terça-feira, 2 de março de 2010

Pitoresca mistura de edifícios chineses e casarões portugueses

Fotografia publicada na Illustração Portugueza de 14 de Dezembo de 1908

«(...) vamos conhecendo a cidade, pitoresca mistura de edifícios chineses e casarões portugueses do século XVII. Uma frontaria de pedra é a única coisa que resta da antiga catedral de S. Paulo e do convento anexo, fundado pelos jesuítas para repouso e preparação dos seus missionários, antes de partirem para o interior da China. Este templo ardeu em 1835, mas a sua enorme fachada mantém-se de pé, com a pedra avermelhada mais pelo sol que pelas chamas, e, através das suas janelas rasgadas, vê-se o muro azul do céu, que parece servir-lhe de amparo.
O castelo [fortaleza do Monte] conserva vestígios do ataque dos holandeses no século XVII. Vemos na capela uma lousa sem nomes, que cobre os restos dos defensores de Macau. Como o doutor Rodrigues [Governador Rodrigo Rodrigues, 1923-25] diz, o culto pelo soldado desconhecido criado pela última guerra inventaram-no os defensores de Macau há mais de duzentos anos.
(...)
Na nossa frente, pela parte do istmo, ergue-se uma cordilheira que ocupa grande parte do horizonte, as montanhas do Cataio. Rodrigues e eu lembramo-nos de Marco Paulo. O nome de Cataio foi aplicado pelo célebre viajante a toda a China, e, durante séculos, o mundo cristão deu o nome de umas montanhas do sul a todo o vasto Império governado pelo Gran Can.
A nossos pés estende a cidade a massa apertada dos seus telhados, escuros como os da Europa. De espaços a espaços sobressaem entre eles telhados chineses e remates de pagodes budistas. Muitas frontarias estão pintadas de rosa ou azul, cores suaves que dão alegre aspecto de novas às construções vetustas. (...)»
Vicente Blasco Ibáñez. A Volta ao Mundo. Volume II. Livraria Peninsular Editora, 2ª edição Lisboa, 1944

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