quinta-feira, 27 de abril de 2006

Lin Fung Miu, o templo de Lótus

Templo de Lótus (Lin Fung Miu). Macau. Abril de 2006


Composto por três conjuntos de pavilhões, ligados entre si por pátios e corredores estreitos, o Lin Fung Miu ou templo de Lótus, situado junto à colina de Mong-Há, tem uma entrada constituída por um pátio espaçoso que dá, também, acesso ao Museu Lin Zexu. Este é um pequeníssimo museu, construído junto ao templo para comemorar a visita de Lin Zexu, comissário do imperador, a Macau, em 1839, a fim de negociar a proibição do comércio do ópio, e garantir a neutralidade de Portugal no conflito entre a China e a Grã Bretanha, na chamada «guerra do ópio».
O templo de Lótus possui vários átrios, sendo o principal dedicado a Tin Hau ou Deusa dos Céus; ainda no pavilhão central, mas num segundo átrio, encontra-se Kum Iam, a Deusa da Misericórdia. Nos átrios laterais existem vários altares dos deuses Kuan Tai, ou da guerra e das riquezas, I Leng, o deus da medicina, Seng Nong, o deus da agricultura, Kum Fa, a deusa das flores e das crianças, e mais outras tantas divindades. A construção do templo está ligada a uma lenda, que remonta ao tempo em que Mong Há era ainda uma pequena povoação de agricultores e de pescadores. Não passava de uma aldeia, na qual existia um tanque onde cresciam flores de lótus, e onde havia um poço, cuja água límpida era reputada pela sua excelente qualidade. Ora, aconteceu que, numa bela manhã, os aldeões foram encontrar o poço totalmente entulhado. Em desespero, julgam ser castigo dos deuses, e por tal razão nem os pescadores se fazem ao mar, pois como haviam sido castigados, nenhum peixe conseguiriam pescar. Sem água potável, também os horticultores ficavam sem possibilidade de regar as suas hortas. Desesperados e em pânico, resolvem ir falar com um homem chamado Tam Van, a quem os deuses haviam concedido poderes sobrenaturais (há, quase sempre, nestas histórias chinesas, alguém com tais poderes). Este homem, Tam Van, dedicava-se ao estudo da filosofia de Lao Tsé e à meditação, aspirando atingir o nirvana. Perante a situação dramática dos aldeões - que, por razões que não são explicadas, não foram capazes de desentulhar o poço -, Tam Van lá se decidiu a ajudá-los; e, por muitos dias, manteve-se recolhido, em profunda meditação. Por fim, numa noite, escura como o breu, são todos acordados por um enorme estrondo. Mais uma vez, os aldeões entraram em pânico - «mais uma desgraça caiu sobres as nossas cabeças», pensaram eles – e, receosos de demónios e monstros que lá fora, na noite escura, andassem a fazer tropelias, não se atreveram a sair das suas casas. Só sairam quando o sol nasceu. E então viram, que do poço desobstruído, a água voltara a ser límpida e cristalina. Correram, então, para dar a boa nova ao filósofo Tam Van, mas apenas encontram uma faixa vermelha do seu vestuário. Tam Van partira para o outro mundo ao realizar o milagre. A pequena aldeia tornou-se próspera e o pequeno santuário que nela existia foi reconstruído para dar lugar ao Templo de Lótus.
Voltando a este curioso templo: dizem que foi mosteiro de bonzos e que era aqui que se instalavam os mandarins chineses quando se deslocavam a Macau. E era aqui, também, que se reuniam com as autoridades portuguesas, tal como aconteceu quando da visita do comissário imperial para a proibição do comércio do ópio.

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