Voltamos à Rua do Campo, a uma outra mansão, há muito demolida, que aí existia e que, diziam, estava assombrada. A história conta-a Luís Gonzaga Gomes nas Lendas Chinesas de Macau (Edição Notícias de Macau, 1951). Diz-nos «(...) que nessa rua existia um enorme casarão com um grande jardim, sendo seu dono um abastado chinês, mas depois da época de kuâi-tchân-ôk (os demónios abalam as casas), isto é, em que Macau foi visitada por uma assustadora série de abalos sísmicos, porém, sem graves consequências, nunca mais ninguém ousou lá habitar, vindo o jardim desta vasta propriedade a ser aproveitado para se fazer o Jardim de S. Francisco, que ficou separado do edifício por uma rua lateral.
A entrada principal do enorme casarão ficava em frente do Hospital S. Rafael e o seu proprietário, que enriquecera com o negócio do sal, quando o mandou construir, julgava poder manter unida a sua família através de seis gerações. Infelizmente, à quarta geração, os seus descendentes foram obrigados a dispersar-se e a abandonar aquele casarão sem poderem satisfazer os desejos do seu ilustre ascendente.
O casarão possuía ao todo cinco entradas e trinta e um quartos e ninguém ousava habitá-lo por se ter verificado que nele viviam vinte e oito almas penadas».
Vinte e oito almas penadas e ninguém ousava lá morar. Apesar dos feitiços e amuletos para afastar os espíritos, o seu número foi aumentando com o passar do tempo. Vieram exorcistas e bonzos, celebraram-se esconjuros, mas tudo foi em vão. A casa continuava assombrada. Veio um sacerdote tauísta, que recorrendo a outro tipo de exorcismo, socorreu-se do cadáver ressequido de um pirata com o objectivo de assustar os maléficos entes. Mas, nem o pirata ressequido, nem espadas e chibatas ensanguentadas moveram dali os fantasmas. Nada os assustava. Por fim, um dia, um grupo de auteiros - e Gonzaga Gomes esclarece que «auteiro» era o «nome por que eram designados em Macau os actores de autos, isto é, de representações teatrais chinesas» -, ofereceu-se para expurgar o casarão. Instalados no casarão, os actores, depois de montado o cenário e de devidamente disfarçados de diversas entidades divinas, esperaram pela meia-noite, hora a que as almas penadas começaram a aparecer. Ao depararem com a presença das divindades, e entre elas a de Kuan-Tai, Deus da Guerra, os fantasmas submeteram-se aos deuses e acabaram por fugir espavoridos com os berros do deus da guerra. Os actores, contudo, que nada tinham de divino, tremiam que nem varas verdes.
A explicação para a presença dos espíritos maléficos é dada por um prior budista que, «explicou que aquilo era obra das vítimas do antepassado dos donos do casarão, uma mágico tauísta, que se enriquecera por meio da sua oculta arte, roubando a riqueza, a longevidade, a essência espiritual e a boa sorte dos seus semelhantes. Portanto, aquele edifício só poderia voltar a ser habitado por entes humanos no dia em que fosse completamente extinta a sua estirpe, visto que só assim é que as almas penadas deixariam de voltar a este mundo, por já não haver ninguém a quem pedir reparação das maldades do mago tauísta de quem em vida foram vítimas».
Desabitado por muito tempo, o casarão acabaria por ser demolido e no seu lugar construídos novos edifícios e novos arruamentos.
O casarão possuía ao todo cinco entradas e trinta e um quartos e ninguém ousava habitá-lo por se ter verificado que nele viviam vinte e oito almas penadas».
Vinte e oito almas penadas e ninguém ousava lá morar. Apesar dos feitiços e amuletos para afastar os espíritos, o seu número foi aumentando com o passar do tempo. Vieram exorcistas e bonzos, celebraram-se esconjuros, mas tudo foi em vão. A casa continuava assombrada. Veio um sacerdote tauísta, que recorrendo a outro tipo de exorcismo, socorreu-se do cadáver ressequido de um pirata com o objectivo de assustar os maléficos entes. Mas, nem o pirata ressequido, nem espadas e chibatas ensanguentadas moveram dali os fantasmas. Nada os assustava. Por fim, um dia, um grupo de auteiros - e Gonzaga Gomes esclarece que «auteiro» era o «nome por que eram designados em Macau os actores de autos, isto é, de representações teatrais chinesas» -, ofereceu-se para expurgar o casarão. Instalados no casarão, os actores, depois de montado o cenário e de devidamente disfarçados de diversas entidades divinas, esperaram pela meia-noite, hora a que as almas penadas começaram a aparecer. Ao depararem com a presença das divindades, e entre elas a de Kuan-Tai, Deus da Guerra, os fantasmas submeteram-se aos deuses e acabaram por fugir espavoridos com os berros do deus da guerra. Os actores, contudo, que nada tinham de divino, tremiam que nem varas verdes.
A explicação para a presença dos espíritos maléficos é dada por um prior budista que, «explicou que aquilo era obra das vítimas do antepassado dos donos do casarão, uma mágico tauísta, que se enriquecera por meio da sua oculta arte, roubando a riqueza, a longevidade, a essência espiritual e a boa sorte dos seus semelhantes. Portanto, aquele edifício só poderia voltar a ser habitado por entes humanos no dia em que fosse completamente extinta a sua estirpe, visto que só assim é que as almas penadas deixariam de voltar a este mundo, por já não haver ninguém a quem pedir reparação das maldades do mago tauísta de quem em vida foram vítimas».
Desabitado por muito tempo, o casarão acabaria por ser demolido e no seu lugar construídos novos edifícios e novos arruamentos.
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