sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Quadros de Macau: Fausto Sampaio e Jaime do Inso (1)

Entrada do Pagode da Barra. Macau, 1936

Porta da Lua no Pagode da Barra. Macau, 1936

Interior do Pagode da Barra. Macau, 1936

"(...) Sob o ponto de vista artístico, Macau não só é diferente das nossas colónias europeias, pela originalidade única do seu ambiente, como até das restantes colónias europeias na China, onde falta a pátina do tempo, o sugestivo da lenda e da tradição.
Está neste caso o famoso Pagode da Barra, ou Ma-Kok-Miu, aqui representado em três soberbas telas (...) que é como um símbolo, um brasão, um ex-líbris, de Macau.
Ao Pagode da Barra, interessantíssimo espécime de arquitectura chinesa, que se nos apresenta como um polo oposto de crenças e civilizações, em confronto com as majestosas ruínas de S. Paulo, o mais imponente monumento da fé cristã em todo o Oriente, ao Pagode da Barra está ligada a curiosa lenda da deusa A-Ma - uma das encarnações, chamemos-lhe assim, da deusa da Misericórdia, a criação mais humana e doce das crenças chinesas.
É curta a lenda e, por certo, muitos a conhecem. 
(...) 
 O Pagode da Barra foi construído, ao que parece, na época dos Mings - entre os séculos XIV e XVII - em sítio muito pitoresco, e é revestido, tanto interior como exteriormente, de magníficas ornamentações, pinturas representando cenas da vida chinesa e inscrições sínicas, embelezamentos para os quais contribuíram artistas célebres entre os quais se citam: Ho tam Sham, Kuan Lou Hin, Su Lok P'ang, etc.
Os telhados deste pagode, que serviu de inspiração e foi reproduzido na tela por vários artistas europeus, são duma magnificente beleza.
Dele disse o falecido Dr. Silva Mendes, que à China e a Macau dedicou entranhado culto: "É a residência ideal de todo aquele que aspire a viver com a Natureza, com a poesia, com os deuses...".
(...)
Assim se explica porque o Pagode da Barra, ou Ma-Kok-Miu, se encontra representado nesta exposição, em três quadros (...). Ali se observam as duas lorchas gravadas a cores, nas rochas que servem de alicerce, por assim dizer, a uma parte daquela construção, e que simbolizam a lendária interferência da deusa A-Ma na origem do santuário".

Excertos de uma conferência de Jaime do Inso, publicada em livro com o título Quadros de Macau, sobre a pintura de Fausto Sampaio dedicada a Macau. 
Texto retirado de Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo III. ICM, 1996

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