terça-feira, 30 de maio de 2006

Estória di Maria co Alféris Juám

«Intrementes, Maria têm na jardim Sám Francisco, sentado na bánco sabroso conversá co su chistoso Juám. Di sabroso qui ta isquecê ora di vai casa comê.
Juám sã unga alféris di Bataliám (vinte cinco áno na-más), arto, ôlo grandi, cabelo marêlo-ôro, co unga bigode grosso tamêm aloraça. Já vêm di Portugal, têm na Macau dôs áno fora, não sabe falá china, nunca intendê nôsso língu maquista. Sorte qui Maria já vai escola na Convento Santa Clara, já prendê torá portuguêz pa podê papiá co su quirubim di bigode grosso.
(...)
Maria já conhecê estunga Juám têm perto cinco mês, unga domingo na adro di Sé, quelora cavá missa-tropa. Na dentro di greza, Juám olá Maria, nom-pôde largar ôlo; Maria virá cara sã ta olá acunga dôs ôlo lustro ta contemplá êle, raganhado.Tudo dôs nom-pôde uví missa bêm-fêto».
José dos Santos Ferreira (Adé)
. «Estória di Maria co Alféris Juám», Macau di Tempo Antigo (Poesia e Prosa) - Dialecto Macaense -, Edição do Autor, Macau, 1985

Vocabulário:
acunga - esse, essa, aquele, aquela.
quelora - quando; no momento em que.
cavá - depois; em seguida (Cavá vem de «acabar»)
estunga - este ou esta
greza - igreja
lustro - que tem brilho; luzidio
Olá - ver, olhar. Olá bem-fêto! - vejam bem!
Ôlo - olho
quelora - quando; no momento em que.
raganhado - arreganhado
- do verbo ser.
- do verbo estar
torá portuguêz - à letra seria «torrar o português»; diz-se da pessoa que se esforça em falar correctamente o portugês, com pronúncia afectada.

Sem comentários: