sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os primitivos Bombeiros de Macau

(1) Pá de vime e balde de areia 
(2) Chapéu de bombeiro, em bambu, do século XIX 
(3) Bomba manual de fabrico chinês pertencente à população da vila de Coloane, que se encontrava colocada no templo de Tin Hau (em Coloane) e cedida à corporação pela Associação de Beneficência "Quatro Pagodes".



Os Primitivos Bombeiros de Macau 
"Há umas poucas dezenas de anos, esta cidade ainda não possuía um serviço de incêndios mantido pelo Estado e, por esse motivo, os predecessores dos actuais bombeiros não faziam parte duma organização centralizada.
(...)
Nessa época, cada rua tinha de concorrer para a manutenção dum grupo de bombeiros, que aguardavam em suas casas uns metrozinhos de mangueira, uma agulheta e uma bomba de incêndio, que consistia em uma caixa que se deslocava sobre duas rodas, tendo, num dos lados, um rudimentar maquinismo que servia para comprimir a água.
Quando fosse preciso fazer trabalhar esse precioso engenho ia-se buscar água, aos baldes, nos poços ou no mar e, uma vez lançado para dentro da caixa-reservatório, o líquido extintor era comprimido pelo maquinismo, que era, por sua vez, accionado à força dos músculos de vigorosos mocetões.
(...)
Nesse tempo, existia uma combinação táctica entre os bombeiros e a população da cidade. E assim, logo que fosse dado o rebate, saíam todos os bombeiros dos seus alojamentos e o grupo que chegasse primeiro, através do dédalo das ruelas da velha cidade, recebia, como recompensa dos seus esforços, um magnífico leitão assado e dois almudes da melhor aguardente chinesa, custeados entre os moradores da rua vitimada pelo sinistro.
Ora, o grupo mais afamado era o da fábrica de tabaco Tchu Tch'éong Kei, que mantinha um grupo  privativo com o seu respectivo equipamento, o mais completo possível, pois necessitava de se prevenir contra qualquer incêndio dentro da fábrica, cujo negócio era enorme.
(...)
Assim que fosse dado o sinal de alarme, quer de noite ou de dia, esses valorosos mocetões saltavam imediatamente das suas camas e, num abrir e fechar de olhos, fazendo repercutir com estrépito nas pedras das vielas os seus sapatorros, chegavam ao local do desastre, no meio dum ensurdecedor estrupido de rodados e de brutais imprecações, pondo toda a rua alvoraçada numa convulsão de actividade e, em alguns minutos, dominavam, com presteza sem igual, qualquer abrasamento por mais violento que fosse.
Por esse motivo, quando acontecia uma calamidade desta natureza, os ânimos pusilânimes dos moradores da rua, onde se manifestava o sinistro, só se asserenavam com a chegada do grupo da fábrica Tchu Tch'éong Kei. Então, alijados do receio de o fogo se alastrar, devastando as suas casas, exclamavam jubilosos: - "Já não há receio! Já chegou o grupo de Tchu Tch'éong Kei!".
E assim, não consta que nesse tempo algum outro grupo tivesse conseguido conquistar mais porcos assados e almudes de aguardente chinesa do que esse famigerado punhado de bravos, cujos componentes caprichavam em se excederem uns aos outros, em denodadas dedicações e nobres lances.
(...)".
Luís Gonzaga Gomes. "Os Primitivos Bombeiros de Macau". Macau, Factos e Lendas. Instituto Cultural de Macau, 1994

1 comentário:

Anónimo disse...

Preciosa, a conservação destas relíquias!