quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Rua do Almirante Sérgio

Rua do Almirante Sérgio, 1950
Fotografia de Lei Iok Tin

Nevoeiro nocturno na Rua do Almirante Sérgio. 1965
Fotografia de Sit Lek Kan.
in Cinquenta Anos Num Olhar. 1958-2008. Associação Fotográfica de Macau.

"(...)
Aquele que chega a Macau unicamente para ver e divertir-se por grande que seja o barco que de longe o tenha transportado e lançado que seja o ferro com segurança aos lodos do seu porto precisa ao desembarque, para que a sua impressão não seja imediatamente má, encontrar boas estradasque comodamente o levem a visitar os pontos que a propaganda lhe indicou como sendo os mais interessantes da cidade.
(...)
Torna-se pois urgente "na nossa maneira de ver" alargar convenientemente as Ruas de Santo António, S. Domingos e Central rasgar a nova avenida da Flora, alargar a Avenida Marginal pelo menos desde o Pagode da Barra até à Praça  Ponte e Horta devendo ser as suas faixas de rodagem  pavimentadas a concrite ou a asfalto por serem estes os tipos de boa pavimentação que mais economicamente podem ser executados em Macau (...)"

"Embelezamento de Macau". in Anuário de Macau - Ano de 1927. (Edição facsimilada, 2000)

A Rua do Almirante Sérgio começa na Rua das Lorchas, junto à Praça de Ponte e Horta, e termina no Largo do Pagode da Barra. O Almirante António Sérgio de Sousa foi governador de Macau de 1868 a 1872, "notabilizando-se pelas medidas tomadas para a protecção dos cules contratados para a América e da população da província"*. 
O nome do Almirante Sérgio foi atribuído, em 1869, à rua então recentemente construída à beira rio*.

*P. Manuel Teixeira. Toponímia de Macau, volomes I e II, Instituto Cultural de Macau, 1997

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Macau, 1989

Biblioteca Chinesa. Ao fundo o edifício (já demolido) do Colégio de S. José. 

Reservatório
Vista parcial do Hotel Lisboa - "sempre em obras".

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

As casuarinas de Hac Sá

Passeio junto ao Parque de Hac Sá, na Primavera deste ano: as casuarinas já lá não se encontram. Vieram, agora, não com tesouras, mas com serras e cortaram-lhes os ramos. Depois os troncos. Por fim, arrancaram-lhes as raízes...


A Árvore
Chegaste
com a tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
umas folhas aqui e ali
uns ramos
que não doeram...
Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.
Yvette Centeno. A Oriente. Editorial Presença. Colecção Forma, 1998

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Mercado Vermelho e Avenida do Almirante Lacerda

Mercado Vermelho, Década de 70. Fotografia de Ou Ping
Catálogo da exposição Uma Viagem no Tempo - Fotografias de Macau por Ou Ping, 2005


Traçada em 1930, a Avenida do Almirante Lacerda começa na Rua da Ribeira do Patane e termina entre a Estrada do Arco e a Avenida do Conselheiro Borja, junto ao Lin Fung Miu, o Templo de Lótus
Hugo Carvalho de Lacerda Castelo Branco (1860-1944) foi Governador interino de Macau poucos anos antes da construção da avenida, entre a retirada do Governador Maia Magalhães e a tomada de posse de Tamagnini Barbosa, em 1926. 
Foi durante o governo  do Almirante Lacerda que se realizou em Macau a primeira  Exposição Industrial e Feira, em 1926.

Construído em 1936, o Mercado Almirante Lacerda ou Mercado Vermelho - assim designado por ter sido construído com tijolos vermelhos - possui uma forma simétrica, com duas torres laterais e uma com relógio ao centro. Faz parte da lista do Património Cultural de Macau, como edifício de interesse arquitectónico.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Autocarro de dois pisos da carreira do 21A

Autocarro de dois pisos da carreira do 21A com destino à praia da Areia Preta, em Coloane. 
Anos 70 do século XX. Fotografia de Lei Chiu Vang
Colecção "Memória Colectiva dos Residentes de Macau - Imagens Antigas de Macau".


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quadros de Macau: Fausto Sampaio e Jaime do Inso (3)

Porto Interior. Macau, 1936

"(...) desdobra-se um curiosíssimo aglomerado de casario, a parte central e mais comercial de Macau, junto do Porto Interior, ao fundo do qual se avista a ilha da Lapa e a imensidão da terra china.
Este retalho garrido da policromia tão característica das terras portuguesas constitui uma verdadeira nota de arte puramente nacional, jóia perdida naquele Oriente onde os grandes centros europeus e cosmopolitas oferecem um conjunto de tonalidades bem diferentes, banais e sombrias, onde falta a alegria das cores de Macau".
Rua 5 de Outubro. Macau, 1936

"A Rua 5 de Outubro é o coração  do bairro china de Macau, onde ressalta, com extraordinário brilho, todo o pitoresco desconcertante da vida chinesa das ruas, alacre de cores, com as suas casas de tabuletas características que são um dos atractivos que nos enfeitiçam nos meandros do Bazar" 
Rua no Bazar. Macau, 1936

"As varandas das janelas, com vasos de flores, que os chineses tanto apreciam, um jerinxá ao sol, tudo mergulhado num dia de esplêndida luz, constitui um singular documentário da vida chinesa onde há muito que observar e aprender.
O quadro da velha Rua do Bazar, como que nos transporta a um outro mundo, o mundo chinês de antanho - é um documentário precioso, pode dizer-se, uma relíquia de Macau". 
 
Avenida Almeida Ribeiro à noite. Macau, 1937

"Finalmente, vamos parar ante um quadro (...) que representa um aspecto nocturno daquilo a que podemos chamar a Baixa de Macau, num canto de luz e de prazer.
É estupenda de interpretação e de verdade chinesa!
Só um artista da sensibilidade de Fausto Sampaio, que soube sorver, aspirar e dar-nos em notas de cor estes cambiantes do mistério da China, poderia apresentar-nos a realidade nocturna deste grande, do maior coulau de Macau.
A nossa necessidade e sensação de prazer da luz, comparadas com iguais fenómenos passados com os chineses, podem representar-se pelo confronto estabelecido entre a claridade duma vela acesa e duma luz de incandescência, e encontra-se bem patente nesta tela pela intensidade luminosa que se concentra naquele bocado de passeio - e só assim se satisfaz aquela verdadeira adoração que os chineses tributam à luz.
Das janelas dos andares emerge luz do interior, por toda a parte há muita luz - pois se até os telhados dos coulaus os chineses chegam a iluminar! - e deste delírio de luz com que eles - os epicuristas - sabem tingir o prazer evolam-se as notas arrastadas, doloridas, das cantigas das pi-pa-t'chai...
Noites da China, noites de Macau..."

Excertos de uma conferência de Jaime do Inso, publicada em livro com o título Quadros de Macau, sobre a pintura de Fausto Sampaio dedicada a Macau. 
Texto retirado de Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo III. ICM, 1996

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Quadros de Macau: Fausto Sampaio e Jaime do Inso (2)

Cais do Porto com chuva. Macau, 1936

"(...) Cais do porto com chuva, onde se vê um interessante tipo de barco fluvial chinês - um flower boat, ou barco de flores - uma novidade que não existia há dez anos no Porto de Macau mas tradicional no Porto de Cantão, onde se encontravam, às dezenas, formando um verdadeiro bairro aquático de prazer, cujo acesso aos europeus nem sempre era livre de escolhos. 
Dentro daqueles barcos  era um cenário de fantasia, daquela fantasia que a gente aqui sonha que seja tudo na China e que tanta desilusão nos acarreta quando lá chegamos; uma fantasia mergulhada num mar de luz - da luz tão querida dos chineses - em sedas brilhantes, em cores garridas, em decorações vermelhas e doiradas, lanternas, música e pi-pa-t'chai galantes que servem aos chineses para dissipar as agruras da vida (...) "


Lorchas e Tancares. Macau, 1937

" (...) São uns barcos típicos (as lorchas), estranhos, que à primeira vista parecem andar para trás, de excelentes qualidades náuticas, onde os mestres chinas realizam prodígios de manobra, e que imprimem uma nota muito típica e de extraordinário interesse artístico à paisagem marítima de Macau.
As lorchas constituem uma indelével nota nostálgica da China, principalmente para quem lá passou a vida no mar."


Excertos de uma conferência de Jaime do Inso, publicada em livro com o título Quadros de Macau, sobre a pintura de Fausto Sampaio dedicada a Macau. 
Texto retirado de Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo III. ICM, 1996

Quadros de Macau: Fausto Sampaio e Jaime do Inso (1)

Entrada do Pagode da Barra. Macau, 1936

Porta da Lua no Pagode da Barra. Macau, 1936

Interior do Pagode da Barra. Macau, 1936

"(...) Sob o ponto de vista artístico, Macau não só é diferente das nossas colónias europeias, pela originalidade única do seu ambiente, como até das restantes colónias europeias na China, onde falta a pátina do tempo, o sugestivo da lenda e da tradição.
Está neste caso o famoso Pagode da Barra, ou Ma-Kok-Miu, aqui representado em três soberbas telas (...) que é como um símbolo, um brasão, um ex-líbris, de Macau.
Ao Pagode da Barra, interessantíssimo espécime de arquitectura chinesa, que se nos apresenta como um polo oposto de crenças e civilizações, em confronto com as majestosas ruínas de S. Paulo, o mais imponente monumento da fé cristã em todo o Oriente, ao Pagode da Barra está ligada a curiosa lenda da deusa A-Ma - uma das encarnações, chamemos-lhe assim, da deusa da Misericórdia, a criação mais humana e doce das crenças chinesas.
É curta a lenda e, por certo, muitos a conhecem. 
(...) 
 O Pagode da Barra foi construído, ao que parece, na época dos Mings - entre os séculos XIV e XVII - em sítio muito pitoresco, e é revestido, tanto interior como exteriormente, de magníficas ornamentações, pinturas representando cenas da vida chinesa e inscrições sínicas, embelezamentos para os quais contribuíram artistas célebres entre os quais se citam: Ho tam Sham, Kuan Lou Hin, Su Lok P'ang, etc.
Os telhados deste pagode, que serviu de inspiração e foi reproduzido na tela por vários artistas europeus, são duma magnificente beleza.
Dele disse o falecido Dr. Silva Mendes, que à China e a Macau dedicou entranhado culto: "É a residência ideal de todo aquele que aspire a viver com a Natureza, com a poesia, com os deuses...".
(...)
Assim se explica porque o Pagode da Barra, ou Ma-Kok-Miu, se encontra representado nesta exposição, em três quadros (...). Ali se observam as duas lorchas gravadas a cores, nas rochas que servem de alicerce, por assim dizer, a uma parte daquela construção, e que simbolizam a lendária interferência da deusa A-Ma na origem do santuário".

Excertos de uma conferência de Jaime do Inso, publicada em livro com o título Quadros de Macau, sobre a pintura de Fausto Sampaio dedicada a Macau. 
Texto retirado de Carlos Pinto Santos e Orlando Neves. De Longe à China. Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas. Tomo III. ICM, 1996

Fausto Sampaio

Catálogo da Exposição de Pintura de Fausto Sampaio na Sociedade de Belas Artes, em Lisboa, 1939


Catálogo da Exposição Fausto Sampaio (1893-1956): Viagens no Oriente
Lisboa, Fundação Oriente, 2009


"(...) As suas impressões oscilavam entre as grandes panorâmicas da cidade e o enfoque de estreitas ruas ou monumentos importantes, entre o longínquo e o próximo, entre uma espacialidade bem determinada e a proximidade de um plano que captava o instantâneo de um momento, assinando estes seus trabalhos com um pincel chinês e "tornando memória viva o desconhecido, normalmente envolto em particularidades estranhas e diferenciadas emoções, numa visão variada do Oriente. Grandes panorâmicas da cidade e aspectos do porto de Macau, numa dimensão bem proporcionada, envoltas por uma atmosfera rarefeita e uma particular  sensibilidade de suaves tonalidades azuladas, tal como na Vista da Praia Grande, imagens muito próximas de clichés fotográficos pela visão alargada da paisagem, mas diferenciada da fotografia pelos matizes cromáticos e efeitos de luz, de outro modo estudados em Manhã nevoenta, de impressões subjectivadas em brumas, quase monocromáticas.
Em Macau produz intensamente e regista uma "odisseia citadina" no ritmo movimentado das "ruas, becos e escadinhas em que inúmeros estabelecimentos ostentavam tabuletas com complicados  caracteres chineses, as casas de chá, as centenas de tendas, nas ruas, onde se preparavam deliciosas iguarias de cozinha tradicional, os curandeiros e as típicas farmácias, os leitores de sina, os escribas, peritos em transcrever em belos caracteres as missivas dos clientes, as casas de Fan-tan, os fumatórios de ópio, a gente do mar, que nascia, vivia e morria nos airosos juncos (...)".
"O Beco das Galinhas, a Rua 5 de Outubro, a Rua do Bazar, a Avenida de Almeida Ribeiro à noite e as imagens do Pagode da Barra revelam a preocupação pelos valores da luz e da cor, de tal modo que, mais importante que a representação, importa ao artista exprimir-se através da pincelada e das manchas de cor, afastando-se da hábil exactidão que já explorara, especialmente no retrato de encomenda e na representação de uma ideia colonial. Uma luz brilhante, explosões de cor e uma espécie de impressionismo e uma marcação expressionista, por vezes com fortes pinceladas curvilíneas e gestuais, provavelmente influenciadas pela observação de obras chinesas, como nos labirínticos traços negros da ramagem das árvores do pagode da Barra."

Sala de Jogo de Fan Tan. Macau, 1937 

" (...) Aspectos diferenciados, entre Tancareiras, retratos anónimos de figuras serenas de bairros de pescadores, pormenorizadamente descritas, Lorchas e Tancares, Cais do Porto com chuva, onde se avista o "bairro aquático de prazer (...) fantasia mergulhada num mar de luz", também uma movimentada cena no porto, de ilustrativos quotidianos, e ainda uma sala de jogo expõem a  diversidade dos aspectos tratados em Macau. Neste Fan Tan, algumas figuras, calvas e de uma inexpressividade própria de jogadores, em fantasmagóricos jogos de luz, representam um poderoso e dinâmico mundo, observado numa visão crítica." 
Excertos do texto de Maria Aires Silveira para o catálogo da exposição "Fausto Sampaio (1893-1956). Viagens no Oriente". Fundação Oriente, Lisboa, Maio de 2009

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Rua da Palmeira


A Rua da Palmeira engalanada durante as festas em honra de Tou Tei, em Março de 2011


Artéria estreita e comprida, a Rua da Palmeira começa junto da Travessa da Saudade e da Calçada das Sortes e termina no ainda denominado Largo do Pagode do Patane, em frente ao Tou Tei Miu ou templo dos Deuses Locais. O largo, há muito desaparecido, mantém-se contudo na toponímia da cidade no nome da artéria que liga a Rua da Pedra e a da Palmeira à Rua da Ribeira do Patane. 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Thomas Allom




Thomas Allom (1804-1872): (1) "The Pria Grande, Macao", (2) "Facade of the Great Temple at Macao", (3)"Chapel in the Great Temple, Macao", (4) "Macao, from the Forts of Heang-Shan". 


"Nascido em Londres, Thomas Allom foi arquitecto, ilustrador das empresas Virtue & Co. e Heath & Co., autor de várias obras literárias e "artista topográfico", tendo estagiado no atelier de Sir Francis Goodwin. Foi também membro fundador do Royal Institute of British Architects, colaborou com Sir Carles Barry nos planos arquitectónicos do edifício do Parlamento inglês e expôs na Royal Academy of Arts, tornando-se conhecido pelos seus trabalhos topográficos utilizados para ilustrar narrativas de viagens. Sendo Allom um viajante ávido, não se sabe ao certo quando e como (ou se) terá visitado o Extremo Oriente, tendo "bebido influências" nas obras de William Alexander e de Augusto Borget, relativamente a este último no que diz respeito às paisagens do Templo da Barra e de Macau vista das fortalezas de Heang-Shan. Esta mesma semelhança dá origem à teoria de que Allom nunca visitara a China. O artista ilustra o texto China Illustrated, its Scenery, Architecture, Social Habits, Etc. (1845, prefácio de 1843) do reverendo George Neweham Wright, publicado pouco depois da primeira Guerra do Ópio. Das obras do ilustrador, destacam-se "The Pr(a)ia Grande, Macao", "Façade of the Great Temple, Macao", "Chapel in the Great Temple, Macao", "Macao, from the Forts of Heang-Shan", "Dinner Party at a Mandarin's House", "Festival of the Dragon-Boat, 5th Day of the 5th Moon" e "China Opium Smokers" em China Illustrated (1843-1847), entre outras paisagens de Cantão e diversas localidades chinesas. Thomas Allom viria a falecer em Barnes, decorria o ano de 1872."
Texto de Rogério Miguel Puga in Ditema - Dicionário Temático de Macau. Vol. I, Universidade de Macau, 2010.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vistas aéreas de Macau








Bilhetes Postais Ilustrados editados por Sanyutang, Ltd. (Hong Kong).  
As fotografias são de Wong Wai Hong.

Embora editados em 1992 (os 4 primeiros) e em 1995 (os 3 restantes), as fotografias são anteriores a essas datas. Provavelmente dos finais dos anos 80 ou início dos anos 90. Os lagos - Nam Van e Sai Van - ainda não tinham sido construídos (só foram projectados em 1991). A ponte da Amizade foi inaugurada em 1994 e na fotografia (penúltimo postal) é visível o início da sua construção, que ocorreu em Junho de 1990. Quanto ao aeroporto, só foi inaugurado em Novembro de 1995.


sábado, 24 de setembro de 2011

Casa do Mandarim






Casa do Mandarim. Setembro de 2011

Foi a residência de Zeng Guanying (1842-1921) e terá sido construída na segunda metade do século XIX. É a Casa do Mandarim, que ocupa uma área com cerca  de 4 mil metros quadrados. O conjunto residencial é "composto por um edifício de entrada, pátios, casas para serviçais e a área residencial propriamente dita".
Predominantemente chinês, o conjunto de edifícios apresenta, contudo, influências ocidentais bem como indianas, nomeadamente no uso das placas de madrepérola nas janelas. 

domingo, 11 de setembro de 2011

Redes de pesca em Nam Van

Redes de Pesca. Nam Vam. 1982
Fotografia de Fong Chi Fung do catálogo da exposição Ontem para Sempre.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fong Chi Fung, fotógrafo de Macau

Número de Circo. 1962

Tendinha de Comidas ao ar livre. Dai Pai Dong. 1967
in Ontem para Sempre. Fotografias de Macau por Fong Chi Fung.

Fong Chi Fung (1935-2008), galardoado com o título de "Artista Fotógrafo",  foi membro da Sociedade de Fotografia de Macau, da Royal Photographic Society of Britain, da Photographic Society of Kowloon, do International Salon of the Photographic Society of Wilmington, nos Estados Unidos, e membro da Sociedade de Fotografia de Shenzhen, na China. Professor na Escola Primária da Ilha Verde e, mais tarde, na Escola Secundária dos Filhos dos Operários, decidiu, nos anos 60, aprender fotografia de modo a registar as actividades dos estudantes, criando um vasto arquivo fotográfico. "Fascinado pela fotografia, no início dos anos 60 do séc. XX, Fong Chi Fung tornou-se membro da Sociedade de Fotografia de Macau, aprendendo, posteriormente, a revelação, impressão e técnicas fotográficas. Dedicou-se a esta arte, fazendo da fotografia a sua companheira de vida. A maioria dos 4 mil rolos tem Macau como cenário, sendo os primeiros trabalhos do mestre basicamente realistas. Para além das fotografias tiradas aos alunos da Workers' Children High School (Escola Secundária dos Filhos dos Operários), onde ele próprio foi professor, a lente de Fong captou o nascer e o pôr do sol, as ruas e vielas, a baía ou os aterros entre muitos e muitos temas". in Catálogo da Exposição Ontem para Sempre. Fotografias de Macau por Fong Chi Fung.

Pescador de Margem

Ah quem me dera
estar aí
ter um rio
só para mim
Lentamente
armar a rede
e içar a esperança
Firme
sem estar em terra
Estendido na água
sem andar à deriva
E viver!
De costas voltadas
como tu

Fernando Sales Lopes. Pescador de Margem. Livros Oriente. 1997

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Entrara num já raro mong-yu de pescador de margem"


"Deambulando pela marginal da Praia Grande, entre casas e rio, desperta-me a curiosidade uma tosca cabana com as traseiras para a rua e assente em estacas bons cinco metros acima da água. Como resistirá aos tufões, assim frágil, aquela estranha construção que um ventinho mais impetuoso parece capaz de derrubar?
O velho chinês que ali vive deixa-me entrar. Que cheiro a peixe e que confusão!... Tabuleiros de plástico, cestos de bambu, roupa, cordas, baldes - tudo a esmo. Numa gaiola saltita um pássaro. Uma panela fumega num fogãozito a petróleo, cozinhando-se sabe-se lá que esquisito alimento. À cabeceira da cama, retratos antigos de gente sisuda. A um canto, um altarzinho com uma divindade qualquer.
Entrara - como me informarão mais tarde - num já raro mong-yu de pescador de margem, todo aberto para a barrenta amplidão do rio, onde a ilha da Taipa se dilui à distância.
Uma sólida prancha também escorada em estacas alonga-se sobre a calma superfície líquida, com uma avantajada rede suspensa na extremidade. Através de uma roldana, o velho chinês faz descer a rede com lentidão. A técnica consiste em deixar o lado esquerdo um pouco acima do nível da água. Ao tocarem na rede, os peixes voltam para trás, provocando leves ondulações que alertam o velho. Então, do interior da cabana, ele iça a grande rede gotejante, manobrando a roldana à força de braços. Depois trota ligeiro pela prancha e, com uma rede mais pequena, retira os peixes debatidiços. (...)"
Altino do Tojal. "O Pescador", in Histórias de Macau, Edição Novosmeios, 1991



"Uma sólida prancha também escorada em estacas alonga-se sobre a calma superfície líquida, com uma avantajada rede suspensa na extremidade".
Pesca com rede quadrada na Praia do Bom Parto. 
Fotografia de José Neves Catela (anos 30-40 do século XX) do catálogo da exposição Macau, Memórias Reveladas, Museu de Arte de Macau, 2001

quarta-feira, 20 de julho de 2011

"Derradeiro Refúgio"

 Calçada Central de São Lázaro. 1945
 Praça de Lobo d'Ávila, na Praia Grande, 1945
 Rua da Prata, 1945
Capela de São Tiago, 1945

George Smirnoff. Porto Seguro. Museu de Arte de Macau


"(...)
- Cem anos depois do inglês George Chinnery, veio parar a Macau um russo chamado George Smirnoff, George Vitalievitch Smirnoff. Nascido em Vladivostok em 1903, fugiu com a mãe para a Manchúria, aos doze anos de idade, para escapar à revolução que destruiria a Rússia dos czares. Veio a guerra sino-japonesa, iniciada, como sabe, com a invasão nipónica da Manchúria, e George Smirnoff refugiou-se no norte da China. Aí pintou as suas primeiras aguarelas. Mas as tropas japonesas avançavam e ele fugiu para Hong Kong. Em 1941 os japoneses ocuparam Hong Kong e o pobre russo escapou-se para Macau. Meu pai, que o conheceu bem, dizia-me que ele era uma figura triste, solitária. Para sobreviver dava lições de desenho e aguarela. Produziu uma enorme colecção de aguarelas, que estão hoje quase todas no museu Luís de Camões. Não há recanto de Macau daqueles tempos que George Smirnoff não tivesse pintado. Trabalhava febrilmente. Depois da guerra, em 1947, lançou-se duma janela alta para a rua. Contava apenas quarenta e quatro anos.
- Esse salto foi o seu último refúgio - comentei.
Alberto Kuan concordou gravemente:
- Bem se pode dizer que foi. George Smirnoff tinha uma solidão gelada dentro dele, a solidão do desterrado. Minha filha diz que os russos têm uma sensibilidade especial e sofrem mais do que a outra gente quando longe do seu país. Smirnoff sofria decerto mais agudamente ainda, porque era artista, um artista faminto. A suacvida aqui foi de solidão e de fome. A fome dele amansou-a algumas vezes meu pai com umas tigelas de arroz. Como lhe disse, meu pai conhecia-o bem e chegaram a ser amigos. Meu pai fazia sabão, um sabão grosseiro, e vendia-o de porta em porta. Nunca me contou como nasceu a amizade com o russo, mas ela existiu e foi sólida. Um dia, George Smirnoff presenteou meu pai com uma aguarela, confidenciando-lhe que era o seu trabalho mais conseguido. Meu pai guardou-a sem ligar muito, pois era um pobre chinês sem luzes e nada percebia de arte. Uma semana depois o russo atirou-se da janela. A partir daí meu pai sentiu um respeito muito grande pela aguarela. Em criança surpreendi-o mais de uma vez ajoelhado diante dela, batendo cabeça, como aqui se diz, que é o mesmo que curvar-se perante imagens sagradas. À hora da morte recomendou-me que nunca me desfizesse daquela aguarela, porque era o grito dum amigo do peito. Ele disse mesmo assim: "o grito". Vou mostrar-lhe agora a aguarela de George Smirnoff.
O meu anfitrião ausentou-se e voltou pouco depois. Estendeu-me com extremos cuidados uma aguarela. Também eu, com extremos cuidados, lhe peguei.
Era uma ruela de casas sórdidas, feita de pinceladas sombrias. As janelas eram avermelhadas, como se dentro lavrassem incêndios. Da janela mais alta precipitava-se um corpo de fumo, esguio, de braços abertos, como se pretendesse voar, ideia transmitida de forma tão sugestiva que cortava a respiração. Mas o mais impressionante era a cabeça. Destacava-se, desgrenhada, desmesuradamente grande, e os olhos arregalados pareciam entranhar-se avidamente nos meus.
- Como se em mim vissem a Rússia... - surpreendi-me a murmurar.
- George Smirnoff  pintou esta aguarela poucos dias antes do suícidio, pelo que bem pode dizer-se que antecipou artisticamente, com o pincel, a sua própria morte - disse Alberto Kuan. - Os museus e os coleccionadores particulares desconhecem a existência duma tal relíquia. Porque é uma relíquia... Por dinheiro nenhum a venderia, fosse a quem fosse. Quando eu morrer, ficará para minha filha, que é uma rapariga sensata e - aiá!... - sabe mais de pintura do que eu e tem mesmo uma certa habilidade para o desenho (...)"
Altino do Tojal. "Derradeiro Refúgio", in Histórias de Macau. Editora Novosmeios, 1991



Pátio da casa onde residiu George Smirnoff na Rua da Prata. 1945.

Em Macau, tal como muitos outros refugiados, Smirnoff permaneceu alojado no Hotel Bela Vista até se estabelecer na Rua (Pátio ?) das Seis Casas, mudando-se, depois, para a Rua da Prata, "rua que o artista pintaria em duas aguarelas e um pátio, o seu próprio". Com formação em Arquitectura, Smirnoff era exímio no desenho e as suas pinturas, sobretudo de edifícios e igrejas de Macau, retratam o ambiente da cidade nos anos 40 do século passado. Foi seu patrono o Dr. Pedro Lobo, líder da comunidade portuguesa e grande mecenas das artes, que lhe encomendou várias pinturas, que foram depois doadas à Secção Artística e Etnográfica do Museu Comercial e Etnográfico de Macau (que mais tarde, em 1960, passa a designar-se Museu Luís de Camões).