IV
Uma suspeita que se justifica
Não era, porém, Lau-Sin homem que desanimasse às primeiras contrariedades e, munido da licença necessária e de tudo quanto lhe era preciso, partiu no dia onze da segunda Lua, com destino a Fu-Chau.
A viagem decorreu sem qualquer incidente e, logo que chegou à cidade, Lau-Sin dirigiu-se à Hospedaria "A-Chau", situada na Avenida Marginal, tendo-se instalado num quarto modesto do segundo e último andar.
Conhecedor, como era, da cidade e amigo íntimo do chefe da Polícia local, começou imediatamente, incógnito, a inspeccionar os livros de registo das hospedarias mais conhecidas, indagando da proveniência dos hóspedes registados havia cerca de um mês e meio.
Ao sair da Hospedaria "In-Teng", uma das mais frequentadas, o experimentado polícia teve o pressentimento de que estava sendo seguido por alguém e, fingindo-se desprevenido, ao virar a primeira esquina que encontrou, correu apressado e ocultou-se no vão da primeira porta que se lhe deparou.
A suspeita confirmava-se: Viu chegar apressadamente um homem, que hesitou à embocadura da rua, olhando como em procura de alguém, o qual ocultava o rosto com uma ventarola de penas, que o tempo, ainda frio, não exigia.
Sem ser visto, Lau-Sin fixou o aspecto do homem em questão, e determinou certos sinais pelos quais poderia reconhecê-lo em outro qualquer momento, sem dificuldade.
O homem, tendo perdido a pista do polícia, encaminhou-se precipitado pela rua adiante e Lau-Sin, com a calma própria de polícia experimentado, começou cautelosamente a seguir-lhe os passos.
Ao fim da rua estreita e tortuosa, surgia, como amplo porto ao fundo de um canal, um extenso descampado que dava vista sem limite às estreitas e gradeadas janelas do Templo de "Tin-Hau" que o dominava de sobre um pequeno morro, que se erguia a pino da linha do casario último da rua que terminava.
Dava acesso à Bonzaria uma pequena escadaria em ziguezague e, no momento em que o polícia chegou ao fim da rua, viu o homem, que perseguia, galgar os degraus a dois e dois, num à vontade que bem denunciava quão familiar lhe era o local.
Em face da prudência, que o momento aconselhava, Lau-Sin retrocedeu e vagarosamente dirigiu-se à hospedaria, onde estava instalado, para descansar desse árduo dia de trabalho e pensar maduramente no que deveria fazer, a fim de investigar o que se passava.
Francisco de Carvalho e Rêgo. O Caso do Tesouro do Templo de A-Má. Macau, Imprensa Nacional, 1949
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