"Cabeleireiro de Rua"
Fotografia de Kan Heng Fok. 1946
in Cinquenta Anos Num Olhar. 1958-2008. Associação Fotográfica de Macau.
"(...) O único luxo ou requinte de vaidade estava nos cabelos compridos, arrumados numa única trança que escorria até ao fim das costas, o penteado uniforme de todas as raparigas do povo, de classe operária. Era uma sedução contemplar essas tranças negras e luzidias, de madeixas enroladas em corda grossa, atadas quase no termo por um cordel vermelho.
Aparentemente simples, o penteado exigia muito cuidado e muito tormento, mas elas entregavam-se docemente àquele masoquismo. Os fios de cabelo eram repuxados e esticados para trás, a ponto de arder o couro cabeludo. Passava-se e repassava-se o pente duro, embebido de óleo de madeira, as mãos da penteadeira também untadas do mesmo óleo, para dar à cabeleira o lustro e a resistência necessários. Os pequenos fios que ficavam no alto da testa e que não obedeciam, espetando-se como finos arbustos agrestes, eram eliminados à linha, um processo de desbaste doloroso que não arrancava, porém, um gemido ou protesto da estóica rapariga que se submetia àquele trato de polé. (...)".
Henrique de Senna Fernandes. A Trança Feiticeira. Fundação Oriente, 1993
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