Gravura Antiga di Macau
Nhonha recebe com chá
E sab'roso surang-surave
As amigas do bafá,
Chacha-chacha nos seus dós,
De jeito gentil e grave,
Que chegam de riquexós.
Nhonha veste um baju leve
Moldando os limões do peito,
A que a mão do nhom se atreve.
Não receia as pei-pá-chais:
No escurinho do leito,
Ambos são risos e ais.
Nonha deixa o arrebique
Com face de loiça fina.
Passo breve, tique-tique,
Vai à janela, abre as reixas.
E, entre a boa e a má sina,
Diz amores e escuta queixas.
Nhonha compõe a saraça,
Sentadinha na cadeira,
Toda atenta ao que se passa,
Alegre de malinguar
Pés na frecura da esteira
Que a bicha cansa a esfregar.
(Que saudade, esta Macau
Que eu adivinho feliz,
Morando ali ao Lilau,
Com respeito, dengue e ardor:
Jardim de mulher-raiz
Com chiste de mulher-flor.)
Glossário:
Arrebique - toucador
Bafá - antigo jogo de cartas chinesas de Macau
Baju - blusa de pano fino
Bicha - criada ou escrava
Chacha-Chacha - mulheres velhas
Dó - manto ou mantilha preta
Malinguar - fazer má-língua
Mulher-flor - prostituta
Nhom - filho de europeu e de filha da terra
Nhonha - senhora filha da terra
Pei-pá-chai - cantadeira profissional
Saraça - pano de seda estampada que servia de saia
Surang-surave - doce típico de Macau
António Manuel Couto Viana. Gravura Antiga di Macau
in RC - Revista de Cultura, Nº 25 (II Série), Outubro / Dezembro, 1995
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