quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Ilha Verde, local de veraneio

"Existe a noroeste de Macau um sítio assás pitoresco que, há uns anos atrás, era tão demandado, no rigor do Verão, pelas famílias residentes desta cidade como as chácaras (termo de origem brasileira que significa quintas ou habitações campestres próximas da cidade) de Maria Filipa (Tanque do Mainato), das Madres (Areia Preta) e do Leitão (sopé da Guia).
Este local de veraneio era a Ilha Verde, cuja posse se conserva nas nossas mãos, devido aos jesuítas que a ocuparam lá para o ano de 1605, sendo hoje propriedade do Seminário de S. José que a tem em parte arrendada ao Governo da Colónia.
A Ilha Verde fora, primitivamente, escolhida pelos jesuítas para lhes servir bem como aos estudantes do seu Colégio de S. Paulo, de estância de repouso e de recreio, durante a estação calmosa, tendo esta ilha sido, em diversas épocas, causa de vários distúrbios políticos, alguns de certa gravidade, e de complicadas questões judiciais, que são do conhecimento de todos aqueles que andam familiarizados com a acidentada história desta Colónia.
(...)
Abandonando a cidade, aos domingos e nos dias feriados, repartiam-se as famílias macaenses, por tácito acordo, pelas diversas chácaras, cuja permissão para as frequentar, era previamente obtida junto dos seus donos, sendo com grande aprazimento que os seus membros se deleitavam com o ar livre e com a brisa vinda do mar, abando-se uns à mesa do bafá ou do manilha, em partidas acerrimamente disputadas, enquanto que outros procuravam matar o tédio, distraindo-se com a pesca ou com qualquer outro divertimento.
(...)
Ora, para os chineses, a Ilha Verde faz parte do sistema orográfico das elevações montanhosa que enrugam toda esta região meridional do Distrito de Tchông-Sán, nosso vizinho, sendo o prolongamento natural da Colina de Mong-Há com a qual estava ligada por um "dorso rochoso", que se encontrava coberto pela água, nas ocasiões da preamar, "dorso" este que foi aterrado, constituindo hoje o istmo que liga esse virente ilhéu à Colónia."
Luís Gonzaga Gomes. "A Pedra de Afinidade Conjugal". Lendas Chinesas de Macau. Notícias de Macau, 1951.

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