Porto Interior. Macau, 1936
"(...) desdobra-se um curiosíssimo aglomerado de casario, a parte central e mais comercial de Macau, junto do Porto Interior, ao fundo do qual se avista a ilha da Lapa e a imensidão da terra china.
Este retalho garrido da policromia tão característica das terras portuguesas constitui uma verdadeira nota de arte puramente nacional, jóia perdida naquele Oriente onde os grandes centros europeus e cosmopolitas oferecem um conjunto de tonalidades bem diferentes, banais e sombrias, onde falta a alegria das cores de Macau".
Rua 5 de Outubro. Macau, 1936
"A Rua 5 de Outubro é o coração do bairro china de Macau, onde ressalta, com extraordinário brilho, todo o pitoresco desconcertante da vida chinesa das ruas, alacre de cores, com as suas casas de tabuletas características que são um dos atractivos que nos enfeitiçam nos meandros do Bazar"
Rua no Bazar. Macau, 1936
"As varandas das janelas, com vasos de flores, que os chineses tanto apreciam, um jerinxá ao sol, tudo mergulhado num dia de esplêndida luz, constitui um singular documentário da vida chinesa onde há muito que observar e aprender.
O quadro da velha Rua do Bazar, como que nos transporta a um outro mundo, o mundo chinês de antanho - é um documentário precioso, pode dizer-se, uma relíquia de Macau".
Avenida Almeida Ribeiro à noite. Macau, 1937
"Finalmente, vamos parar ante um quadro (...) que representa um aspecto nocturno daquilo a que podemos chamar a Baixa de Macau, num canto de luz e de prazer.
É estupenda de interpretação e de verdade chinesa!
Só um artista da sensibilidade de Fausto Sampaio, que soube sorver, aspirar e dar-nos em notas de cor estes cambiantes do mistério da China, poderia apresentar-nos a realidade nocturna deste grande, do maior coulau de Macau.
A nossa necessidade e sensação de prazer da luz, comparadas com iguais fenómenos passados com os chineses, podem representar-se pelo confronto estabelecido entre a claridade duma vela acesa e duma luz de incandescência, e encontra-se bem patente nesta tela pela intensidade luminosa que se concentra naquele bocado de passeio - e só assim se satisfaz aquela verdadeira adoração que os chineses tributam à luz.
Das janelas dos andares emerge luz do interior, por toda a parte há muita luz - pois se até os telhados dos coulaus os chineses chegam a iluminar! - e deste delírio de luz com que eles - os epicuristas - sabem tingir o prazer evolam-se as notas arrastadas, doloridas, das cantigas das pi-pa-t'chai...
Noites da China, noites de Macau..."
Excertos de uma conferência de Jaime do Inso, publicada em livro com o título Quadros de Macau, sobre a pintura de Fausto Sampaio dedicada a Macau.
Texto retirado de Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo III. ICM, 1996
Sem comentários:
Enviar um comentário