sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Caso do Tesouro do Templo de Á-Má (X)

X
Na Prefeitura

Sentado à secretária do seu gabinete da Prefeitura, o chinês Vong-Seng-Kuong, chefe da Polícia de Fu-Chau, escutava atentamente as informações que um agente lhe estava prestando.
- Pode crer que o homem que vi e que está hospedado na Hospedaria A-Chau é o chefe da Polícia de Macau, o seu amigo Lau-Sin. - Assim falou o agente.
- Não creio que Lau-Sin tivesse entrado nesta cidade disfarçado, e mais estranho que, estando cá, ainda não me tivesse procurado. - Para mais, que poderá trazê-lo a esta cidade a ponto de fazer com que evite a minha pessoa?
O agente continuou: - Disseram-me os criados da Hospedaria que qualquer coisa extraordinária se passou ontem à noite no seu quarto e que lhes pareceu que uma luta violenta se travou, mas de manhã, viram sair o hóspede, sem dar mostras de fadiga ou de preocupação. Houve até um criado que me disse que tem a impressão de que, há dias, o viu sair disfarçado de mendigo.
Vong-Seng-Kuong. depois de pensar uns momentos, exclamou: - Lau-Sin é capaz de tudo isso e de muito mais. É o polícia mais ousado e astuto que conheço.
- Que instruções deverei dar ao pessoal meu subordinado? - perguntou o agente com interesse.
- Nenhumas - respondeu Vong-Seng-Kuong. - De hoje em diante, enquanto Lau-Sin, ou o homem a que te referes e que julgas ser o chefe da Polícia de Macau, estiver em Fu-Chau, seguir-lhe-ás os passos e, da sua acção, me prestarás diariamente informações. Lembra-te, porém, de que, se o homem em questão é de facto o meu amigo Lau-Sin, deverás prestar-lhe, em momento de perigo, todo o auxílio de que ele careça.
O agente retirou-se e Vong-Seng-Kuong, passeando agitado na sala de um lado para o outro, raciocinava deste modo: - "Se Lau-Sin me não procura é porque tenciona actuar por si só, fora das vistas da polícia local. Não me consta, por enquanto, que em Macau se tivesse dado algum crime que pudesse fazer com que Lau-Sin viesse a Fu-Chau em perseguição do criminoso. Mas, mesmo que assim fosse, porque não recorre ele ao meu auxílio, que lhe poderia ser de tanta utilidade? Enfim! Pôr-me-ei também em acção e passarei a investigar, por mim próprio, o que justifica a sua presença nesta cidade".

Francisco de Carvalho e Rêgo. O Caso do Tesouro do Templo de A-Má. Macau, Imprensa Nacional, 1949

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