segunda-feira, 28 de junho de 2010

Estátua


Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, - frio escalpello, -
O meu olhar quebrei, a debatel-o,
Como a onda na crista d'um rochedo.

Segredo d'essa alma, e meu degredo
E minha obsessão! Para bebel-o
Fui teu labio oscular, n'um pesadelo
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu osculo ardente, hallucinado,
Esfriou sobre o marmore correcto
D'esse entreaberto labio gelado...

D'esse labio de marmore, discreto,
Severo como um tumulo fechado,
Sereno como um pelago quieto.

Camilo Pessanha, Clepsydra. Relógio d' Água, 1995

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