de aplicar laca ou folha de ouro. De uma produção centrada em pequenas imagens de madeira, o ofício desenvolveu-se até à criação de estátuas de Buda, como a que se encontra no mosteiro budista Miu Fat de Hong Kong.

A exposição "Trabalhos com Engenho - Esculturas de Ídolos Sagrados de Macau", que apresenta mais de 80 peças, ferramentas e dados históricos, encontra-se aberta ao público, no Museu de Macau, até 5 de Abril de 2009.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Dimensão dos Mistérios

Pátio de Além-Bosque. Macau (Dezembro de 2008)


A Dimensão dos Mistérios


E lá vou eu pela Travessa da Palanchica,
Pátio da Gruta e do Além Bosque,
Travessa das Acácias, Pátio do Socorro,
um bairro teia de aranha de cantoneses fugidos,
onde se reparte tudo: o arroz, a doença, os filhos.

Quando tantas ruas
nos equivocam tão estreitamente
andar sem rumo é o caminho mais seguro.

É que alguém falou no mistério do Minotauro,
coisa grega muito longe destas ilhas,
dizendo que já não existia fora de nós mesmos.

Mas eu pergunto:
não é justo que nos atrevamos
a visioná-lo neste labirinto,
bem lá no fundo dele,
à espera de nos engolir?

Para quê levantar altares
apenas a mistérios diminutos?


Alexandre Pinheiro Torres. Trocar de Século. Poema / Century Slip. A Poem. Instituto Português do Oriente e Fundação Oriente, 1995

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Terra de Lebab


Terra de Lebab de Fernando Sales Lopes é a terra do entendimento, a terra onde coexistem diferentes línguas, culturas e tradições. Na Terra de Lebab convivemos com as diferentes comunidades que em Macau vivem, conhecemos as suas festas e festividades, as suas gastronomias, as suas tradições.
Um livro pensado para jovens com ilustrações de Rui Rasquinho. É a primeira publicação da colecção "Macau e as suas Gentes", edição conjunta do Instituto Português do Oriente e do Instituto Politécnico de Macau.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Templo de I Leng

O Templo de I Leng, também conhecido por Ka Sin Tong, na Rua Direita de Carlos Eugénio, na Taipa.


Construído em 1900 - recuperado pela Câmara Municipal das Ilhas, em 1986-87, reaberto ao culto em Setembro de 1987, conforme atesta a placa colocada à entrada -, o templo é composto por um átrio frontal e um átrio traseiro, separados por um pátio central, e é dedicado a I Leng, o Deus da Medicina.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Santa Sancha

Estrada de Santa Sancha (Macau, Novembro de 2008)

«Outrora o nome dado ao bairro de Santa Sancha era Tanque do Mainato», nome que vinha «dum tanque ali situado, onde os mainatos lavavam a roupa», esclarece o Padre Teixeira (Toponímia de Macau, vol. 1), acrescentando que os chineses designaram esta área - a leste da Colina da Penha, Calçadas da Praia e das Chácaras e parte da Estrada de Santa Sancha - por Chok Chai Sat, ou seja, Chácara dos Bambus Pequenos.
A Rua do Comendador Kou Hó Neng - que começa na Calçada das Chácaras e termina na Rua da Boa Vista -, designou-se, em tempos, por Rua do Tanque do Mainato. Este ficava entre a Baía do Bispo - onde hoje se situa o campo de ténis - a Leitaria Macaense ou Vacaria do Vaz, que ficava situada atrás da antiga casa da Obra das Mães.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Rua Central

A Rua Central (Novembro de 2008)


Designa-se, em chinês, por Leong Sang Cheng Kai, isto é, Rua Direita do Cume do Dragão, dragão este que, porém, não consegue «exercer grande influência na vida económica e no destino dos habitantes desta pacata cidade, por lhe terem cortado um membro, com a abertura da Avenida Almeida Ribeiro, que, em figura geomântica, representa a espada que decepou o dragão (...)».
Entre a segunda metade do século XIX e até à construção da Avenida de Almeida Ribeiro, a Sam Má Lou, em 1915, a Rua Central foi a principal artéria comercial da cidade. Situada na "cidade cristã", no aristocrático bairro de S. Lourenço, encontrava-se «idealmente bem situada (...) a escassos minutos na Praia Grande de gente opulenta, do Palácio do Governo e dos hotéis. Perto, também, o Clube de Macau e o Teatro D. Pedro V, o Seminário de S. José e duas igrejas de intensa devoção (...)» (Henrique de Senna Fernandes).
Nela se instalaram alfaiates e modistas, ourives e joalheiros, antiquários e livreiros, e, sobretudo as lojas dos mouros, de sedas, cetins, toalhas e bordados, para além de roupas, chapéus e gravatas. Ao domingo, depois da missa das onze horas na Sé Catedral, a rua transformava-se numa espécie de Passeio Público, onde exibiam-se a toilettes, espreitavam-se as novidades, trocavam-se mexericos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Jardim da Montanha Russa


O morro onde se localiza o Jardim da Montanha da Montanha Russa - Ló Si Sán, o Outeiro do Caracol, como é conhecido entre os chineses - designava-se, primitivamente por Siu Lin Fông, ou seja, Pequeno Cume do Lótus, para se distinguir da colina de Mong Há, que é conhecida por Lin Fông Sán, a Colina do Cume do Lótus. Conta, ainda, Gonzaga Gomes(1), «era este o local em que, há uma dezena de anos(2), nas calmosas tardes de estio, se reunia uma parte da população, para gozar a fresca aragem trazida pelo mar, e para se deliciar com refrescos e gelados, que eram servidos nas várias mesas espalhadas pela esplanada, pois, nesse tempo, ainda não havia cafés e restaurantes pela cidade e quem necessitasse de qualquer bebida, ou tinha de ir pedi-la a uma taberna ou aos bares dos hotéis, dos clubes ou dos barcos da carreira de Hong Kong».

Uma outra curiosidade associada a este jardim prende-se com a geomancia chinesa, em que «os acidentes orográficos de Macau assumem o aspecto de ung-si-lông-k'au (cinco leões brincando com uma bola) pois, como é sabido, para os chineses, o leão não é aquele temível rei da selva que solta pavorosos bramidos, mas sim um animal traquinas que se diverte imenso com uma esfera que persegue, tal como estamos acostumados a vê-lo, na cauda de todas as procissões religiosas ou cortejos de manifestações de regozijo». Esta família leonina, em que a Colina da Guia representa o pai leão, a da Penha a mãe leoa, e os três filhotes são as colinas da Montanha Russa, do Jardim de Luís de Camões e de Mong Há, encontra-se «em movimentada atitude de se precipitarem-se sobre a esfera, o cobiçado objecto da sua perseguição, e que, para o caso, é a colina da Ilha Verde».


(1) Luís Gonzaga Gomes, «O Extinto Povoado de Macau-Seak», Lendas Chinesas de Macau, Notícias de Macau, 1951

(2) Princípios do século XX; o jardim situava-se, então, fora de portas, perto da antiga praia da Areia Preta

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Postas do Oriente: um blog de blogs do Oriente

Caderno do Oriente foi associado ao projecto Postas do Oriente, um espaço de divulgação de blogs de língua portuguesa no Oriente, ou com o Oriente relacionados, e que disponibiliza, em tempo real, as últimas actualizações dos blogs associados.

Rampa dos Cavaleiros

Rampa dos Cavaleiros. Macau, Novembro de 2008

A Rampa dos Cavaleiros começa no entroncamento das Estradas de Ferreira do Amaral e da Bela Vista e termina em frente da Estrada da Areia Preta. Os cavaleiros eram britânicos, cuja comunidade, no século XIX e até à fundação de Hong Kong, em 1841, possuía junto às Portas do Cerco o seu hipódromo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Bauínia blakeana, a flor de Hong Kong

Jardim Cidade das Flores, na Taipa.

«Foi pela primeira vez observada em 1908 por um padre da Missão Francesa de Pok Fu Lam, tendo sido identificada e divulgada pelo botânico Dunn, que foi Conservador do Herbário de Hong Kong. Por ter sido encontrada em Hong Kong, esta espécie foi "baptizada" com o nome de blakeana, em honra de Sir Henry Blake que, de 1898 a 1903, foi Governador do vizinho Território.
De referir ainda que, em 1965, esta espécie foi escolhida como símbolo floral de Hong Kong, encontrando-se estilizada na bandeira da actual Região Administrativa Especial de Hong Kong.» (Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol. II).

Originária de Hong Kong e cultivada no Sul da China, a Bauínia de Flor Vermelha - Bauhinia blakeana Dunn - floresce de Novembro a Março. Trata-se de um híbrido estéril, provavelmente proveniente do cruzamento natural entre a Bauhinia variegata e a Bauhinia purpurea.

Fontes:
Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol. II
The University of Hong Kong: Bauhinia blakeana Dunn, Hong Kong Orchid Tree
Wikipedia: Bauhinia blakeana

Uma casa saborosa

Na Rua das Hortas (Areia Preta).

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Nenúfar


A clorofilina idade
na transparência vegetal
das algas
em aquática luz,
nenúfares quedados
entre esguios bambus.

Jorge Arrimar. Secretos Sinais. Instituto Cultural de Macau, 1992

Canforeira

Canforeira - Cinnamomum camphora (L.) Presl - na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, em Macau.

Árvore pertencente à família Lauraceae e ao género Cinnamomum, o mesmo da caneleira, a canforeira é originária de uma vasta zona geográfica do Extremo Oriente, particularmente a região oriental da China, Taiwan, Coreia, Japão e Vietname. De lento crescimento, chega a atingir 30 metros de altura e 3 metros de diâmetro. A casca, a madeira, os ramos e as folhas são aromáticas e a cânfora - destilada a partir da madeira, da raiz, dos ramos e das folhas - é utilizada na preparação de medicamentos, cosméticos, produtos químicos, incensos. A madeira, aromática e resistente à humidade e aos insectos, é utilizada na construção naval e no fabrico de mobiliário.


Fonte:
Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol. I Câmara Municipal das Ilhas, 1997
Cinnamomum Camphora (Camphor tree), in Wikipedia



quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Estacionamento proibido

No Mercado de S. Domingos em Macau (Outubro de 2008)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O templo de Kuan Tai

Altar-mor - onde «campeia o barbudo Kuan Tai, tendo à sua direita Chau Chong e à esquerda Kuan P'eng e em frente um pequeno Kuan Tai para as procissões» - do templo de Kuan Tai ou Sam Kai Vui Kun, em S. Domingos (Macau, Outubro de 2008).

«Kuan Tai é uma divindade taoísta, adorada também pelos budistas.
Quem é Kuan Tai?
É o deus da guerra e tem vários nomes: Kuan Kong, Kuan Yu, Kuan Tai e Wu Tai.
O seu nome pessoal era Chang Sheng, que ele depois mudou para Chou Chang, tomando também o de Yun Chang; é também conhecido
por Kuan, da família Yu, e ainda por outros sete nomes. Nasceu em Shansi em 162 A.D..
Começou por vender feijões; depois, deu-se ao estudo. Um dia, escapou-se do quarto em que os seus pais o haviam encerrado por castigo, matou um magistrado, que queria forçar uma rapariga a ser sua concubina e fugiu.
Depois de chegar a Cho Chou, em Chihli, teve uma pega com o carniceiro Chan Fei; acudiu Liu Pei, a separá-los e os três tornaram-se amigos íntimos.
A seguir, fizeram o famoso "Juramento no Pomar dos Pêssegos", comprometendo-se a ajudar-se mutuamente, a viver e a morrer juntos; ficaram conhecidos pelos "Irmãos do Pomar dos Pêssegos".
Kuan Kong é o mais famoso herói militar da China. Em 1120 A.D. foi nomeado Duque Fiel e Leal; 8 anos depois, Príncipe e Pacificador Magnífico. O imperador Wen (A.D. 1330-3) intitulou-o Príncipe Guerreiro e Civilizador; o imperador Wan Li (1573-1620) deu-lhe o título de Grande Ti ou Tai, Fiel e Leal, Sustentáculo do Céu e Protector do Reino, tornando-se assim um deus, adorado como Kuan Ti ou Wu Ti ou Tai, o deus da guerra. Havia na China 1600 templos em sua honra e milhares de outros mais pequenos, sendo um dos deuses mais populares do país.
É também patrono da literatura, sendo adorado pelos literatos por ser capaz de repetir do princípio ao fim os "Comentários de Tsó sobre os Anais" (Ch'un ch'ui Tso Chuan).
Nas imagens adoradas pelos letrados, Kuan Tai segura este livro na mão direita e é acolitado por seu filho adoptivo Kuan P'eng, que está à sua direita e oferece um chapéu académico aos candidatos a letrados.
Geralmente é adorado com deus da guerra, da literatura e das riquezas, segundo as necessidades de cada localidade. É ainda patrono das lojas de penhor e de antiguidades.» (Padre Manuel Teixeira, Pagodes de Macau).

O templo situa-se junto ao Mercado de S. Domingos, na zona do antigo Bazar chinês. A sua construção deve remontar a 1750 - data referida pelo Padre Teixeira e por Leonel Barros -, tendo sido restaurado em 1793, 1805, 1836 e 1893.
Encontra-se este templo ligado à Associação das Três Ruas, Sam Kai Wui Kun, «a mais antiga associação chinesa que se instituiu nesta cidade a fim de promover o bem estar» (Gonzaga Gomes, em Curiosidade de Macau Antiga), tendo sido fundada pelos moradores das três primeiras ruas de comércio que existiam em Macau, isto é, a dos Ervanários, a das Estalagens e a dos Mercadores, esta última conhecida por Rua do Acampamento - Iêng Tei Kái - por nela, ou próximo, terem acampado as primeiras tropas portuguesas.

No pequeno átrio fronteiro ao templo - que serve habitualmente de estacionamento de motorizadas - realiza-se no 8º dia do 4º mês lunar a festividade do Dragão Embriagado ou Tchoi-Lông.


O Centro Histórico de Macau

Rede do Património Cultural de Macau: Sam Kai Vui Kun (Templo de Kuan Tai)

domingo, 26 de outubro de 2008

Sesta no jardim de Luís de Camões

No topo de uma das rochas que constitui a «Gruta de Camões», em Macau (Outubro de 2008)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O templo de Tin Hau na Taipa


«Durante o reino de Tou Kuang (1821-1850), da dinastia Cheng, no ano de 1833, a Taipa era um coito de piratas, que infestavam as ilhas vizinhas.
Para pôr termo às suas depredações, o imperador enviou uma esquadra, à qual se juntaram algumas lorchas de marítimos e pescadores.
A luta durou vários anos, com muitas mortes de parte a parte; entre os mortos achavam-se 200 voluntários dos juncos governamentais, que foram agraciados com medalhas de mérito, recebendo as suas famílias uma pensão de uma só vez.
Com esse dinheiro e outras dádivas de 48 ricos da vila, os barqueiros levantaram um pagode em honra de
T'in Hau, ou Rainha do Céu, protectora dos marítimos.
Os nomes desses 200 voluntários ficaram lá gravados
ad perpetuam rei memoriam.»(Padre Manuel Teixeira, in Pagodes de Macau).

A acreditar na informação do Padre Teixeira, o templo só poderá ter sido construído depois de 1833, entre 1840 e 1845, com o tal dinheiro das pensões e dádivas, e não em 1785 como afirma Leonel Barros (em Templos, Lendas e Rituais - Macau).

O templo situa-se na Rua do Governador Tamagnini Barbosa, na Taipa. Era composto, inicialmente, por três pavilhões, todos ao mesmo nível. Actualmente, apenas funciona como espaço de culto o pavilhão central. Os outros dois foram alugados a um restaurante.

Rede do Património Cultural de Macau: Templo de Tin Hau

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

No Patane

Rua do Patane, em Macau (Outubro de 2008)


Ruas, ruelas, travessas, becos e pátios.
Nelas há fios enrodilhados, gaiolas penduradas, roupas estendidas. À porta das casas há bancos e cadeiras, estendais de roupa.
Há altares ou pequenos templos, com os deuses do lar, da rua ou do bairro. Em pequenos oratórios, colocados à porta da casa, ardem paus de incenso.
Ruelas onde o sol quase não entra, encardidas da humidade que escorre das fachadas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Altar na Travessa dos Algibebes

Na Travessa dos Algibebes em Macau (Outubro de 2008)

domingo, 12 de outubro de 2008

A sesta do barbeiro

Na Travessa das Galinholas, em Macau (Outubro de 2008)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Marceneiro

Na Travessa da Dorna, em Macau.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Buscar / Levar Estudantes

«CENTRO DO SERVICO TRATAMENTO BUSCAR/LEVAR ESTUDANTES PUILAO» na Rua de Tomé Pires, em Macau (Outubro de 2008)

domingo, 5 de outubro de 2008

Templo de Fôk Tak Chi

Templo de Fôk Tak Chi na Rua de Tomás da Rosa, em Macau (Setembro de 2008)

Na Horta da Mitra situava-se, antigamente, um templo dedicado aos deuses locais, que foi demolido quando aí se abriram as vias públicas, conforme se lê numa lápide que se encontra no átrio do actual templo de Fôk Tak Chi, o templo da Felicidade e Virtude. Mandado reconstruir, no mesmo local, pelo governador Tomás da Rosa, foi inaugurado em Maio de 1886.

O nome completo deste pequeno templo é Chong Kuok Tou Tei Miu, ou seja, Templo dos Deuses Locais e a sua festa ocorre no oitavo dia da segunda lua.

Em Pagodes de Macau*, o Padre Manuel Teixeira explica:
«O T'ou Tei ou Espírito protector dos lugares rurais não se deve confundir com os Sé Chek, em mandarim Shê Chi, deuses do solo ou das colheitas. O espírito de solo, , era adorado pelos primeiros sábios chineses como culto colectivo - os cinco Espíritos Terrestres das Montanhas e Florestas; dos Rios e Lagos; dos Planaltos e Colinas; dos Terraplanos e Diques; e das Correntes e Pântanos. O controla vastas porções do território, como uma perfeitura, sub-perfeitura ou até uma província, ao passo que o Tou Tei limita a sua jurisdição a uma pequena área, como uma povoação, gruta, canal, campo ou montanha.
É, pois, o deus do local, do bairro ou de toda uma aldeia».

*Padre Manuel Teixeira. Pagodes de Macau. Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, 1982
(obra digitalizada na Biblioteca Digital do Centro Científico e Cultural de Macau)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Rua da Tercena

A Rua da Tercena dois dias depois das inundações provocadas pela passagem do tufão Hagupit.


Começa na Rua dos Faitiões, próximo do Beco dos Faitiões e do Pátio da Tercena, e termina junto às ruas dos Ervanários e de Nossa Senhora do Amparo. Diz Gonzaga Gomes que, antigamente, o mar chegava até à Rua da Tercena, pois o «vocábulo significa tulha à beira de um rio ou perto dum cais»*.

* Luís Gonzaga Gomes em Curiosidades de Macau Antiga, citado pelo P. Teixeira na Toponímia de Macau, vol. 1, p,476.

Associação de Medicamentos Chineses

«Associação de Medicamentos Chineses Macau», na Avenida de Horta e Costa em Macau.

Altar no Beco do Chá

Altar no Beco do Chá, em Macau (Setembro de 2008)

Por todo lado, em pátios ou becos, ruas ou travessas, à porta das lojas ou das habitações, encontram-se pequenos altares com imagens de deuses ou apenas com caracteres que identificam a divindade. Em todos eles ardem pivetes de incenso, que aí são colocados ao nascer e ao pôr-do-sol. São os Deuses Penates, Deuses do Lar, que velam pela segurança dos mortais.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Gato Preto

Na Rua de Fernão Mendes Pinto, em Macau (Setembro de 2008).

A Má

Templo da Barra. (Macau, Setembro de 2008)

A Ma

Da navegação vária se recolheu
o porto e o abrigo, de tão longe ansiados,
da procelosa vaga colhido
após tormentas e angústias diversas,
eis quantas alegrias aqui, quantas agruras,
quantas porfias de tanta caminhada;
da variada sorte cresceram cantos
e versos aqui deixados pela manhã,
vindos ao lugar pacífico e sereno;
dessa deusa porfiosa e fasta
se deu à terra o barco
e a própria vida; nada infelice
se criou o lugar de que se disse,
após tanta viagem temerosa,
que seria o mais feliz e propício:
e se à própria vida chegou
nesta praia primitiva,
foi à vida que veio a morte
tão antiga e tamanha, e tal sorte.

José Valle de Figueiredo. O Provedor de Vivos. Lisboa, 1988

A Pedra de T'ai-Ut

A pedra de Tái-Ut no Templo da Barra (Macau, Abril de 2008)

A Pedra de T'ai-Ut

Lái-Pou-I

amansou as águas
rasgando as redes
da desgraça

T'ai-ut
a vermelho

A causa primordial

Para onde estará virada
a Espada
enterrada sob o penhasco?

Para onde apontará
hoje
o seu gume?

Fernando Sales Lopes. Pescador de Margem. Livros do Oriente, 1997

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Rocha Tái Ut

A lenda associada aos dois grandes caracteres vermelhos - Tái Ut - que se encontram numa rocha do Templo da Barra e que remonta ao tempo do estabelecimento dos portugueses em Macau, conta-nos Luís Gonzaga Gomes(1).
Nesse tempo, lorchas carregadas de mercadorias e provenientes de todos os portos da China fundeavam no porto interior, junto ao templo de T'in Hau, a Soberana do Céu, protectora das gentes do mar, de quem eram extremamente devotos.
«Curioso, porém, é que apesar desse fervor religioso, dir-se-ia que os navegantes se encontravam em desfavor da sua patrona, pois todos os anos, nas proximidades do dia 23 da 3ª lua, dia consagrado à festividade da T'in Háu, não deixava de se dar um estranho naufrágio, em frente do seu templo». Tal facto, atribuíam à ausencia de T'in Háu, que nessa ocasião visitava a sua terra natal, Tin-Pou, em Fuquiem.
Houve um ano, porém, que aportaram todas as embarcações excepto uma, a de Mâk Kâm Tái, que, por andar atarefado, não conseguira chegar a tempo para as festividades de T'in Háu. Porém, para os lados das Nove Ilhas, formou-se uma nuvem negra que, absorvendo as águas do mar e formando uma coluna de água, envolveu a embarcação de Mâk Kâm Tái, desfez -la em mil pedaços que se esfranganlharam de encontro à superfície do mar.
Apesar do desastre ter ocorrido em frente do templo, onde se encontravam centenas de embarcações, estas nada sofreram e ninguém se apercebeu da tragédia. Apenas dois tripulantes se salvaram, testemunhas de tão terrível tragédia. Como tal calamidade ocorria periodicamente e todos os anos, por essa data, destroços de naufrágios apareciam em frente ao templo, cresceu o culto dos marítimos à deusa.
Foi por essa altura que Lái Pou I visitou o templo da Barra. Lái Pou I, um famoso geomante da província de Kúong Tong, pôs-se a estudar o local com a sua ló p'un, a bússola dos geomantes, junto de uma enorme rocha. Depois de apalpar o lóng mak, o pulso do dragão, informou os circunstantes que era exactamente naquele sítio onde a virulência do ar nocivo era mais acentuada. Contaram-lhe dos naufrágios, que todos os anos ocorriam mesmo em frente do templo. Disse, então, Lái Pou I, que era preciso contrapor, quanto antes, a influência do ar nocivo, pois «a corrente da Ribeira Grande, na fronteira ilha da Lapa, entra na porção do rio que fica em frente ao templo, escavando, no seu ímpeto, o leito, de forma a moldá-lo numa larga e profunda bacia semelhante a uma rede de pesca. Por sua vez, a Ribeira Grande age como um pescador, que ao lançar a sua rede colhe, todos os anos, uma embarcação». Foram estas as palavras do famoso geomante. Os marítimos, por sua vez, trataram de angariar uma larga soma para pagar a Lái Pou I por forma a que este acabasse de vez com tal nefasta influência.
Lái Pou I traçou na rocha os dois grandes caracteres vermelhos - Tái Ut - que significam causa primordial, a frase tauista que impede qualquer tipo de desgraça. Depois, debaixo da rocha, enterrou uma espada com o gume voltado para a Ribeira Grande, para cortar as cordas da nefasta rede. «Desta forma, o pescador, criado pela fértil imaginação do geomante, ficou inibido de puxar a sua malfazeja rede e, por tal facto, daí em diante, nunca mais se registou a ocorrência de naufrágios misteriosos em frente do templo da Barra».

(1) Luís Gonzaga Gomes. «A Rocha de "Tái Ut" do Templo da Barra», in Macau Factos e Lendas, ICM, 1994

domingo, 28 de setembro de 2008

Mosteiros budistas

Kum Iam Tong. Macau, Setembro de 2008

«Como em todas as cidades da China, em Macau também existem bonzas e bonzos, que são necessários para a realização de várias cerimónias religiosas e para oficiarem em ritos fúnebres. Esses religiosos vivem agrupados em diversos edifícios chamados Tch'i (mosteiros), que se encontram situados em diferentes pontos da cidade.
Os mosteiros ou conventos mais conhecidos são o de P'ou Tchâi Sin Un (Mosteiro de Socorro e Caridade Universais), que fica situado em Móng Há, na Avenida Coronel Mesquita; o de Tchôk Lâm (Bambual) em Sá Kong, na Estrada Coelho do Amaral; o de Ling Fông (Cume de Loto), no templo do mesmo nome, o qual se encontra edificado no sopé da Fortaleza de Móng Há; o de Lók Sán (Colina de Venturas), que fica na encosta do Monte de S. Paulo; e o de Tcêng K'ók (Recta Percepção), que se encontra instalado no Templo da Barra.
Destas cinco habitações de sacerdotes ou de sacerdotisas budistas a mais antiga é a de P'ou Tcâi que o povo conhece geralmente por Kum Iâm T'óng (Pavilhão da Deusa da Misericórdia), por ter sido primitivamente uma simples capela destinada à veneração desta divindade (...)»
Luís Gonzaga Gomes. «Mal-Aventurados Amores», in Macau Factos e Lendas. ICM, 1994.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

No autocarro

Aviso colocado nos autocarros da TRANSMAC. Macau (Setembro de 2008)

Deus da Porta

Coloane, Templo de Sam Seng (Setembro de 2008).


Ali, onde os silêncios
da montanha
se desdobram em oração
e os cegos adivinhos
estudam misteriosos sinais
na palma da mão,
banham-se de vermelho
os símbolos ancestrais.
Nas tardes mansas
ou na matinal claridade
os deuses de longos
bigodes de lodo
e compridas lanças
guardam a porta
da mística intimidade...

Jorge Arrimar. «Deus da Porta», in Secretos Sinais. ICM. Colecção Poetas de Macau. 1992

Tarrafeiro

Rua do Tarrafeiro (Setembro de 2008)

Limitado, actualmente, a um Beco e a uma Rua, o Tarrafeiro designava uma parte da cidade situada no sopé da colina onde se encontra a Igreja de Santo António, junto à Praça de Luís de Camões. Quando ainda não tinham sido construídos os aterros do Porto Interior, ali, no sopé do morro, havia uma praia onde se concentravam os tancás (barcos-habitação). Essa gente dos tancás, que vivia das actividades marítimas, dedicava-se também à pesca do camarão, por meio de tarrafas, uma espécie de rede de pesca. «Foi devido ao facto de se encontraram nesse sítio somente indivíduos que exerciam esse mister, que proveio o nome de Tarrafeiro àquele local», explica Gonzaga Gomes em Curiosidades de Macau Antiga.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Loja de Escovas

Fica na Rua dos Mercadores. É uma loja pequena, estreita, uma espécie de corredor, e designa-se por «Loja de Escovas de Leong Sam Kei». Quanto ao comércio de escovas, provavelmente, há muito que aí deixou de se praticar. Mas o nome ficou, e hoje vende toda a espécie de objectos decorativos de louça, jarras e vasos, estatuetas de deuses e deusas, budas sorridentes e barrigudos. Uma velhota passa ali os dias sentada num banco, colocado quase à porta do estreitíssimo corredor atafulhado de objectos.


terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Fonte

Largo do Lilau. Macau, Setembro de 2008



Ninguém ouve
*********naquele beco estreito
o murmúrio da água
*********refrescando a sede...

A fonte,
*********encontrei-a eu
no lilau do meu peito,
*********o aveludado leito
onde me entreguei
*********a Macau...

Jorge Arrimar. «A Fonte». Secretos Sinais. ICM. Colecção Poetas de Macau.1992

Lilau

Calçada do Lilau. Macau, Setembro de 2008

Curiosa ligação. Uma calçada portuguesa. No velho muro caiado de branco, as caixas de correio em estilo bem chinês.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Rua da Praia do Manduco

Rua da Praia do Manduco (Setembro de 2008)

«A Rocha da Rã que fazia kók-kók ficava na Praia do Manduco» conta o Padre Teixeira , e acrescenta, que «por este vocábulo "manduco" é designada a rã em Macau»(1). Em tempos antigos, houve aqui uma praia, a Praia do Manduco, muito frequentada pela marinha mercante e onde muitos comerciantes possuiam cais privativo. O nome de "manduco" deve-se à existência da tal Rocha da Rã, Há-Má-Seak, uma rocha estranha, de forma arredondada e de cor esverdeada que, nos dias de chuva e de vento ou quando a maré subia, produzia um som semelhante ao coaxar de uma rã.
Por volta de 1829-30, e apesar dos protestos da população chinesa, a rocha foi removida para, no local da praia, construírem um aterro.
Quase toda a Rua da Praia do Manduco - que começa junto ao Mercado de S. Lourenço, ao fundo da Calçada do Januário, e termina na Rua do Almirante Sérgio - é um verdadeiro mercado ao ar livre: fruta, legumes, peixe seco, carnes assadas e fumadas, roupas, calçado, pivetes e diversas oferendas para os deuses, tascas e cozinhas ambulante de comidas diversas, de sopas e de doces ou de bolachas acabadinhas de fazer.

(1) P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, Vol I. Instituto Cultural de Macau, 1997


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mong Há na luz do poente

Recanto do jardim do templo de Kum Iam (Kum Iam Tong), em Macau (Setembro de 2008).


Mong Há na luz do poente

A Colina do Lótus, ao cair da tarde
Reflecte o fulgor das esparsas nuvens rubras
Ilusão dos pavilhões, tão próximos de mim
A névoa avança das Portas do Cerco
Alastra na espessura do bosque em flor
A inspiração poética é um dom do céu
O fogo crepuscular arde em perfeita beleza
Obra e Criador são uma e a mesma coisa.

Yin Guang-ren

in Fernanda Dias, Poemas de Uma Monografia de Macau. Colecção Pavilhão Insólito. COD, Macau, 2004

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Palmeira dos leques

Jardim da Fortaleza do Monte em Macau (Setembro de 2008)

A Palmeira dos Leques - Livistona chinensis (Jacq.) R. Br. - é originária da região de Xinhui, em Guangdong, no Sul da China. As suas folhas são utilizadas na confecção de leques, cestos, chapéus, etc., e a fibra proveniente da baínha da folha no fabrico de tapetes. O fruto e a raiz são utilizados na medicina tradicional chinesa.

Fonte: Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, Vol 1. Câmara Municipal das Ilhas, 1997

Ruínas de S. Paulo


Fachada majestosa de igreja triunfante
inexistente igreja cheia de ventos
e de chuvas e da humilde banalidade
do casario em derredor

fachada a separar sem dividir
esta cidade de crenças diferentes
onde o incenso é o mesmo sinal exterior
de antigas perguntas
que todos os homens se fazem
em todos os altares
a todos os deuses

fachada que dás
para um interior apenas dentro de nós
o resto é o céu os pássaros e os anjos
a esvoaçar imperceptíveis sobre as nossas cabeças
neste lugar preciso do Santo Nome de Deus

Carlos Frota. «Ruínas de S. Paulo» in Dos Rios e suas Margens. Macau, 1998

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Acácia suratensis

Acácia suratensis no Jardim de Vasco da Gama em Macau (Setembro de 2008)

Encontram-se exemplares de Acácias suratensis - Cassia surattensis Burm. f. - nos jardins e arruamentos de Macau, da Taipa e de Coloane, sendo muito utilizada como árvore de arruamento. Originária da Ásia e Austrália, floresce durante todo o ano.

Fonte: Wang Zhu Hao, Árvores de Macau, vol 1. C.M. das Ilhas, 1997