quarta-feira, 14 de julho de 2010

Entrámos no chamado "bazar chinês"


Legenda: Macao. China Town.
Edição: Union Postale Universelle. Data: ca. 1890
A Rua da Felicidade

"16 de Setembro de 1883
(...)
Seguimos, depois, por umas ruas bordadas de lojas de objectos velhos e entrámos no chamado "bazar chinês", bairro em parte modernamente construído, já com certa regularidade e asseio, e onde há um movimento e animação extraordinários. São ali as lojas dos objectos de proveniência da China, desde os bens sortidos armazéns e estâncias de fruta e de comestíveis até os panos, seda e ourivesaria. As ruas são limpas e alinhadas, mas estreitas. As casas, todas da mesma construção e feitio, com as lojas decoradas com grandes tabuletas douradas, onde se lêem sentenças e máximas chinas, e ornamentadas com flores e lanternas. O bulício e o burburinho são grandes e enorme a concorrência de homens e mulheres chinesas, vendo-se entre estas algumas de pés microscópios, andando dificilmente e abordoadas a um guarda-sol, conservando um difícil equilíbrio sobre aqueles pequenos pés calçados com sapatinhos de bonecas.
Havia por ali numerosas casa de jogo do fantan, que se distinguiam pela sua pintura verde e por grandes lanternas, tendo à entrada nichos e altares onde ardiam pivetes e velas, alumiando feios ídolos pintados com cores muito vivas em posições arrogantes e com dragões e feras impossíveis. As casas da lotaria de vae-seng, do pacapio e de outros jogos eram também muito frequentadas e distinguiam-se igualmente pelas grandes lanternas, tabuletas, flores e pinturas em quadros muito alongados e estreitos. É que o jogo de azar é o vício dominante do chinês e que da exploração desse vício tirámos nós o principal rendimento da colónia, arrematando o exclusivo de tais jogos. É este o caso do fim não justificar os meios..."
Adolfo Loureiro. No Oriente, de Nápoles à China. in Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo II. ICM, 1998


Adolfo Loureiro (1836-1911), engenheiro e militar de carreira, foi vice-presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa e autor de vários estudos sobre portos de Portugal, ilhas atlânticas e Macau. No Oriente, de Nápoles à China: diário de viagem (2 volumes, publicados pela Imprensa Nacional, 1896-1897) é um relato da viagem do autor ao Oriente - Singapura, Hong-Kong, Macau, Cantão e Batávia -, em 1883.

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