sexta-feira, 11 de junho de 2010

Rua do Bocage

Rua do Bocage. Macau, 2010

A Rua do Bocage começa na Praça de Ponte e Horta e termina na Travessa das Virtudes.
Manuel Maria Barbosa do Bocage (Setúbal, 1765 - Lisboa, 1805) esteve na Índia na qualidade de oficial do exército, "donde desertou em virtude de uma desavença de amores que tornava seu rival o governador-geral"*. Por volta de 1789, desembarcou em Macau, depois de uma viagem atribulada - "Por bárbaros sertões gemi vagamente / Até que aos mares da longínqua China / Fui por bravos tufões arrebatado" -, onde é acolhido por Joaquim Pereira de Almeida, negociante rico de Macau, que o relaciona com as principais famílias e com o governador interino.
Em Macau, compôs várias poemas, entre os quais uma elegia à morte do pai de Joaquim Pereira de Almeida, a quem chama "benfeitor e caro amigo", e uma epístola ao governador interino, desembargador Lázaro da Silva Ferreira.

Soneto

Um governo sem mando, um bispo tal,
de freiras virtuosas um covil,
três conventos de frades, cinco mil,
Nh's e chins cristãos, que obram mal;

Uma Sé que hoje existe tal e qual,
catorze prebendados sem ceitil,
muita pobreza, muita mulher vil,
cem portugueses, tudo em um curral;

seis fortes, cem soldados, um tambor,
três freguesias cujo ornato é pau,
um vigário-geral sem promotor,

dois colégios, um deles muito mau,
Um Senado que a tudo é superior,
é quanto Portugal tem em Macau.

Fontes:
* Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China - Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas, Tomo1. Instituto Cultural de Macau, 1988
P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, vol. II, Instituto Cultural de Macau, 1997
Eis Bocage... - Sítio da Biblioteca Nacional associado à exposição bibliográfica realizada no âmbito do bicentenário da morte do poeta.

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