COM (TEMPLO) DAQUI
Templo-incenso de onde nascem todos os perfumes
Pai e mãe nesta terra esquisita de cheiros
e jogos perfumados às vezes com sorte
O vermelho-constante
A vida O sangue A alegria
que aqui é fartura em profusão de cores
Dourado em tudo
(Pobres dos jesuítas...
que não puderam fazer com o mesmo brilho
o seu espectáculo em ouro de brasis)
que não puderam fazer com o mesmo brilho
o seu espectáculo em ouro de brasis)
O escuro do fumo
que tudo envolve
entre pivetes Velas Papéis que ardem
levando em falsos dinheiros
o sossego para o outro mundo
sem crises cambiais
ou de qualquer bolsa
que transformam vivos
em almas penadas
Gentes
Gentios circulando em magotes
atropelando-se em vénias
perante budas inertes
no estático sorriso
da eterna felicidade
Salamaleques chins apivetados
joelhos curvados em paus de sortes
rodopiando da tartaruga futurista
para o chão sujo de sorte e azar
A recordação dos que se foram
em photomaton
A grande muralha em troféus-amor
de papel-saudade
E o fumo subindo no ar
pesado
transporta os pagamentos
de dívidas
lembranças
desejos
Mas afinal tudo é simples
e como noutros mundos
os conflitos resolvem-se
na gestão dos banquetes
O leitão brilha
escorrendo ouro em mel
entre os pivetes que o transportam
nos fumos para o além
E estes budas, meus senhores,
têm digestões eternas
Fernando Sales Lopes. Pescador de Margem. Livros do Oriente, 1997
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