Templo de A-Ma (Ma Kok Miu). Macau, Janeiro de 2006
Janeiro de 2006: não vinha aqui há vários anos, desde 1999, e o sítio encontra-se bastante mudado. Fizeram-lhe um aterro, colocaram-lhe um lago - o Sai Van - e o templo de A Má, que antigamente tinha o mar aos pés, encontra-se agora bem recuado. O cais ainda lá está, mas com funções apenas decorativas. Recordo o cais, ainda com juncos ali ancorados, os velhos chineses, os marinheiros e os pescadores, por ali sentados, em conversa uns com os outros, ou apenas descansando...
Entrei no templo onde, em vésperas do ano novo, pintavam-lhe as fachadas. Há muito que não entrava num templo, e as imagens mais vivas que guardo de templos orientais são de templos japoneses, onde se evidência uma decoração simples e quase austera e, sobretudo, uma irrepreensível limpeza. Em Macau (e apesar da cidade estar muito mais limpa), o oposto. O chão sujo de papéis queimados, de flores murchas, de cinzas dos incensos queimados, e de uns potes de louça, cheios de água e onde boiam notas falsas, escorre a água, empapando tudo. E vêm-me à memória uma frase de Wenceslau de Moraes, do Dai-Nippon (1), escrita quando das suas primeiras viagens ao Japão, por volta de 1890: «É sair de uma caverna e entrar num jardim». O contraste é, na verdade, surpreendente, e embora não seja hoje, nem o «inferno amarelo» de Loti, nem a imundice referida por Moraes, é evidente que determinados predicados não se mudam facilmente.
Janeiro de 2006: não vinha aqui há vários anos, desde 1999, e o sítio encontra-se bastante mudado. Fizeram-lhe um aterro, colocaram-lhe um lago - o Sai Van - e o templo de A Má, que antigamente tinha o mar aos pés, encontra-se agora bem recuado. O cais ainda lá está, mas com funções apenas decorativas. Recordo o cais, ainda com juncos ali ancorados, os velhos chineses, os marinheiros e os pescadores, por ali sentados, em conversa uns com os outros, ou apenas descansando...
Entrei no templo onde, em vésperas do ano novo, pintavam-lhe as fachadas. Há muito que não entrava num templo, e as imagens mais vivas que guardo de templos orientais são de templos japoneses, onde se evidência uma decoração simples e quase austera e, sobretudo, uma irrepreensível limpeza. Em Macau (e apesar da cidade estar muito mais limpa), o oposto. O chão sujo de papéis queimados, de flores murchas, de cinzas dos incensos queimados, e de uns potes de louça, cheios de água e onde boiam notas falsas, escorre a água, empapando tudo. E vêm-me à memória uma frase de Wenceslau de Moraes, do Dai-Nippon (1), escrita quando das suas primeiras viagens ao Japão, por volta de 1890: «É sair de uma caverna e entrar num jardim». O contraste é, na verdade, surpreendente, e embora não seja hoje, nem o «inferno amarelo» de Loti, nem a imundice referida por Moraes, é evidente que determinados predicados não se mudam facilmente.
Leio, de João Aguiar, no Rio das Pérolas (2), uma variante da lenda de A-Má, a deusa aqui representada na figura de uma rapariga de «profissão inconfessável» chamada Jasmim, que diz: «De vez em quando, convém renovar os prodígios, se não as pessoas confundem-nos com as lendas».
Há várias versões da lenda de A-Má. Numa das versões - talvez a mais conhecida - uma jovem, conhecida pelo nome de Lin Ma-Tzu ou, ainda, por Ma-Chou, querendo deixar Fuquiem, esforçou-se por embarcar num dos juncos que estavam prontos para abalar. Em todos os juncos lhe era recusada a passagem, pois a jovem não tinha dinheiro para a pagar. Contudo, houve um velho marinheiro que se condoeu e se ofereceu para a transportar no seu velho junco. Durante a viagem, uma forte tempestade rebenta, ameaçando um naufrágio. De facto, todos os barcos se afundaram, excepto o velho junco, que, quando na eminência de também ele naufragar, a jovem Lin Ma-Tzu tomou conta do leme e o levou até a um porto seguro. Ao desembarcar, a jovem subiu a um rochedo e nunca mais foi vista. Os marinheiros convenceram-se, então, que se tratava da deusa Neang-Má. Agradecidos, mandaram construir o templo em sua honra, «o qual se chamou Mak-Kok-Miu (Templo do Promontório de Má), sendo Má abreviatura de Neang-Má» (3).
Neang Má (ou A-Má), também conhecida por Tin-Hau, a Rainha Celestial, deusa dos pescadores e mareantes, cujas origens remontam à dinastia Song, terá nascido entre os anos de 960 a 1127 da nossa era, na província de Fuquiem. Deificada pouco depois da sua morte, ainda jovem, passou a ser conhecida com Tin Hau, a Rainha Celestial.
Esclarece-nos o P. Manuel Teixeira, que todas as ruas, calçadas e travessas situadas na colina da Barra são designadas, em chinês, «por Ma Kok (Promontório de Má), devido ao pagode chinês, que ali existe, consagrado a Neang-Ma (nome abreviado em Amá e Má). Daqui derivou o nome de Macau (Amá ou Ma = deusa; Kau, Ngau = ancoradoiro, baía), isto é Baía de Amá: Amagau, Amacao, Macao e modernamente Macau. Note-se que ou de A-ma-ou é pronunciado em mandarin Ngau. O nome chinês mais comum é Ou Mun (Porta da Baía)» (4).
Há várias versões da lenda de A-Má. Numa das versões - talvez a mais conhecida - uma jovem, conhecida pelo nome de Lin Ma-Tzu ou, ainda, por Ma-Chou, querendo deixar Fuquiem, esforçou-se por embarcar num dos juncos que estavam prontos para abalar. Em todos os juncos lhe era recusada a passagem, pois a jovem não tinha dinheiro para a pagar. Contudo, houve um velho marinheiro que se condoeu e se ofereceu para a transportar no seu velho junco. Durante a viagem, uma forte tempestade rebenta, ameaçando um naufrágio. De facto, todos os barcos se afundaram, excepto o velho junco, que, quando na eminência de também ele naufragar, a jovem Lin Ma-Tzu tomou conta do leme e o levou até a um porto seguro. Ao desembarcar, a jovem subiu a um rochedo e nunca mais foi vista. Os marinheiros convenceram-se, então, que se tratava da deusa Neang-Má. Agradecidos, mandaram construir o templo em sua honra, «o qual se chamou Mak-Kok-Miu (Templo do Promontório de Má), sendo Má abreviatura de Neang-Má» (3).
Neang Má (ou A-Má), também conhecida por Tin-Hau, a Rainha Celestial, deusa dos pescadores e mareantes, cujas origens remontam à dinastia Song, terá nascido entre os anos de 960 a 1127 da nossa era, na província de Fuquiem. Deificada pouco depois da sua morte, ainda jovem, passou a ser conhecida com Tin Hau, a Rainha Celestial.
Esclarece-nos o P. Manuel Teixeira, que todas as ruas, calçadas e travessas situadas na colina da Barra são designadas, em chinês, «por Ma Kok (Promontório de Má), devido ao pagode chinês, que ali existe, consagrado a Neang-Ma (nome abreviado em Amá e Má). Daqui derivou o nome de Macau (Amá ou Ma = deusa; Kau, Ngau = ancoradoiro, baía), isto é Baía de Amá: Amagau, Amacao, Macao e modernamente Macau. Note-se que ou de A-ma-ou é pronunciado em mandarin Ngau. O nome chinês mais comum é Ou Mun (Porta da Baía)» (4).
(1) Wenceslau de Moraes. Dai-Nippon. Porto. Livraria Civilização Editora. 1983
(2) João Aguiar. Rio das Pérolas. Macau, Livros Oriente. 2000
(3) e (4) P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau. vol 1. Instituto Cultural de Macau. 1997
(2) João Aguiar. Rio das Pérolas. Macau, Livros Oriente. 2000
(3) e (4) P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau. vol 1. Instituto Cultural de Macau. 1997
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